“Os Juncos Silvestres” é um filme que fala da adolescência, misturando diversos ingredientes, tais como: amor, política, homossexualidade, discriminação, natureza…
A adolescência é uma fase do nosso desenvolvimento enquanto seres humanos que marca a transição entre a infância e a idade adulta. É nesta etapa que metamorfoseamos o nosso ser e esculpimos o que seremos no futuro. A nossa identidade e personalidade estão a ser aperfeiçoadas e, portanto, nenhum adolescente é “estável”.
Pelo que li, ainda há dúvidas acerca das causas que potenciam a orientação sexual. Não se sabe se esta se deve a motivos genéticos ou se é estabelecida durante a infância e influenciada por factores exteriores. Provavelmente, a orientação sexual é determinada não por um factor mas por um conjunto deles, tanto genéticos, como hormonais e ambientais.
Um aspecto que considero relevante analisar no filme “Os Juncos Silvestres” é que, para além da personagem principal, François, ser realmente aquela cuja orientação sexual já está definida - homossexual - este aparece-nos como sendo um rapaz sensível e frágil, ao contrário das outras personagens masculinas que, apesar de já terem vivido experiências homossexuais, essas não passaram de meras fases de experimentação. Assim sendo, no filme, é-nos apresentada uma ideia generalizada acerca dos rapazes homossexuais: os gays são efeminados. Não nego que existam gays efeminados, mas também existem rapazes heterossexuais efeminados. O filme acaba por fomentar um estereótipo, mesmo que não premeditado: como é um gay.
As reacções que este tipo de filmes causa nos rapazes acabam por ser hilariantes (pelo menos para mim!). Nos momentos que poderiam provocar algum tipo de “desconforto”, eu prendia a minha atenção nos meus colegas (rapazes). Com uma expressão chocada e a mão colada ao rosto subitamente… Só lhes faltava esconderem-se debaixo da mesa. Não é todo o rapaz que aceita a homossexualidade masculina de ânimo leve. Porque será? Será por sentirem a sua virilidade ameaçada? Não faço a mínima ideia, mas sempre posso especular. Não querendo generalizar, penso que as raparigas costumam ter uma maior tendência para o sentimentalismo do que os rapazes, ao ponto de se mostrarem mais condescendentes neste tipo de assuntos. Podemos remeter este facto para a educação. Há uma pressão cultural nos rapazes diferente das raparigas. Eles são direccionados para assuntos e pensamentos mais práticos, enquanto as raparigas dão mais importância aos sentimentos – inclusive o amor. O filme “Os Juncos Silvestres” acaba também por ter esse ingrediente, ao qual alguns rapazes não dão tanto valor: são só lamechices. Num debate entre rapazes e raparigas, quer seja acerca de gays ou lésbicas, provavelmente as raparigas apelariam muito mais ao factor sentimental do que os rapazes. Por outro lado, se este filme fosse sobre duas raparigas lésbicas, os rapazes não teriam tanta repulsa, ou um colega meu não teria dito: “Se vamos ver um filme sobre essas coisas porque é que tem de ser sobre gays? Podia ser um filme de lésbicas!”. Não estou de forma alguma a discriminar ou censurar. O certo é que, repito, não querendo generalizar, acaba por ser um facto.
Sejamos sinceros, há uns tempos atrás, demonstrações de afecto na via pública – entre um homem e uma mulher, não eram aceites pela sociedade e podiam até ser punidos. Os tempos mudaram mas desde sempre que todas as sociedades assentam em determinados padrões, estes acabam por nos influenciar e orientar (conscientemente ou não). E tal como crescemos segundo determinados padrões, também existem normas que não podemos negar. Quando digo normas não estou a dizer “Os meninos têm de gostar de meninas e as meninas têm de gostar de meninos”. Não! Imaginemos: num jardim só costumam crescer flores vermelhas, mas de quando em vez nascem flores amarelas. A norma é brotarem vermelhas, o que não significa que não possam nascer amarelas. Vejamos outro exemplo: temos um saco repleto de moedas douradas, mas três delas são pretas. A norma é serem douradas, mas a verdade é que também lá estão três moedas pretas. Por norma, ninguém anda despido na rua, mas há malucos para tudo. E quando digo “malucos” já estou a partir no princípio que andar despido na via pública não é normal.
Se analisarmos isto de uma outra perspectiva, no fundo, a discussão destes assuntos acaba por ser uma tentativa de elevar a diferença e igualá-la à norma. Estamos a tentar que as moedas pretas sejam tão naturais naquele saco como as douradas, quando não o são. Estamos a tentar que a homossexualidade seja tão natural como a heterossexualidade. Por norma, e pelo que é natural, os machos acasalam com as fêmeas para procriar. Aqui temos um tipo de cartas na mesa, mas ainda nos falta uma parte do baralho. A bissexualidade, a heterossexualidade, a homossexualidade, a assexualidade... não são fantasias, caprichos ou escolhas. Quando falamos de seres humanos temos de ter em conta factores muito mais complexos, como: sentimentos, relações inter-pessoais, educação, religião… Estamos a falar de pessoas e todas as pessoas têm direito a amar e ser amadas. Ou não? Chegada eu a este ponto, talvez tudo isto só demonstre a minha ignorância.
Les Roseaux Sauvages é um filme interessante, do ponto de vista social, político e pedagógico. Consegue causar diversas sensações e, quer queiramos quer não, não é um tipo de filme que rapidamente esqueçamos, quer pela fotografia (é belissíma), quer pelos actores, quer pelo sacrifício que é ter de vê-lo numa aula (com alguns colegas a reagirem chocados a certas imagens), quer pelo excelente argumento…
Catarina Gil, 11ºA
2 comentários:
WOw! O texto da Catarina está muito giro.
Gostei imenso! Fez uma reflexão interessante e achei engraçado ela ter reparado na reacção dos nossos colegas sobre o filme!
Um trabalho muito bom e bastante original! :D
Obrigada Anastasia!
Concordo: a Catarina aproveitou a reacção de alguns colegas a certas imagens do filme para se pôr a pensar. Algumas das causas explicativas que ela sugere são bem interessantes, embora discutíveis. A Anastacia acha que a Catarina está certa ou nem por isso?
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