No âmbito do projecto de Educação Sexual, foi-nos pedido que elaborássemos uma apreciação crítica do filme “Os Juncos Silvestres”, visionado nas aulas a propósito de um dos subtemas tratados: a identidade sexual e a adolescência.
Começo por referir que este não é o único tema do filme e não foi, sinceramente, aquilo que me chamou a atenção. Apesar disso, a descoberta da identidade sexual durante a adolescência é, sem dúvida, um ponto importante, especialmente no que diz respeito ao personagem François. Este não tinha qualquer noção de que era homossexual até ter tido uma experiência sexual com Serge. Após a descoberta da sua identidade sexual, François vê-se alvo de preconceitos por parte dos seus amigos, Henri e Maité, esta embora não seja uma pessoa preconceituosa (pelo contrário) chega mesmo a insultá-lo. Quando François procura os conselhos de um sapateiro, que vive com um parceiro do mesmo sexo, este trata o assunto como um tabu, recusando-se a falar com ele. Por outro lado, é difícil a François aceitar a sua descoberta, como se percebe na cena em frente ao espelho (esplendidamente executada, na minha opinião), em que ele se tenta convencer a si próprio que “é maricas”.
Há duas tendências humanas que têm grande influência na existência deste tipo de preconceitos: a tendência de condenarmos tudo aquilo que seja diferente ou que não consigamos entender (o que explica que a sociedade discrimine os indivíduos homossexuais) e a tendência de seguirmos a opinião da maioria (o que faz com que um indivíduo se possa odiar a si próprio se fizer parte de uma das categorias discriminadas). O filme passa a mensagem de que a identidade sexual não é algo que possamos escolher, ao contrário do que muitas pessoas pensam. Podemos também inferir que as experiências sexuais que temos na adolescência, embora afectem, não determinam a nossa orientação sexual, por exemplo o personagem Serge, apesar de ter tido relações com François, de livre vontade, é claramente heterossexual.
Para além da homossexualidade, houve outros temas tratados no filme que considero pertinente referir. A amizade, a satisfação com a mediocridade, a revolta, os sentimentos de culpa infundados, a descoberta de uma razão para viver, todos esses aspectos são tratados em simultâneo, alguns focando-se mais num personagem em particular. A amizade de François tanto com Serge como com Maité é abalada pela revelação de que este é homossexual, mas acaba por prevalecer no final. Serge enfrenta a morte de um ente querido – o irmão – na guerra com a Argélia. Esta mesma guerra é uma obsessão para Henri, um jovem que não tem objectivos definidos e vive agarrado às notícias da guerra e tem um grande sentimento de culpa do qual não consegue fugir. Maité observa sem nada poder fazer, a situação da sua mãe, a qual fica cada vez mais consumida pelos sentimentos de culpa por não ter ajudado Pierre (o irmão de Serge) a desertar, o que resultou na sua morte.
Considero que todos estes temas podem ser enquadrados num único conceito: a auto-descoberta. Ao longo do filme, acontece algo de trágico na vida de cada um dos jovens. Primeiramente, todos tentam resistir às adversidades, mas acabam posteriormente por aprender que a única maneira de seguir em frente com a vida e minimizar o sofrimento é aceitar e adaptar-se às situações, tal como o junco da fábula citada no filme. Esta é a razão pela qual gostei do final do filme. A cena de encerramento deixa praticamente tudo em aberto, não oferecendo um desenlace conclusivo a toda a trama. Gostei deste final, pois entendo este filme não como uma história completa, mas sim como uma pequena parte da história de vida daqueles jovens – um certo período de tempo cheio de acontecimentos que lhes ensinaram muita coisa, dando-lhes ferramentas para enfrentar as dificuldades que ainda poderão advir na sua vida. O filme retrata um ponto de viragem na vida dos quatro jovens. É sobre aprender a seguir em frente. Logo, qualquer tipo de conclusão mais fechada não seria adequada ao filme, pois contrariaria este propósito.
No geral, achei “Os Juncos Silvestres” uma obra cinematográfica bastante boa pela autenticidade dos conflitos interiores dos personagens e o modo como estes os ultrapassaram (embora não totalmente). No entanto, as relações entre os jovens pareceram um pouco apressadas e forçadas em alguns pontos do filme, nomeadamente a relação entre Henri e Maité. A melhor maneira de explicar a sua atracção, quase instantânea, que surgiu quando se conheceram seria a frase feita “opostos atraem-se”. No entanto, tal explicação não me parece muito aceitável. O facto de terem convicções políticas totalmente opostas explica o despertar de uma curiosidade mútua mas não a de uma atracção (que ultrapassa a definição de atracção física apenas) de tal magnitude. Uma outra coisa que condicionou aquilo que pude aproveitar do filme foi o facto de não me identificar com o modo de pensar e/ou os problemas de qualquer um dos personagens, o que diminuiu o impacto emocional da história, visto que esta é quase totalmente focada nos personagens e nos seus conflitos e interacções. Apesar disto (que acaba por ser uma perspectiva mais subjectiva, uma vez que deriva das minhas próprias experiências e personalidade), gostei bastante do filme devido ao realismo com que os temas por ele abordados foram retratados – sem qualquer tipo de artifício ou embelezamento. Acho que este tipo de exposição temática é de louvar. Além disso, este é um dos casos em que o todo é superior à soma das suas partes.
Anteriormente, disse que o tema da homossexualidade não me chamara muito a atenção. Pois bem, nenhum dos temas em particular me tocou especialmente, pois não me identifico com qualquer um deles. Mas a mensagem que extraí de “Os Juncos Silvestres” acerca de aprender a seguir em frente, apenas foi transmitida devido à maneira como os temas retratados se encaixam e complementam. Isso foi, na minha opinião, o melhor que o filme ofereceu.
Ana Marta Nunes, 11º C
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