sábado, 26 de setembro de 2009

Defesa do voto e crítica da abstenção

Amanhã há eleições legislativas em Portugal. Em diversas eleições passadas a percentagem de eleitores que se absteve foi elevada. Por exemplo: 35,7% nas últimas eleições legislativas e 63,5% nas últimas eleições para o Parlamento Europeu.

votar Na minha opinião, as pessoas que valorizam o facto de viverem num país democrático deviam votar sempre e nunca se abster. A existência de eleições livres é uma das principais diferenças entre uma democracia e uma ditadura. As pessoas que votam, além de escolherem quem vai exercer o poder, exprimem simultaneamente o seu apoio à democracia e à existência de eleições livres. Quem se abstém e não vota faz uma escolha que pode ser interpretada como uma rejeição da democracia ou, pelo menos, como indiferença perante o facto de viver numa democracia ou numa ditadura.

Algumas pessoas justificam o facto de se absterem nas eleições com a circunstância de discordarem de todos os candidatos. É perfeitamente possível, e até razoável (atendendo ao que se vê e ouve em muitas campanhas eleitorais), que um eleitor discorde de todos os candidatos. No entanto, a abstenção não é a melhor maneira de exprimir essa discordância. O voto em branco exprime de modo mais claro e inequívoco uma tal discordância, pois, contrariamente à abstenção, o voto em branco não pode ser confundido com a rejeição da democracia ou com a demissão cívica das pessoas que não vão votar porque preferem ir passear. Quem vota em branco está a dizer que recusa votar naquelas candidatos, mas que quer votar e que é favorável à existência de eleições e de democracia.

Tal não significa, porém, que (como sucede nalguns países) o voto deva ser obrigatório. Se existir uma qualquer sanção para quem não for votar, isso diminuirá o significado político do acto de votar. Este deixará de exprimir um apoio do eleitor à existência de eleições e de democracia. Mesmo as pessoas que rejeitam a democracia ou que lhe são indiferentes tenderão a ir votar para evitar a sanção, pelo que esse acto não poderá ser visto como uma escolha inteiramente livre – em que o cidadão, além de escolher quem exercerá o poder, manifesta o seu apoio ao regime democrático em que vive.

Seja quem for o vencedor das eleições de amanhã, seria bom que a percentagem da abstenção fosse baixa e que quase todos os 9,4 milhões de leitores (ver mais detalhes aqui) fossem votar. Se tal sucedesse seria a democracia que ganharia as eleições.

(A respeito deste assunto vale a pena espreitar aqui.)

9 comentários:

Carlos Pires disse...

Lido no jornal Público:

"As eleições legislativas 2009 ficaram marcadas por uma abstenção recorde de 39,4 por cento, tendo votado menos cerca de 55 mil eleitores do que em 2005. Os votos em branco registaram 1,75 por cento e os votos nulos,1,31 por cento."

Enfim...

A disse...

Pois é... Até parece que muita gente rejeita a democracia. É inacreditável.

Carlos Pires disse...

Austeriana.

Creio que a maioria das pessoas que se abstém não rejeita a democracia.
Só que muitas delas são demasiado apáticas para tomar partido e ir votar (nem que seja em branco ou nulo). São pessoas que não sabem dar valor ao que têm.
E há outras que não votam como forma de dizer que discordam de todos os políticos actuais - mas essas (como escrevi no post) raciocinam mal, pois o que deveriam fazer era votar em branco (ou mesmo nulo).
Ocorre-me agora que deve haver pessoas que não votam porque são militantes ou simpatizantes de um partido e estão descontentes com ele (possivelmente isso aconteceu com algum eleitorado do PSD) - mas julgo que também essas fariam melhor votando em branco.

Enfim, há muitas causas.

pin gente disse...

vim ler e tenho que dizer que discordo da primeira parte.

"A existência de eleições livres é uma das principais diferenças entre uma democracia e uma ditadura." para mim não!
"As pessoas que votam, além de escolherem quem vai exercer o poder, exprimem simultaneamente o seu apoio à democracia e à existência de eleições livres." para mim não necessariamente... há tantos ditadores por aí, tantos prepotentes...
votar é um direito e como tal, quem quer exerce-o, quem não quer está no seu direito!

um abraço
luísa

A disse...

Carlos,
É capaz de ter razão mas fiquei muito desapontada com quase tudo. Esta política de intriga afasta as pessoas do que é verdadeiramente importante. Isto não pode continuar assim.

Andr3 disse...

Concordo com o texto e as ideias aqui descritas.
A ideia do voto em branco é Lógica, bem exposta, pois é sinal que realmente ha um interesse e vontade de participar, somente não ha concordância com nenhum partido. Mas, se formos a ver, há-de sempre haver ideias com a qual não concordamos, seja até no partido que decidimos votar!

Este ano Votei, quero fazer parte activa da sociedade e do poder de decisão. Quero sentir que posso contribuir para alguma mudança; mas isso é porque me interesso. Não quer dizer que as pessoas que se abstêm não queiram uma mudança, simplesmente ainda existe muita gente que não se interessa, ou não tem informação necessária sobre os partido políticos e suas convicções! Porque querem também, claro, mas porque sejamos realistas, o mundo da Política não é de todo interessante (á vida simples e generalista) e muito menos tema corrente para qualquer vivência.

Penso que faça parte de uma mudança pessoal e individual o interesse que advém da política. Um cidadão comum, mas com um estilo de vida que nada tenha a ver com temas actuais, ou cultura geral, vai decerto pertencer à abstenção. Pessoas despreocupadas a esse nível também não perderão o seu tempo em ir votar, e até evitam falar ou esclarecer-se sobre o tema porque "se sempre governaram, e sempre tivemos de aceitar o funcionamento imposto, para quê eu ir ter esse trabalho?" (é mais ou menos este tipo de pensamento)

Voto obrigatório..é um assunto que teria de ser tratado desde sempre, teria que fazer parte da cultura.

Não me alongo mais...peço desculpa pelo alrgamento do comentário!

Até Depois

Carlos Pires disse...

Austeriana:

Motivos de decepção não faltaram, é verdade. A começar pela pouca qualidade dos programas eleitorais e pela falta de seriedade das campanhas eleitorais da generalidade dos partidos e acabando na abstenção.
Seja como for, não me parece que os únicos culpados sejam os políticos. Se a maioria dos portugueses fosse constituída por cidadãos informados e com espírito crítico, não seria tão fácil os políticos serem tão incompetentes, demagógicos e pouco sérios.

cumprimentos

Carlos Pires disse...

Luísa:

Claro que votar é um direito e as pessoas devem poder escolher se querem exercê-lo ou não. Eu argumentei que deviam escolher exercê-lo e não que fossem obrigadas a fazê-lo.
Numa democracia também pode haver abusos de poder e prepotências. Mas numa democracia existem mecanismos que não existem nas ditaduras para lutar contra isso. As eleições são um deles.
Creio que a ideia de democracia sem eleições é indefensável. Mas se queria dizer que não bastam eleições para termos democracia concordo: é uma condição necessária mas não suficiente. A prova é que nalgumas ditaduras há eleições. Por isso, falei em eleições livres.

cumprimentos

Carlos Pires disse...

Andr3:

O valor da democracia está para além das nossas ideias acerca de mudanças sociais. A democracia permite dar voz às pessoas que defendem estas ou aquelas mudanças, mas também às pessoas que consideram não ser necessário haver mudanças.

cumprimentos