quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Mudar o programa de Filosofia: uma proposta

Que o programa de Filosofia, atualmente em vigor no ensino secundário, deveria ser mudado é um facto. Só os professores que há anos debitam os mesmos manuais e não se atualizam cientifica e pedagogicamente é que não sentem essa necessidade de mudança. A questão que se coloca é: mudar como?

Faustino Vaz escreveu um artigo publicado na revista Crítica em que apresenta várias sugestões. Cabe agora aos professores de Filosofia lê-las e discuti-las.

Penso que todos nós, professores do secundário, devemos fazer algo para divulgar e melhorar o ensino da disciplina que leccionamos, pois se conjugarmos esforços no sentido do bem comum, todos sairemos beneficiados. E, já agora, só mais um motivo: imaginemos, no meio de tanta necessidade de cortar na educação, surge a hipótese de supressão da Filosofia dos currículos (que, ao que parece, já esteve em cima da mesa e depois foi retirada).

Parece-me que a habitual indiferença dos professores de Filosofia do secundário em relação a este assunto não se justifica de modo nenhum.

Portanto, vale a pena discutir a proposta apresentada, criticá-la e sugerir, se for o caso, alternativas melhores.

7 comentários:

A. Gomes disse...

uma nota, um tanto lateral ao teu texto: a filosofia está a ser suprimida, subrepticiamente. já há escolas com metade das turmas onde a filosofia foi substituída por uma coisa que dá pelo nome de área de integração.

Sara Raposo disse...

Olá,

É verdade o que diz, na escola onde lecciono também é assim e isso deve-se ao elevado número de cursos profissionais. Os professores de Filosofia aceitaram passivamente tudo isto, não se ouviu qualquer tomada de posição pública (de quem representa os professores de Filosofia) acerca da adequação dos programas da Área de integração ou da despromoção da disciplina de Filosofia. O que eu oiço dizer em relação à Área de integração é que os conteúdos programáticos são vagos e inadequados em relação ao perfil dos alunos desses cursos.

A ironia (não do destino,claro!), como eu já disse aqui neste blogue algumas vezes, é que (supostamente) os professores de Filosofia ensinam os alunos a ter uma atitude crítica, mas muitos professores de Filosofia - em relação aos assuntos que dizem respeito à Filosofia - não exprimem qualquer opinião e demitem-se de se pronunciar acerca de problemas respeitantes à disciplina que leccionam, sejam estes de natureza pedagógica ou científica. Se assim não fosse julgo que o desprestígio da disciplina no ensino secundário não seria tão grande como em parte é. Isto para não falarmos do que se passa nas universidades, onde cada um no seu galho procurar impor a sua "visão" da Filosofia.

Acho que o único modo de combater estas ideias erradas acerca da Filosofia é fazer aquilo que o Gomes faz e eu e o Carlos fazemos: tornar público o nosso trabalho, promovê-lo junto dos alunos e professores.

No entanto, devo dizer-lhe - por experiência própria - que mesmo isso pode ser visto como tentativa promoção pessoal e exibicionismo por parte dos nossos colegas professores, incluindo os de Filosofia. Este é o meio intelectual em que nos movemos, felizmente podemos procurar os interlocutores que nos interessam mais e pensar fora do provincianismo e da mesquinhez.

Cumprimentos.

Sara Raposo disse...

Só uma correcção ao meu comentário:

Acho que um dos modos (e não o único como disse no comentário anterior) de combater estas ideias erradas acerca da Filosofia é …

E um acrescento:

Alguns dos colegas que consideram o trabalho que aqui fazemos como exibicionismo e tentativa de promoção pessoal, são aqueles que copiam – sorrateiramente – os materiais aqui disponibilizados e utilizam-nos nas aulas sem citar a fonte (infelizmente, por via dos alunos, já tivemos muitas oportunidades de verificar este facto). São estes muitos dos colegas que temos! Felizmente também há outros…

Anónimo disse...

Olá, acabo de vir do encontro sobre Ensinar/Aprender Filosofia num mundo em rede na faculdade de letras de Lisboa onde estiveram presentes os autores do actual programa de Filosofia. Não li ainda o artigo do Faustino, mas o que senti e o que já foi dito pela Sara é que a questão, parece-me, não está no programa. Grande parte dos professores nem sequer lê o programa, portanto o efeito que o programa tem na prática está mais dependente do manual que se segue, do que de outra coisa.

Ismael Carvalho

Aires Almeida disse...

Olá!

Sim, Ismael, a questão está no programa e nada do que disse mostra o contrário. É preciso ter em conta que os manuais são feitos tendo em conta o programa, mesmo que os professores não liguem ao dito. Sucede que o programa permite qualquer tipo de manual, dada a sua vagueza e aversão à filosofia.

Um mau programa permite maus manuais, maus exames, más aulas e até má formação profissional. Um bom programa não resolve tudo, mas evita muito disparate.

Anónimo disse...

Aires, concerteza que o programa pode resolver problemas. O facto do programa ser mais fechado e talvez diferente defendes tu poderia melhorar as aulas. Obviamente que agora teríamos de trazer para a discussão os conteúdos desse programa. Mas o que me preocupa e talvez me tenha explicado mal é o estado a que chegou o ensino ( não sei se é apenas o da Filosofia), e que não me parece que mudando o programa se altera a própria formação profissional dos professores e as más aulas como dizes.O que vejo à minha volta é que nem se olha para o programa nem para os manuais como deve ser. Nem para os alunos.
Tenho receio que se discuta muito o programa de Filosofia e que esse debate não sirva para nada. A Sara tem razão quando refere a atitude passiva dos interessados e isso condena muito do trabalho que pode ser feito. Quem está interessado vai à procura, faz, constrói, discute. E eu não vejo entre os nossos colegas, muito vontade para fazer isso.

Sara Raposo disse...

Olá a todos,

A sugestão que eu deixo aqui é a seguinte:

Leiam o texto do Faustino Vaz e discutam-no no blog da crítica. É uma boa oportunidade que devemos aproveitar. Eu ainda não o fiz por falta de tempo, mas irei fazê-lo no fim de semana. Além de constatar e descrever o estado actual em que o ensino da Filosofia se encontra, importa pensar em ideias que permitam corrigir o que está mal. E há alunos que justificam o nosso esforço nesse sentido. É por eles e por nós professores que temos de discutir e fazer propostas que mudem o estado actual das coisas. Se as entidades responsáveis as consideram ou não é outro problema. Pior será se ninguém fizer ou disser nada.

Cumprimentos a todos.
Agradeço os vossos comentários.