Eis a argumentação, da aluna Victoria Zoriy, contra a eutanásia:
Eutanásia, palavra proveniente de uma expressão grega que significa “boa morte”, designa o acto de matar um doente terminal, cujo estado incurável e irreversível o conduzirá à morte dentro de pouco tempo, como forma de acabar com a sua dor e sofrimento.
Na maioria dos países do mundo tal prática é considerada crime, excepto na Holanda, onde se encontra legalizada e é exercida em certas circunstâncias cuidadosamente delineadas. No entanto, começam a surgir esforços com vista à sua legalização noutros países. A questão é: a eutanásia, em termos éticos, é uma opção razoável?
No meu ponto de vista, a eutanásia não é a resposta e aproveito para lembrar que todo o indivíduo tem direito à vida e que, sendo este um direito inalienável, ou seja, que não deve ser violado, a reivindicação da eutanásia médica é contraditória em relação a este direito.
É importante referir que uma lei que legitimasse a eutanásia poderia ter consequências negativas: a sua prática generalizada poderia levar a abusos e algumas pessoas poderiam ser mortas, mesmo que não se encontrassem em estados terminais irreversíveis.
Do meu ponto de vista, não tem sentido um médico recorrer à eutanásia como forma de apressar a morte de um paciente! A sua missão deveria ser a de tudo tentar para conservar a vida. É raro que não haja a possibilidade de melhorar o estado de saúde de um doente com um procedimento inédito ou uma associação de certos medicamentos. O pior que se pode infligir a um doente é: “Lamento, não há nada a fazer”, o que é indigno é tratá-lo como se já estivesse morto ou como se já não valesse nada. E, consequentemente, legalizando a prática da eutanásia, renunciar-se-ia a tratar activamente ou melhorar, através de novos processos, jovens com deficiências mentais e paraplégicos por acidente de viação e talvez até se renunciasse aos cuidados não específicos que se limitam a mantê-los com vida (ou seja, adopta-se a forma mais “simples” de terminar com o sofrimento). Como exemplo de abandono potencial e abusivo resultante da adopção da eutanásia, temos o caso de Dr. Kevorkian. Jack Kevorkian, “Dr. Morte”, assistiu nos suicídios de Marjorie Wantz e Sherry Miller, em que ambas não se encontravam em estado terminal (inflamação pélvica e esclerose múltipla, respectivamente), mas sim num estado tratável e curável. Como tal, Dr. Kevorkian foi acusado de crime pela morte destas duas mulheres.
Idosos fragilizados e incapacitados são, muitas vezes, pressionados a recorrer à eutanásia: fazem-no, por vontade própria, pelo facto de não quererem ser um “fardo” financeiro e emocional para a família, da qual dependem totalmente. Geralmente, o doente não é favorável a que o “executem”, em oposição à família e à sociedade que fazem contas aos custos. Chega-se mesmo a encorajar a eutanásia no sentido de racionalizar os serviços de cuidados em casas de saúde. O doente que, normalmente, aceitaria ficar diminuído desde que sobrevivesse, mesmo que sentisse que a doença o levará um dia, é abandonado no momento em que, provavelmente, tem mais necessidade de ser acompanhado. A legalização tornaria a eutanásia disponível a pedido de forma que alguns familiares ou herdeiros de doentes poderiam começar a recomendá-la. O direito a morrer tornar-se-ia um dever de morrer!
Apresentemos, então, uma objecção possível aos argumentos expostos anteriormente. Se se adoptar uma posição contra a prática da eutanásia, o que deverá ser feito aos doentes que enfrentam sofrimento intenso e incurável? Como no caso de Jack que tinha um melanoma na barriga, um tumor sólido que os médicos pensavam ser do tamanho de uma bola de baisebol: a uma certa hora era-lhe ministrada uma dose de analgésicos para aliviar as dores, mas quase não tinha efeito e Jack, passadas algumas horas, voltava a “gemer e uivar” de dor. Hoje em dia sabemos que os medicamentos para aliviar a dor, como muitos outros, podem ter efeitos secundários irreversíveis. Assim, será a atitude mais correcta ministrar ao doente medicamentos para aliviar a dor? Estes podem muito bem trazer outras doenças e problemas. Neste sentido, a prática da eutanásia não seria a melhor resposta ao sofrimento?
Como resposta à objecção anterior, diremos que se o Homo Sapiens sentiu a necessidade de enterrar os seus mortos, recusando-se, na expressão de Pascal, a considerá-los unicamente como um embrulho de carne e de ossos, não vêem que a legalização da eutanásia trará excessos inevitáveis? Independentemente da pressão que os doentes exercem sobre os médicos não nos devemos deixar habituar à ideia que a vida deles é menos digna e pode ser-lhes tirada “para seu bem”. A meu ver, a medicina só deve ser praticada se transmitir um respeito total pela vida humana, o que não se verificará com a legitimação da eutanásia. Não pretendo com isto persuadir os que tencionam institucionalizar a eutanásia, mas, actualmente, existe uma unidade de cuidados paliativos de extrema qualidade que dispõe de meios adequados para terminar ou, nalguns casos, aliviar o sofrimento do doente, sem o matar. Assim, numa perspectiva ética, a solução não é “suprimir o doente para suprimir a doença”, mas sim proporcionar-lhe todo o cuidado e conforto possíveis, de modo que viva os seus últimos dias com significado e dignidade.
Victoria Zoriy, 11ºG
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