domingo, 17 de janeiro de 2010

O livre-arbítrio existe, pois temos consciência dele

Um dos argumentos libertistas para defender a existência do livre-arbítrio é o chamado argumento da experiência (já referido aqui). O filósofo Corliss Lamont apresentou-o do seguinte modo: há uma intuição vulgar imediata e poderosa, que é partilhada por virtualmente todos os seres humanos de que existe liberdade de escolha. Esta intuição parece-me tão forte como a sensação de prazer ou de dor; e a tentativa dos deterministas provarem que esta intuição é falsa é tão artificial como a pretensão (…) de que a dor não é real” ("Liberdade da vontade e responsabilidade humana", tradução de Vítor João Oliveira, no blogue Qualia).

Dito por outras palavras: temos consciência que temos livre-arbítrio e isso mostra que este existe.

Em primeiro lugar deve-se sublinhar que não se trata da experiência de um pequeno número de pessoas, mas de muitas - provavelmente todos os seres humanos. Os libertistas sugerem que é implausível que tantas pessoas estejam iludidas.

A intuição ou experiência do livre-arbítrio ocorre em circunstâncias diversas.

A intuição ou experiência do livre-arbítrio ocorre quando fazemos escolhas, como por exemplo quando escolhemos entre ocupar a tarde de domingo lendo um livro, vendo um filme ou dando um passeio. Ao efectuar uma escolha como essa sentimos que escolhemos aquilo que queremos. Não sentimos que estamos a ser pressionados e forçados a agir de um certo modo. Mas sentimos essa pressão e constrangimento quando somos agarrados por uma pessoa mais forte e empurrados numa direcção que não queríamos seguir. Isso mostra, segundo o Libertismo, que no primeiro caso houve livre-arbítrio.

A intuição ou experiência do livre-arbítrio também ocorre quando deliberamos. Muitas vezes, antes de decidir reflectimos acerca das alternativas e ponderamos as vantagens e desvantagens de cada uma delas. Quando deliberamos não sentimos que aquilo que vamos depois fazer seja inevitável e esteja predeterminado. Pelo contrário, sentimos que tudo está em aberto, que podemos ir por um caminho ou por outro - e daí a necessidade de deliberar para perceber qual deles é o melhor. Isso mostra, segundo o Libertismo, que nesses casos houve livre-arbítrio.

A intuição ou experiência do livre-arbítrio também pode ocorrer quando resistimos a um impulso ou necessidade, como por exemplo a fome. Não podemos deixar de sentir fome, mas podemos decidir não comer. Qualquer pessoa pode decidir adiar algumas horas a próxima refeição. Algumas pessoas (como as que fazem greves de fome) podem mesmo decidir nunca mais comer, embora isso as faça adoecer e depois morrer. Considerações semelhantes podem ser feitas relativamente à resistência a influências sociais, cuja existência não podemos evitar mas a quem podemos desobedecer. Quando dizemos “não” a tais impulsos e influências não sentimos que estamos a ser comandados por forças que não controlamos, mas sim que estamos a fazer aquilo que queremos, aquilo que escolhemos fazer. Isso mostra, segundo o Libertismo, que nesses casos houve livre-arbítrio.

Mas mostrará mesmo? Podem-se opor diversas objecções a este argumento, como se poderá brevemente verificar na caixa de comentários do post Argumentos a favor do Libertismo.

Aminatu Haidar

Aminatu Haidar esteve várias semanas em greve de fome, para defender o direito do Sara Ocidental (ocupado por Marrocos) à independência e para conseguir que o governo marroquino anulasse a proibição de entrada na sua terra.

5 comentários:

Anónimo disse...

A minha objecção ao argumento de experiência é que, segundo um Determinista Radical o facto de continuar a ler o artigo, no caso do exemplo que deu, significava que o indivíduo tinha interesse no que estava a ler e que naquela situação não lhe era oferecido outra escolha. Admitindo esta teoria é errado pensar que essa pessoa é livre de parar ou continuar a ler.
Todos nós já tivemos a experiência de estarmos a ler um texto ou a ver um filme que realmente gosta-mos e de sermos forçados a parar por condição de outrem, ou porque somos chamados por alguém, ou porque recebemos uma mensagem no telemóvel, etc.
Isto prova que as actividades e atitudes que tomamos no dia-a-dia são influenciadas pelas circunstâncias antes de agirmos.
Na minha opinião isto não acontece sempre, nós temos o poder de decidir de continuar a ler o texto e a ver o filme apesar de termos recebido essa mensagem ou de alguém nos chamar. Sendo seres racionais nós temos o “poder” de tomar decisões, usando a consciência e a responsabilidade apesar de estarmos a ser influenciados por alguém. As nossas escolhas, na minha opinião, desde que coincidam com o nosso desejo não interessa se foram condicionadas ou não, são nossas, logo somos nós os responsáveis!

A minha objecção á responsabilidade, seguindo a teoria dos Deterministas Radicais é que, não é necessário haver livre-arbítrio para existir responsabilidade moral, recorrendo ao exemplo que deu, deve-se condenar, no caso do Hitler, por ter morto milhares de judeus, e elogiar Raoul Wallenberg, por ter salvado milhares de pessoas perseguidas pelos Nazis, porque no futuro estas atitudes contribuíram para a educação de outras pessoas e funcionará para evitar que estas errem.
Esta teoria é baseada na opinião de que não existe responsabilidade moral, ou seja, que as pessoas não têm culpa das atitudes que tomam devido ao facto de serem condicionadas por outras, mas também se defende que, apesar disto, os actos errados devem ser responsabilizados.

Sendo libertista a minha opinião é que, os deterministas radicais se contradizem bastante e que são “cínicos”, ou seja, “não existe responsabilidade moral, mas os actos têm que ser responsabilizados” isto fará alguma sentido? Acho que não! Ninguém gosta que, um lado lhe afirmem uma coisa e que depois façam e digam outra que se contradiz totalmente.




Ana Las Heras
nº3 10ºE

Maria Ribeiro disse...

Carlos Pires: espero não estar a meter-me num "vespeiro" ,com tantos filósofos por aí... Gosto do seu espaço, porque me obriga a pensar e a desafiar-me.
ABRAÇO de
lusibero

Carlos Pires disse...

Ana:

O comentário deveria ter sido feito no outro post, mas não faz mal. respondi lá.

Carlos Pires disse...

Maria:

obrigado! A Filosofia embora se faça através de argumentos e objecções não precisa ser um "vespeiro", pois discutir as ideias de uma pessoa não implica desrespeitá-la.
Espero que continue a encontrar aqui motivos de interesse.

Anónimo disse...

Se de tal modo pararmos o filme por influência de um SMS ou alguém que nos chamou e influência da nossa infância da forma como fomos ensinados que de tal modo ver um filme seria menos importante K observar em primeiro a mensagem pois poderia ser uma emergência ou talvez um chamamento o visualizador parou o filme porque até na sua infância o seu pai o chamou enquanto ele via um filme e quando se apercebeu a sua mãe tinha partido uma perna e de tal modo ficará traumatizado que tomará a decisão em primeiro lugar do que lhe ensinaram.