terça-feira, 5 de janeiro de 2010

As pessoas agem mal porquê?

Eurípides, Hipólito A citação foi retirada daqui.

Eurípides (480-406 a.C) escreveu várias tragédias: Electra, Orestes, entre outras. Numa delas, chamada Hipólito, uma das personagens principais, Fedra, diz o seguinte:

- “Mulheres de Trezena, que habitais este derradeiro promontório do país de Pélops, já tenho reflectido, na duração arrastada da noite, sobre aquilo que destrói a vida dos mortais. E o que me parece é que não é devido à natureza da sua compreensão que praticam o mal; muitos até pensam muitíssimo bem. Mas devemos considerar o seguinte: nós reconhecemos o que está certo e compreendêmo-lo, só que não o pomos em prática; uns, por inércia; outros, porque põem à frente do bem outra coisa, um prazer qualquer.”*

Mas será mesmo assim?

*Eurípides, Hipólito, tradução de Frederico Lourenço, Lisboa, 2005, Edições Colibri, pp. 39-40.

4 comentários:

Anónimo disse...

Uma pessoa pode agir mal sem ser por inércia ou por causa de um prazer.
Uma pessoa pode agir de forma errada porque essa é a maneira que arranjou algures na sua vida de lidar com certos problemas que tem. É a sua forma de se defender e de sobreviver. No fundo, age mal... mas não é por mal.
O que não impede que possa magoar e prejudicar de diversas formas uma pessoa que com ela se cruze.

Fernanda Colaço

hugoP disse...

Penso eu que este pensar "bem" só acontece porque as pessoas pensam na forma como gostariam que fossem tratadas, mas este valor atribuído a este pensar é falso. Existe nessa forma de pensar um egoísmo estampado, e pelo fato dessa natureza de pensamento ser fruto de um mal, já perde totalmente seu valor de ser um pensar bem.
Os que "agem" por inércia, simplesmente não deixam de apenas fazer o bem, por muitas vezes são cúmplices dos que fazem mal, e os que agem por necessidades ou pela falta de inconsciência, no fundo não acho que seja mal, pois qualquer ato que não seja conscientemente livre, que não dependa de mim fazer ou evitar, é um ato que no fundo não é meu, não procede de mim, tal ato não pode ser identificado como moral ou imoral.

Obrigado pela ajuda na minha batalha contra as configurações do Blog (estava perdendo de goleada) e pela visita, mas é questão de tempo para o bicho de sete cabeças ser domado.

abraços...

Sara Raposo disse...

Fernanda:

Agradeço o seu comentário. Como refere, a ideia transmitida no texto (sabemos o que é o bem mas podemos optar, por diferentes motivos, por não praticá-lo) nem sempre se aplica. Em certas circunstâncias, por exemplo, pode-se agir mal com consciência (e não por causa da inércia ou do prazer), optando entre o mal menor.

O facto da intenção com que a acção se pratica ser ou não relevante depende do critério que utilizamos para distinguir as acções boas das más. Por exemplo: se este for os resultados produzidos pela acção praticada, a intenção não conta (Stuart Mill defende este ponto de vista). Como diz um ditado popular: de boas intenções está o Inferno cheio.

Mas, há filósofos, como Kant, que defendem que uma acção é moral dependendo da intenção com que é praticada.

Cumprimentos.

Sara Raposo disse...

Hugo:

Agradeço o seu comentário. Sobre os diferentes critérios que permitem considerar um acto moral ou imoral, pode ler neste blogue acerca das perspectivas opostas de Kant e Stuart Mill (como referi no comentário anterior).

Quanto à relação entre liberdade e responsabilidade existem posições diferentes, consoante a teoria filosófica que adoptarmos, por exemplo: libertismo ou determinismo radical.

Cumprimentos.