Num episódio de uma série de TV antiga (talvez Uma Casa na Pradaria, não estou certo) um padre católico gastou todo o dinheiro que levava (destinado a comprar cereais para um orfanato) na compra de um cavalo. Os colegas que com ele trabalhavam no orfanato criticaram-no, pois sem os cerais as crianças passariam fome. O padre – que nada entendia do assunto - alegou que o cavalo poderia participar numa corrida de cavalos e ganhar. Depois, poderiam comprar todos os cereais que quisessem com o dinheiro de prémio. Os outros replicaram que o cavalo era demasiado irascível e irrequieto para sequer participar em corridas quanto mais ganhar (o cavalo desatava a dar coices assim que se aproximava uma pessoa e não se conhecia ninguém que tivesse conseguido montá-lo). Quando perguntaram ao padre porque tinha comprado aquele cavalo ele justificou a compra dizendo que tinha sido “um sinal de Deus”: a luz do sol ao passar por um buraco nas tábuas do estábulo projetara na parede uma sombra em forma de cruz. Os outros (apesar de católicos) disseram, muito consternados, que isso não passava de um acaso e que não era uma boa razão para comprar um cavalo gastando todo o dinheiro da instituição. Contudo, um dos órfãos (conhecido por ter muito jeito para lidar com os animais) conseguiu tornar-se “amigo” do cavalo, montá-lo e ganhar a corrida. Com o dinheiro do prémio foi possível não só comprar os alimentos necessários como fazer obras no orfanato e assim melhorar o serviço prestado pela instituição.
A crença do padre de que o cavalo iria ganhar a corrida revelou-se portanto verdadeira. Mas podemos dizer que o padre sabia que o cavalo iria ganhar a corrida e que portanto era acertado comprá-lo gastando todo o dinheiro?
Parece óbvio que o padre não sabia isso: o facto de ter formado uma crença verdadeira foi uma questão de sorte. A razão que o levou a comprar o cavalo é implausível (mesmo para pessoas que têm a mesma religião do padre) e não constitui uma justificação adequada. Com efeito, já sucedeu muitas vezes pessoas católicas (para não falar nas outras) avistarem sombras em forma de cruz sem que isso tivesse constituído qualquer sinal ou aviso. Por isso, embora tivesse uma crença verdadeira, o padre não possuía conhecimento pois essa crença não estava realmente justificada.
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