sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Opiniões premiadas no Dia Mundial da Filosofia

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Foi colocado neste blogue um desafio aos alunos, no Dia da Filosofia (ver AQUI):

"Devemos fazer o que está certo mesmo quando não ganhamos com isso?

Ao responder tem em conta o exemplo da notícia de jornal: “Três funcionários da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim foram distinguidos pela autarquia com um voto de louvor por devolverem um envelope com mais de quatro mil euros que encontraram num centro de processamento de lixo". Jornal Diário de Notícias de 18-11-2014.

Como agirias se fosses um dos três funcionários na situação seguinte? Porquê?"

Os autores dos dois melhores comentários* - a quem se será entregue o livro "Logicomix" da Gradiva pela direção da escola - foram as alunas Patrícia Cunha, do 10º D e Vanda Evaristo, do 11º A. Parabéns a ambas!

E um agradecimento a todos os alunos que participaram (do 11º A, 11º B e 10º D)!

Eis as respostas dadas pelas duas alunas (os textos não foram editados):

Na minha opinião, este é um problema filosófico extremamente atual e que diz respeito a todos nós como cidadãos. Talvez a posição que defendo será a que muitos pensam ser a mais plausível, mas eu fico contente se nem todos partilharem da mesma opinião que eu, pois em Filosofia não deve existir consenso. Argumentar é a melhor forma de testar as nossas crenças…
Em primeiro lugar, penso que fazer o que está certo é uma virtude do ser humano. Devemos “ser uns para os outros”, seja qual for a raça, o género ou a idade. Uma ação designada como “correta” desencadeia outras ações corretas e assim sucessivamente. Não devemos praticar o que está certo, procurando segundas intenções nisso e/ou mérito por o praticar. Fazer o está correto é a inocência da nossa "alma", a utilização de virtudes, como a generosidade, a sinceridade e a cooperação. Praticar algo certo não é esperar ganhar nada em troca, porque afinal também não perdemos nada por o fazer…É seguir o nosso coração, colocar um sorriso no mundo que nos rodeia e agir por pura espontaneidade.
No caso apresentado, em que três funcionários foram reconhecidos com um louvor por terem devolvido um envelope, no qual se encontravam mais de quatro mil euros, verificamos um excelente exemplo do que suprarreferi. Estes homens agiram com inocência e sem segundas intenções, devolvendo o dinheiro que não lhes pertencia, sem esperar uma recompensa por isso. Existem dois bons argumentos para defender a ação executada: o dinheiro não pertence aos funcionários mas sim a alguém, que pode estar a necessitar muito dele e, se fossem os funcionários na situação da pessoa possuidora do envelope, também gostariam que lhes devolvessem o dinheiro.
Trata-se de pura bondade e ajuda ao próximo. Se fossemos nós não ficaríamos muito gratos por nos entregarem quatro mil euros que com tanto trabalho poupámos e valorizamos? Devemos pensar desta forma. O que está certo pode ser praticado por todos e pode ajudar todos também. Durante a nossa vida todos nós já praticámos pelo menos uma vez, uma ação correta, involuntariamente e sem esperar um louvor por isso.

Pense nisso… Tal como disse Martin Luther King: “Sempre é hora de fazer o que é certo”.

Patrícia Cunha, 10º D

Discernimento, coragem, honestidade, respeito pelo “outro”, entre outros talentos do espírito, são sem duvida desejáveis, pois espelham o bom caráter. Contudo, estes esbatem-se diariamente nas múltiplas situações com que nos deparamos.
As minhas ações diárias são movidas por máximas que cultivo e agir em conformidade com o dever é materializar a minha vontade.
"Devemos fazer o que está certo mesmo quando não ganhamos com isso? Se eu encontrasse uma quantia considerável de dinheiro devolvê-lo-ia?"
As questões colocadas suscitam em nós um debate moral e a resposta às mesmas implica sinceridade.
Considero que se ganha sempre algo com as nossas ações independentemente de qual escolhermos. O valor do que se ganha é que é diferente e cada pessoa sabe a importância que cada valor tem para si.
A vontade e a faculdade de escolher só aquilo que a razão reconhece como correto são unas. Contudo, nem sempre a razão determina suficientemente a vontade. Por vezes esta está sujeita a condições subjetivas.
As dificuldades extremas tornam o ser humano corruptível e nem sempre a razão e o agir correto vencem as nossas emoções ou outras motivações.
Se a vida de uma pessoa que amo ou até a minha própria vida dependessem de uma ação minha, provavelmente enfrentaria um árduo dilema moral, pois não agiria tendo apenas em conta os meus princípios.
Se eu encontrasse dinheiro e se este se revelasse vital para mim, provavelmente não o devolveria. Afirmo tal hipoteticamente, pois tudo dependeria das circunstâncias do momento.
O ser humano cultiva a imagem perfeita e alimenta-se do elogio. Afirmarmos que todas as nossas ações são desinteressadas e visam apenas o dever em consonância com a nossa vontade, sem ter em conta todo e qualquer condicionalismo, é mascarar as nossas inclinações e emoções. Não somos seres perfeitos e o nosso entendimento é frequentemente desafiado pelos nossos sentimentos. Face a um dilema moral, a minha resposta será sempre a mesma: as minhas ações traduzem princípios que defendo convictamente, contudo não são inabaláveis.

Vanda Evaristo, 11º A

* Os critérios de avaliação utilizados foram os seguintes: clareza, pertinência e originalidade das ideias filosóficas defendidas; estruturação do discurso; utilização correta da terminologia filosófica e da expressão escrita.

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