domingo, 23 de maio de 2010

A transitoriedade da vida retira-lhe o sentido? (2)

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Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar contra a fome.

O problema do sentido da vida é sinónimo, para muitas pessoas, de angústias ditas “existenciais” ou, então, “filosóficas”. Este último termo assume, neste contexto, uma conotação negativa, significa um devaneio infrutífero, cujo resultado - previsível e inevitável - é a dúvida.

Reflectir sobre a finalidade da vida é algo que, ao nível do senso comum, ocorre apenas em momentos difíceis ou de mudança, por exemplo. Contudo, em Filosofia, é um problema, tal como outros, acerca do qual se podem defender, argumentando, diferentes pontos de vista.

Se vamos todos, mais cedo ou mais tarde desaparecer, assim como aquilo que nós fazemos, para quê esforçar-nos por realizar certas actividades e alcançarmos determinados objectivos? Não será inútil e uma enorme perda de tempo? Se vamos deixar de existir, como refere um dos personagens - Alvy - do filme de Woody Allen (no vídeo do post anterior), para quê, então, fazer os trabalhos de casa?

Podemos responder que a brevidade da vida é, antes pelo contrário, um bom motivo para pensar no modo como gastamos o nosso precioso tempo e nos objectivos que são para nós valiosos.

Mas  esses objectivos terão todos igual valor?

Imaginemos alguém que faz depender o sentido da sua vida do prazer pessoal de possuir e ostentar roupas de marca e telemóveis de última geração. E suponhamos alguém que trabalha numa associação de voluntariado - como por exemplo Isabel Jonet do Banco Alimentar contra a Fome - a ajudar pessoas carenciadas de todo o país. No primeiro caso a felicidade é um fim em si mesma e esgota-se no prazer pessoal. No segundo caso, há a realização de actividades, cujo valor ético, não é meramente subjectivo. É claro que a prática destas acções solidárias poderá ter, eventualmente, como consequência um sentimento de satisfação ou de felicidade.

Os filósofos defensores das teorias objectivistas consideram que para a vida ter sentido não basta a pessoa sentir e pensar que isso acontece. É necessário analisar o valor objectivo das actividades realizadas, este pode ser ético, cognitivo ou outro. Assim sendo,  só o segundo exemplo ilustra uma vida com sentido.

Concorda com esta perspectiva? Porquê?

3 comentários:

Pedro Ricardo Tordo disse...

Cara Sara:

O seu post é bom porque faz pensar. Deixo-lhe algumas questões, pensadas um pouco à pressa:

A avaliação desses objectivos e do seu valor não será irremediavelmente subjectiva? Se um adolescente afirmar que fazer surf tem tanto valor como ajudar os outros como demonstrará a superioridade ética da ajuda? Quem diz fazer surf diz estudar filosofia ou ver horas de cinema por dia… Creio que o problema se põe seja qual for o exemplo de actividade objectivamente valiosa que se apresente. Por exemplo: o que será objectivamente mais valioso, estudar filosofia ou ver horas de cinema por dia?

Sara Raposo disse...

Pedro:
Quanto à sua questão: penso que não estamos condenados à subjectividade no domínio da ética, ou seja, nem tudo o que fazemos vale o mesmo e é possível discutir e argumentar, apresentando razões para defender que certos valores ou acções são mais racionalmente justificáveis do que outras. Significa que fazer surf, só porque me dá prazer, pode fazer-me feliz, mas ao avaliarmos, em termos éticos, o valor dessa actividade pode-se argumentar que essa acção é realizada por motivos egoístas e, portanto, ajudar quem precisa será uma acção objectivamente com mais valor moral.

Há actividades mais valiosas do que outras. Contudo, importa saber qual a finalidade com são realizadas, por exemplo: eu posso estudar Filosofia porque valorizo conhecimento e pretendo utilizá-lo na minha relação com os outros: escrevendo livros ou dando aulas, por exemplo. Neste caso, trata-se de uma actividade cujo valor não resulta apenas de uma apreciação subjectiva e pode ser, de facto, reconhecido por outros. Imaginando que eu vejo horas de cinema por dia, posso fazê-lo apenas devido ao prazer imediato ou, então, com o propósito de aprender a ser cineasta. Segundo uma perspectiva objectivista, não basta a minha satisfação pessoal – que acontece no primeiro caso – é necessário que a minha actividade se oriente por valores como o conhecimento, neste caso, e se exteriorize em algo que possa ser apreciado por outros.

Respondi às suas questões?
Cumprimentos.

Pedro Ricardo Tordo disse...

Sara:

Respondeu. Mas quando o que está em causa é o sentido da vida a única avaliação relevante das acções será a avaliação ética? A realização pessoal, profissional, intelectual...não serão também critérios relevantes?