São Tomé, de Caravaggio.
Mesmo as pessoas que desconhecem a teoria que define o conhecimento como uma crença verdadeira justificada e nunca depararam com a afirmação “o conhecimento é factivo”, reconhecem – implicitamente – que a verdade é uma condição necessária do conhecimento. Vejamos dois exemplos.
- O meu pai não encontra o carro, não sabe o que lhe aconteceu…
- É natural…
- Porquê? Sabes o que aconteceu ao carro?
- Sei. Foi roubado, é claro! Hoje em dia há imensos roubos e…
- … Espera aí, pois estou a receber uma mensagem de telemóvel. … É do meu irmão: diz que levou o carro do meu pai e se esqueceu de deixar um bilhete a avisar.
- Oh! Ainda bem para o teu pai que me enganei, mas julgava mesmo que tinha sido roubado.
- Afinal, não sabias o que tinha acontecido ao carro.
- Pois não. Pensei que sabia mas não sabia.
Quando uma pessoa reconhece que se enganou e que uma proposição em que acreditava é falsa, não diz que sabia: utiliza palavras como “julgava”, “pensava” ou “acreditava”. Ou seja: substitui os verbos factivos – como saber ou conhecer – por verbos não factivos.
Do mesmo modo, num livro de história da medicina não se diz que Aristóteles sabia que o coração era o órgão responsável pelo pensamento, mas sim que Aristóteles acreditava nisso ou julgava erroneamente saber isso.
Esse reconhecimento, contudo, não constitui uma compreensão clara e explícita, pelo que essas pessoas ficarão provavelmente surpreendidas se lhes dissermos que não se pode conhecer falsidades e que não existem realmente conhecimentos falsos.
(Acerca desta característica do conhecimento pode ler: O carácter factivo do conhecimento.)
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