domingo, 26 de outubro de 2014

Porque não devemos chamar "bárbaros" aos fanáticos islâmicos

 estado islâmico fanatismo religioso

Nos últimos meses, perante as atrocidades cometidas por grupos islâmicos fanáticos como o Estado Islâmico e o Boko Haram, vulgarizou-se nas redes sociais e até na imprensa o uso da palavra “bárbaro”. Julgo que a crítica é correta mas que a palavra escolhida para a exprimir é errada.

Os gregos antigos e os romanos chamavam “bárbaros” aos estrangeiros. A palavra grega que se traduz por “bárbaro” significava “aquele que fala como os animais”. Ou seja: quem não falava grego, quem não era grego, era considerado inferior aos gregos e visto como sub-humano. Julgar que a cultura dos outros povos é inferior à nossa, julgar que aquilo a que estamos acostumados é superior àquilo a que não estamos acostumados, é uma atitude pouco inteligente mas frequente na história da humanidade. Nas ciências sociais é conhecida por etnocentrismo.

Apesar da maioria das pessoas não saber a história da palavra, quando se diz “bárbaro” cria-se geralmente a ideia de que estamos a criticar um costume estrangeiro. Ora, o que há de errado nas acções do Estado Islâmico e do Boko Haram não é o facto de não serem portuguesas, europeias ou ocidentais, mas sim o facto objectivo de serem atrocidades que violam os direitos humanos e prejudicam as pessoas direta e indiretamente atingidas. Se forem realizadas por portugueses não serão menos más.

Sendo assim, o facto de, por exemplo, a tourada ser uma tradição portuguesa não a torna mais benigna nem a impede de ser criticada - nem por portugueses nem por estrangeiros. E caso um estrangeiro a critique este não será um bárbaro, mas alguém que se preocupa com os animais não humanos.

2 comentários:

lalita disse...


Por esta lógica, que não tem em conta a evolução semântica das palavras, também não deveríamos chamar, hoje em dia "ministro ( servidor em latim)" aos ministros.

Unknown disse...

Carlosamigo

Concordo com o teu texto e, mais, está correcto em Português. Pareço ser catedrático; mas não sou. Oriundo de Direito, quis ser jornalista e tentei ser escritor. Penso que não me saí mal de todo - e de tudo...

Por isso sou um adepto da nossa língua, mas aceito o Aborto, digo, o Acordo Hortugraphiko, perdão, Ortográfico; ou seja, escrevo contra o famigerado "acordo".

Contra ele e contra estes pulhas que estão desde Belém a S. Bento e arredores.

Li bem a explicação da lalita; sendo assim os ministros deviam ser ministros-se.

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