O filme «Juncos Silvestres» de André Téchiné retrata uma problemática da sociedade actual – a homossexualidade. Dá especial destaque aqueles que se encontram na fase da adolescência e são tantas vezes alvo de preconceito e discriminação. Além disso, são ainda abordadas questões políticas e sociais relacionadas com as situações de vida dos jovens personagens.
A acção decorre numa vila do sul de França nos anos 60, durante a guerra da Argélia, (na altura uma colónia francesa) pela independência. Este cenário de fundo gera tensão e revolta nalguns dos personagens que defendem ideias políticas diferentes: uns são comunistas e favor da independência e outros pensam o contrário. É interessante notar que nos dias que correm os jovens não se envolvem nem se interessam tanto por tipo de assuntos. É importante destacar que, embora se tenha modificado na sociedade actual a conduta e o modo de pensar quanto a certas questões (políticas por exemplo), continuam a existir dogmas - lamentavelmente intocáveis - como é o caso dos preconceitos quanto às relações entre indivíduos do mesmo sexo.
A intolerância que se verifica por parte da sociedade, a discriminação e a inibição da liberdade de cada um em detrimento daquilo que se pensa ser uma verdade incontestável (mas que não o é, de todo) é a maior responsável pelo medo em assumir uma orientação sexual diferente da heterossexual. Os sentimentos de rejeição e de não-aceitação causam grande sofrimento e podem conduzir até à depressão e ao suicídio.
Mas este filme vai além de questões políticas, sociais e sexuais. Espelha os dilemas vividos por jovens adolescentes nas amizades e nas relações amorosas. A intensidade das emoções, a dualidade de sentimentos, a vida escolar e outros temas são constantes ao longo de toda a narrativa, e por isso o argumento - brilhantemente construído – pode ser apreciado por todas as faixas etárias, incluindo adultos.
O filme em si, na minha perspectiva, pretende exactamente abrir os horizontes e as mentes retrógradas que ainda negam a possibilidade dos relacionamentos homossexuais e que ainda defendem que os sentimentos e ideias dos mais jovens são superficiais e vagos e, portanto, não devem ser levados a sério. Na verdade, creio que ninguém escolhe a sua orientação sexual – ela define-se ao longo do crescimento e não é uma opção que se faça como se escolhe o que se vai comer ao jantar. Penso que se cada um de nós se colocasse na posição de um homossexual, seria mais fácil compreender quão irracional é a discriminação. Acresce o facto de os adolescentes homossexuais (como François, o personagem principal do filme) além de se sentirem muitas vezes confusos, diferentes e de passarem por uma enorme turbulência emocional, serem ainda obrigados a lidar com ideias preconceituosas, que geram ainda mais instabilidade ao nível de sentimentos. Quanto às ideias dos mais jovens, basta salientar que se não acreditassem nelas não as defendiam e que a idade não tem relação directa com o estado cognitivo de um indivíduo.
O mundo seria tão melhor se não olhássemos para os nossos umbigos, se nos preocupássemos em resolver questões realmente importantes e em participar activamente nas questões nacionais para benefício de toda a população, ao invés de nos ficarmos pela mesquinhice de julgar os outros - pela sua orientação sexual, raça e tantas outras coisas mais – como se as nossas fossem todas acertadas…
Daniela Romba, 11º C
Juncos Silvestres é um filme francês, realizado por André Téchiné, passado em França durante a Guerra da Argélia, que retrata as inúmeras experiências vividas por quatro jovens amigos e o modo como estas vão influenciar as suas vidas.
Ao longo deste processo de descoberta, um dos amigos – François – percebe que é homossexual. E, a partir do momento em que ele se começa a aperceber da sua identidade sexual, é-nos mostrada a forma como várias personagens lidam com esta situação, nomeadamente a sua melhor amiga Maité; o amigo com quem tem as suas primeiras experiências homossexuais – Serge; o seu colega de quarto Henri; os colegas de escola; um senhor que é também homossexual, a quem François recorre desesperadamente para tentar compreender a sua situação e, até ele próprio. O facto de, no filme, a homossexualidade ser abordada de diferentes pontos de vista, permite-nos ter uma visão mais ampla de como as pessoas reagem – desde o preconceito e insulto mais grosseiro até à aceitação inquestionável da amiga (Maité) com quem partilha uma relação de muita proximidade e que encara a realidade com uma mente aberta.
Um pormenor importante, as vezes esquecido quando são discutidos temas controversos como a homossexualidade, é o processo por que a pessoa está a passar. Ou seja, o quanto se pode tornar doloroso e confuso o caminho que é percorrido até acharmos a nossa identidade sexual, se esta não for como a sociedade muitas vezes padroniza (heterossexualidade). No entanto, o realizador teve cuidado com este aspecto e focou-o muitas vezes ao longo do filme. Isto pode ser observado quando, por exemplo, François está defronte do espelho e começa a dizer em voz alta, repetidamente, que é gay, como se se estivesse a mentalizar a ele próprio; ou quando ele procura ajuda junto a Maité, que o aconselha a falar com um sapateiro da cidade onde moram, que também é homossexual, ao qual François se dirige, ainda que com receio, e este mostra-se envergonhado de si próprio e não é útil de forma alguma. Já no culminar do desenrolar da acção, François decide confrontar Serge com o facto de estar apaixonado por ele e saber se o que ele sente é correspondido. Do meu ponto de vista, este foi um acto de bastante coragem da parte de François, uma vez que tudo o que ele queria era saber a verdade e, para isso, expôs-se sem qualquer garantia ou expectativa do que ia suceder. E, apesar de Serge não o corresponder, François aceitou e conformou-se, continuando seu amigo. Isto contraria a ideia - de que os homossexuais muitas vezes são alvo - de não agirem como homens, mas sim “ maricas”. Neste caso, é claro que se passou precisamente o oposto.
Na minha opinião, uma reflexão sobre o filme mostra-nos que a sociedade actual não tem uma forma de pensar muito diferente de há cinquenta anos. O filme passa-se na década de sessenta. Nesta altura eram comuns as ideias pré-concebidas acerca da homossexualidade e quem tinha esta orientação sexual era automaticamente julgado, gozado e posto de parte. Hoje em dia, pode existir um maior número de pessoas que tem uma mente aberta em relação a este assunto, mas ainda é muitas vezes observada a discriminação sexual. Muita gente ainda continua a pensar desta forma no século XXI e tem uma mentalidade retrógrada.
De uma forma geral, este filme permite-nos entender que para nós criarmos a nossa própria identidade é necessário passarmos por várias experiências durante o período da adolescência. Contudo, estas não determinam a nossa personalidade e a identidade sexual futura, apenas ajudam a construí-la. Para terminar, acrescento apenas que, além de todo o enredo fantástico e da relação entre as personagens, o título atribuído é uma referência a uma fábula de La Fontaine (do carvalho e do junco) contada no filme.
Inês Pedro, 11ºC
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