«A filosofia deve pôr em questão os pressupostos básicos da época. Creio que pensar crítica e cuidadosamente naquilo que a maioria das pessoas tem por garantido é a tarefa principal da filosofia – é esta a tarefa que faz da filosofia uma actividade valiosa. Lamentavelmente, a filosofia nem sempre está à altura do seu papel histórico. Os filósofos são seres humanos e estão sujeitos a todos os preconceitos da sociedade a que pertencem. Por vezes conseguem libertar-se da ideologia prevalecente; com maior frequência, tornam-se os seus defensores mais sofisticados.
[Um exemplo disso é o especismo na filosofia contemporânea, ou seja, a ideia de que a espécie humana merece sempre um tratamento privilegiado relativamente às outras espécies animais.] Neste caso, a filosofia, como hoje é praticada nas universidades, não desafia os preconceitos sobre as nossas relações com as outras espécies. Através do que escrevem, os filósofos que se ocupam de problemas relacionados com a questão mostram que aceitam os mesmos pressupostos dogmáticos que a maior parte dos outros seres humanos, e aquilo que dizem contribuem para reforçar no leitor os seus confortáveis hábitos especistas.»
Peter Singer, “Todos os animais são iguais”, in Os animais têm direitos? – Perspectivas e Argumentos, organizado e traduzido por Pedro Galvão, Dinalivro, Lisboa, 2011, pp. 40-41.
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