quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Não faremos greve amanhã

Dissemos a algumas pessoas que não faríamos greve amanhã e que gostaríamos que a maioria dos portugueses concordasse connosco e amanhã fosse trabalhar.

Algumas dessas pessoas mostraram-se indignadas e sugeriram que ao falar assim estávamos a negar o direito à greve e a legitimidade de outras pessoas aderirem à greve de amanhã.

Mas é óbvio que não é o caso. Discordar de uma greve não implica negar o direito à greve; considerar que uma greve é politicamente errada não é o mesmo que considerá-la ilegítima. Tal como as pessoas que concordam com uma greve têm o direito de fazê-la e defender publicamente a sua opção, quem não concorda tem o direito de não fazê-la e também defender publicamente a sua opção. Exercer este último direito não põe em causa o outro direito.

Pretender que um desses direitos é incompatível com o outro e que o exercício de um deles é um atentado contra o outro é que constitui, pelo contrário, uma tentativa de negar um direito legítimo.

Sendo assim: amanhã é dia de trabalho!

Carlos Pires, Sara Raposo

16 comentários:

Anónimo disse...

Pois!...
É um direito que vos assiste!
Mas, não deixa de constituir uma "bela" lição de coerência, de exigência, de racionalidade, de inconformismo, de defesa de valores, de não subserviência e de afirmação de contra-exemplos, face aos ataques, às mentiras de Sócrates e Passos Coelho e à falta de equidade na distribuição dos sacrifícios.
A filosofia ensinada se não tiver concretização nos nossos actos e na nossa intervenção social e política, não passará de balelas.
Cumprimentos!

Carlos Pires disse...

Octávio:

A nossa opção de não fazer greve é coerente, racional, baseada em valores e de modo nenhum subserviente.
O seu último parágrafo, além do lamentável insulto que nos dirige, revela uma compreensão muito errada da filosofia e do seu ensino. A qualidade deste é obviamente independente das convicções políticas dos professores.
Embora não tenha interesse filosófico, o seu comentário é interessante de um ponto de vista sociológico: em Portugal existem muitas pessoas que, à semelhança do Octávio, pensam que para se ter qualidade filosófica, artística ou literária é preciso ser de esquerda - e isso ajuda a explicar porque é que em Portugal o debate de ideias é tão pobre.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Esquerda? Eu?...
Isso é um tiro completamente ao lado, como, aliás, em tudo o resto.
Fico à espera de uma ação de formação sobre a "sua" compreensão adequada da filosofia e do seu ensino. Com ou sem presunção intelectual ou académica associada.
Cumprimentos e "coerente" dia de trabalho!

Anónimo disse...

Eu acho que fazer greve neste momento não nos leva a nada... Obviamente não sou propriamente uma pessoa que perceba muito destas coisas, mas se não me engano, quem faz greve perde o seu salário desse dia. Ora, se estamos todos assim tão "indignados" porque nos vão à carteira, porque é que ainda vamos perder mais dinheiro? E todos sabemos que não é por causa de greves que nos vão aumentar os salários, até porque o país perde muito dinheiro com greves, e assim ainda será obrigado a "poupar" ainda mais... Por isso pergunto, porquê fazer greve? É claro que um dia sem aulas para mim é bom porque posso adiantar trabalhos que tenho para fazer para as várias disciplinas, mas percebo e apoio os professores que não fazem greve.

Ass: Aluno do 10ºA

Flavius 10a disse...

Eu acho que fazer greve é um bocado "preguiça" , pois se fizer-mos greve ficamos em casa a dormir mais um bocadinho... :)

Mesmo assim,,,

Acho que a greve deve ser aproveitada no caso de fazer falta.
exemplo-
- Trabalhar e não receber o ordenado;
- Trabalhar fora das horas previstas;
- Um trabalho stressante, que a pessoa precisa descansar...entre outros.

Com a greve não iremos dar inicio à uma melhoria do salário nem a uma melhoria do posto de trabalho, só fazemos greve porque queremos e é legitimo.

Greve é um direito que ninguém nos pode tirar, mesmo alguns membros da sociedade discordarem.

DF disse...

Pergunta 1: este não é um blog de apoio ao estudo da Filosofia?
Pergunta 2: por que razão temos de saber, neste blog, das opções pessoais dos autores?

Carlos Pires disse...

Dina Ferreira:

Para um aluno saber previamente se os seus professores fazem ou não greve tem uma utilidade óbvia.

Consideramos inadequado, num blogue principalmente destinado a alunos (mas não só – e isso é uma qualidade e não um defeito) exprimir opiniões com uma relação muito direta e imediata com discussões partidárias.
Mas isso não significa que não possamos assumir nenhuma posição política e cívica se considerarmos que isso se justifica. Fazê-lo não é incompatível com as funções de professor nem com a natureza do blogue. Fazê-lo justifica-se pelo facto de a liberdade de expressão ser um direito básico e também pelo facto da participação nos debates de interesse público ser um dever cívico de todos os cidadãos.

Em diversos momentos escrevemos sobre a avaliação dos professores e outros aspetos da política educativa. As opiniões que exprimimos tinham obviamente uma dimensão política mas não partidária (criticámos os três partidos que nos últimos anos passaram pelo governo). Tivemos dúvidas em certos momentos se não estaríamos a ir longe de mais. Seja como for, tentamos conciliar o dever de ser imparciais e não tendenciosos com o nosso direito à liberdade de expressão.

Num momento tão grave como aquele que Portugal atravessa é importante que as pessoas manifestem publicamente as suas opiniões e as debatam. Os professores que dizem publicamente aos seus alunos que farão greve fazem bem em dizê-lo. Do mesmo modo, os professores que dizem publicamente que não farão greve fazem bem em dizê-lo. Julgamos que tanto uns como os outros cumprem um dever cívico ao fazê-lo.
Optámos por não escrever uma justificação política dessa posição por termos dúvidas se isso seria ou não ir longe de mais. E escrevemos em alternativa uma reflexão que, em princípio, poderá ser perfilhada por quem apoia esta greve – pois trata-se de defender um direito. Julgamos que essa reflexão tem pertinência filosófica e que não fomos longe demais ao fazê-la.

Nas nossas aulas pomos tudo à discussão e os alunos têm completa liberdade de opinião: podem defender que Deus existe ou não existe, que a Ética é subjetiva ou objetiva, etc. – nós avaliamos a justificação das opiniões e não as opiniões em si mesmas. Os nossos alunos estranhariam por isso que os seus professores de filosofia fossem eles mesmos pessoas destituídas de opiniões.

Dina: se tivéssemos dito que iriamos fazer greve terias feito este comentário?

Por último: não estou a negar o teu direito de nos criticares, mas apenas a discordar do conteúdo da tua crítica. Critica mais vezes.

Carlos Pires disse...

Octávio: se ler o DM com atenção terá a sua ação de formação. Gratuita.

Carlos Pires disse...

"Aluno do 10ºA":

Em primeiro lugar: devia ter escrito o seu nome.

Mesmo que tenha razão no que diz e a greve seja um erro político, ela não é um erro cívico, pois fazer greve é um direito democrático.

Carlos Pires disse...

Flavius:

Fazer greve não tem a ver com preguiça. É uma forma de protesto, é uma atitude política legítima. Podemos ou não concordar com uma certa greve, mas como diz no final do seu comentário é um direito. Discordar politicamente de uma greve não significa que a consideremos ilegítima.Discordar de uma certa greve não significa que se ponha em causa o direito à greve.
As pessoas que concordam tanto com esta greve que acusam as pessoas que não a fazem de serem subserviente e outras coisas do género estão a ser dogmáticas. Como diriam Sócrates e Platão, julgam que sabem mas não sabem.

DF disse...

Escrevo porque apenas quero responder ao que me foi perguntado. Aliás, quando me perguntam, eu respondo, ainda que possa errar na resposta. No entanto, para a que me foi feita, sei a resposta: sim, teria feito o mesmo comentário se a notícia fosse: amanhã faremos greve. Na minha perspetiva, seria igualmente irrelevante, tendo em conta o contexto em que é dada.

Carlos Pires disse...

Dina:

E terias tão pouca razão nessa circunstância como tiveste nesta. Aliás, devo dizer que há meses atrás publicamos posts dizendo que faríamos greve.

Mas a palavra mais relevante do teu comentário é o "apenas". Respondi à tua crítica e tu ignoras a minha argumentação. O que ajuda a perceber o caráter gratuito da tua crítica.

andré disse...

Boas noites

Concordo com tudo o que disseram no post (menos com a parte de não fazerem greve, mas também aqui, eu gostava que toda a gente tivesse a mesma opinião que eu e a tivessem feito;) )

Penso que neste blog se podem explanar as razões que nos levam a estas decisões (estará vedada a filosofia politica e a sociologia a este blog?)

No meu caso:
Quando se produz cada vez mais riqueza, mas os ricos são cada vez mais ricos (os famosos 1%) e os pobres mais pobres, a solução (e a única éticamente aceitável) é elevar o nível médio, esbatendo as extremidades...e para isto todas as formas legais de luta são aceitáveis e necessárias.

P.S. Não gosto da palavra “luta (não faz parte do meu léxico usual) e sou pela legalidade, mas quando vejo que foi baixado o rating de Portugal ainda nem se sabiam os resultados da greve (e ainda por cima, o rating nem serve para nada, pois a dívida pública portuguesa nem vai ao mercado,…o financiamento vem todo da troika) e que talvez tenha havido instigadores infiltrados na Assembleia da República, começo a pensar se não estaremos mesmo numa guerra…

Sara Raposo disse...

Dina:

Ainda que concorde com o que Carlos te respondeu, gostaria de acrescentar o seguinte:

1. Este blogue é um projeto da escola desde 2008, sobretudo de Filosofia e destinado a alunos, mas não só: destina-se, sublinho, também à partilha de ideias, materiais e opiniões com professores e outros eventuais interessados. Como podes ler na barra lateral do blogue (e no projeto aprovado pelo conselho pedagógico): “O objetivo deste blogue é partilhar ideias e materiais com alunos, professores e outros eventuais interessados. Ideias e materiais úteis para o estudo e para o ensino da Filosofia no ensino secundário. O blogue constitui também um instrumento de trabalho que os autores e os seus alunos utilizam, em casa e nas aulas, como complemento dos Manuais adotados na escola. Mais raramente, também poderá surgir uma ou outra opinião sobre o estado a que isto chegou.”
Assim, além das informações e materiais didáticos de natureza filosófica (e não filosófica), os autores deste blogue também expressam os seus pontos de vista acerca dos mais diversos assuntos, incluindo temas da política atual e da filosofia política. Sempre o fizemos, como poderás verificar na etiqueta “Opinião” existem 120 posts publicados.

2. Se em democracia debater e confrontar ideias é um direito porque não haveríamos nós de falar da greve, expressando a nossa opinião e relacionando-a com um tema da filosofia política? Haverá alguma boa razão para não emitirmos opiniões acerca deste assunto em particular (quando de facto o fazemos em relação a muitos outros com a avaliação dos professores ou de outros problemas da política educativa)? Porque haveria este tema de ser tratado de modo diferente?

Sara Raposo disse...

(continuação do comentário anterior)

3. Neste blogue foram já tinham sido publicados vários posts sobre o assunto em causa:

http://duvida-metodica.blogspot.com/2008/12/aderi-greve-e-fiquei-em-casa-trabalhar.html

http://duvida-metodica.blogspot.com/2008/12/fiz-greve-e-trabalhei.html

http://duvida-metodica.blogspot.com/2009/01/no-dia-19-preciso-dizer-verdade-toda.html

http://duvida-metodica.blogspot.com/2010/11/data-da-greve-geral.html

Por isso, tenho dificuldade em compreender que só agora afirmes, como fizeste no Facebook do blogue que “não concordas que o blogue, projeto da escola, tenha informação pessoal sobre esta greve ou outra qualquer”. Ou te interrogues só agora “por que razão temos de saber, neste blog, das opções pessoais dos autores?”
Como vês, poderias ter dado a conhecer - há muito mais tempo – a opinião que agora expressas.

4. Ter liberdade de expressão significa ter a possibilidade de apresentar e discutir ideias, mesmo aquelas com as quais não concordamos. Isto aplica-se também, como é óbvio, às ideias políticas e estas podem ser discutidas - com frontalidade e honestidade intelectual - confrontando pontos de vista contrários. Um exemplo mais recente de como isso já foi feito neste blogue:

http://duvida-metodica.blogspot.com/2011/10/qual-e-afinal-democracia-real-e.html
Em suma, considero que as ideias que defendeste estão erradas.
Quem expõe em público as suas opiniões e o seu trabalho (como eu faço) submete-se à crítica, aliás esta é o meio mais precioso de que dispomos para corrigir erros e aperfeiçoar conhecimentos.
Como é sabido as opiniões não valem todas o mesmo, o que importa é a justificação racional apresentada. Portanto, se não concordas com o meu ponto de vista, agradeço que me corrijas, apresentando razões melhores que as minhas. Saliento que discordei do conteúdo da tua crítica e não do facto de a teres feito.

Cumprimentos.

Sara Raposo disse...

Olá André,

Agradeço o teu comentário: a clareza e a franqueza da tua opinião. De facto neste blogue podem-se discutir assuntos da política e da filosofia política. Aliás, era bom que existissem mais cidadãos como tu: dispostos a apresentar as suas ideias e a discuti-las com os outros de forma aberta, sem uma linguagem palavrosa que, às vezes, oculta a falta de ideias. Tal como concluímos no outro dia era importante discutir mais política e mais filosofia política na sociedade portuguesa em geral e nas escolas em particular. Quanto o teu desejo de sucesso da greve, compreendo os teus motivos, embora discorde deles em termos políticos. Julgo que o caminho para sair da crise não passa pela maioria das ideias que defendes, mas aguardo com alguma impaciência o desenrolar dos acontecimentos políticos das próximas semanas e penso que esta contestação poderá ter o efeito de fazer os políticos repensarem a distribuição dos cortes que são nalguns casos socialmente injustos.

Até logo.