“O ditado de que a verdade triunfa sempre sobre a perseguição é uma daquelas falsidades agradáveis que as pessoas repetem entre si até chegarem ao estatuto de lugares-comuns, mas que toda a experiência refuta. A história está repleta de exemplos de verdades esmagadas pela perseguição. Mesmo que não sejam suprimidas para sempre, poderão ser relegadas para o esquecimento durante séculos. (…) A perseguição foi sempre bem sucedida, excepto quando os heréticos constituíam uma facção demasiado forte para ser eficazmente perseguida. (…) É apenas vã sentimentalidade pensar que a verdade, enquanto verdade, tem um poder inerente – que o erro não tem – de prevalecer contra a masmorra e a fogueira. As pessoas não se dedicam mais à verdade que – como frequentemente acontece – ao erro, e uma aplicação suficiente de punições legais e até sociais geralmente conseguirá travar a propagação tanto de uma como de outro. A verdadeira vantagem da verdade é a seguinte: quando uma opinião é verdadeira, pode ser extinta uma, duas ou até mais vezes, mas no decorrer do tempo haverá geralmente pessoas que a redescubram, até algum dos seus ressurgimentos calhar numa altura em que, devido a circunstâncias favoráveis, escape à perseguição até ter adquirido ímpeto suficiente para aguentar todas as tentativas subsequentes de a suprimir.”
John Stuart Mill, Sobre a Liberdade, Edições 70, 2006, Lisboa, pp. 67-68.
4 comentários:
Mas faz bem pensar que sim... é mais saudável!
Caia:
Acreditar em algo que não é verdade (seja acerca da própria verdade seja acerca de outro assunto qualquer) será realmente saudável? Uma vida apoiada em mentiras é uma vida ilusória que não nos permite ser donos de nós próprios.
Antes a realidade, por dura e difícil que seja - creio eu!
Por outro lado: dizer que é bom acreditar em algo que não é verdaderio acerca da própria verdade é contraditório.
Um olhar panorâmico sobre o passado confirma a tese de John Stuart Mill. Romanticamente, tendemos a acreditar que a verdade triunfará sobre o erro, mas a história nos desestimula a crer nisso. Copérnico e Galileu que o digam. Ambos pagaram alto preço por contradizer a visão tradicional a respeito do universo.
Uma panorâmica sobre a história parece confirmar a tese de John Stuart Mill. Romanticamente, tendemos a crer que a verdade triunfará sobre o erro. Ledo engano! Copérnico e Galileu que o digam! Pagaram alto preço por contrariar a visão tradicional a respeito do universo.
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