Segundo Platão, eu, __________________________ (nome), sou parecido(a) aos prisioneiros da Alegoria da Caverna. Julgo que Platão está _________________(certo/errado), pois_______.
No primeiro teste de Filosofia do 10º da turma D, realizado no passado mês de Outubro, esta era a pergunta 8. Houve várias respostas boas, mas as melhores foram dadas pelos alunos Fábio Gonçalves e Rafael Fonseca. Pedi-lhes para conversarem um com o outro e com base nas respostas dadas no teste construírem um texto com que ambos concordassem. Ei-lo.
Segundo Platão, nós somos parecidos aos prisioneiros da Alegoria da caverna. Julgamos que Platão está certo, pois, tal como os prisioneiros, nós - Fábio e Rafael, mas também os outros seres humanos – muitas vezes adotamos crenças acriticamente. Tal como os prisioneiros, estamos presos por “correntes” (metafóricas, claro) que nos iludem, parcialmente ou mesmo globalmente, acerca do que é real e do que não é.
A Alegoria da Caverna fala-nos de um grupo de seres humanos que se encontram presos no fundo de uma caverna. A única coisa que conseguem ver são sombras e julgam que estas são reais – julgam que são a realidade. Depois, há um prisioneiro que sai da caverna: vivia numa ilusão mas liberta-se das correntes da ignorância e alcança o conhecimento após um árduo processo de aprendizagem.
Os prisioneiros viveram sempre com a certeza de que as sombras eram a realidade e não as viam como aparências ou ilusões, mas estavam errados. Julgavam saber o que era a realidade mas não sabiam. Como foi dito, esses prisioneiros podem ser comparados a cada um de nós, pois nós podemos estar iludidos como eles - parcialmente ou até globalmente.
Vejamos primeiro a hipótese da ilusão parcial. Uma pessoa pode estar “acorrentada”, querendo isto dizer que vive iludida relativamente a certos aspetos da realidade. Por causa de coisas como o amor, o ódio, a preguiça, experiências traumáticas, etc., pode ignorar alguns aspetos da sua vida ou até vivê-los de uma forma falsa. Por exemplo: uma pessoa que esteve na guerra pode ter alucinações visuais ou sonoras quando confrontada com uma situação que lhe lembre uma situação passada traumatizante. Uma pessoa que ama outra de forma intensa pode não conseguir perceber que a outra pessoa a engana ou então pode suavizar e desculpar coisas erradas que a outra pessoa faz, como agredi-la ou insultá-la. Essas pessoas vivem convencidas que as coisas da sua vida são de um certo modo e afinal a realidade é muito diferente.
Mas pode suceder que a nossa ilusão não seja apenas parcial mas sim global. Não é impossível, embora seja pouco plausível, que toda a nossa vida atual seja uma ilusão e estejamos, por exemplo, a sonhar. Talvez toda a nossa vida seja um sonho ou uma ilusão semelhante à descrita no filme Matrix. Quem sabe? Talvez exista uma outra vida, uma outra verdade, completamente transcendente e diferente daquilo em que habitualmente acreditamos. Embora a hipótese seja pouco plausível não a devemos rejeitar sem discussão: que razões temos para considerar que a realidade é aquilo que julgamos ser?
O prisioneiro libertado regressou à caverna mas os outros prisioneiros não o quiseram ouvir nem discutir ideias com ele. Isto pode ser interpretado como o uso da filosofia para a discussão das nossas crenças básicas. As pessoas que não aceitam as crenças acriticamente e usam a Filosofia como um instrumento de sabedoria (isto é, uma forma de procurar a verdade) podem ser comparadas ao prisioneiro que se libertou e descobriu o que era de facto a realidade e que tudo o que tinha visto até então era falso. Aquelas pessoas que se recusam a discutir as suas crenças e as aceitam acriticamente - talvez por terem medo de não terem as mesmas ideias da maioria - são comparáveis aos prisioneiros que, no fim, se recusaram a sair da caverna. São dogmáticas, ou seja, acham as suas ideias tão corretas que nem se preocupam em justifica-las e recusam discuti-las e compará-las com as ideias das outras pessoas.
De qualquer forma, a conclusão é que qualquer um de nós pode estar parcialmente ou globalmente iludido, pelo que somos comparáveis aos prisioneiros descritos por Platão.
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