Num argumento, palavras e expressões como “Pois” e “Dado que” normalmente indicam que a frase a seguir apresentada é uma premissa. Palavras e expressões como “Logo” e “Por conseguinte” normalmente indicam que a frase a seguir apresentada é a conclusão.
No entanto, a análise de argumentos não é uma tarefa automática que se possa fazer seguindo uma receita. É preciso pensar. No post “O que é um argumento?” foram analisadas diversas situações que demonstram essa necessidade de pensar quando se analisam argumentos e se tentam identificar as premissas e a conclusão. Eis outra situação.
As palavras e expressões que habitualmente funcionam como indicadores de premissa ou de conclusão podem, em certos contextos, ter outros sentidos.
Considere a esse respeito o seguinte argumento (que é apresentado de modo colectivo por várias personagens do livro infantil “Olha antes de saltar”, da série Winnie the Pooh, numa tentativa de convencer outra personagem a ser mais cuidadosa):
“- Tigre, deves ser mais cuidadoso quando andas a saltar e a pular pela floresta – disse o Coelho.
- Se caíres em cima de uma tartaruga ela esconde-se na carapaça – disse o Winnie.
- Se assustares uma doninha ela deita-te aquele líquido malcheiroso – acrescentou o Piglet.
- E se pisares um cardo magoas-te na pata – concluiu o Igor. Além disso, podes estragar o meu jantar.”
O narrador diz “concluiu o Igor”, mas isso não significa que o Igor tenha apresentado a conclusão do argumento desenvolvido pelas personagens. A conclusão foi apresentada pelo Coelho e é: “deves ser mais cuidadoso quando andas a saltar e a pular pela floresta”. Naquele contexto, dizer “concluiu o Igor” significa apenas que ele foi o último a falar – e ao fazê-lo apresentou duas razões a favor da conclusão e não a conclusão.
Outro exemplo. A palavra “Então” é um indicador de conclusão e pode em qualquer argumento substituir o “Logo” ou o “Portanto” sem alteração de sentido. Todavia, essa palavra surge em imensos argumentos sem ter a função de indicador de conclusão: é o caso dos argumentos que incluem proposições condicionais. Considere a esse respeito o seguinte argumento: "Se a liberdade de expressão é um direito dos cidadãos, então não deve existir censura. Ora, a liberdade de expressão é de facto um direito dos cidadãos. Logo, não deve existir censura.” Como é evidente, a conclusão do argumento é a frase que se encontra a seguir à palavra “Logo” e não a frase que se encontra a seguir à palavra “então” (que é a consequente da proposição condicional que constitui a primeira premissa do argumento – um Modus Ponens ou Afirmação do Antecedente).
Assim, para percebermos se, num argumento, uma frase é uma premissa ou uma conclusão temos de avaliar as relações entre as ideias (ou proposições) expressas por essa e pelas outras frases. Uma frase não é uma conclusão simplesmente porque é antecedida por uma palavra que normalmente funciona como indicador de conclusão, mas sim porque expressa ideias que – pretende o argumento – derivam das ideias que servem de premissas.
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