Diálogo entre dois adolescentes portugueses, ambos alunos do 12º ano. Data: 7 de Abril de 2012, a poucos dias, portanto, do final das férias da Páscoa. O diálogo é verídico, infelizmente.
- Já leste o livro para Português?
- Qual livro?
- O Memorial do Convento.
- Ah, ah, ah! Imagina, eu ler aquilo…
- Mas…
- A minha professora deu-nos um resumo. Tu leste aquela seca??
- Estou a ler…
- Como é que consegues? Ler é tão chato!
- Confesso que não estou a gostar muito, mas os meus pais obrigam-me a ler, por isso… Para falar verdade, mesmo que eles não me obrigassem eu tentaria ler o Memorial do Convento, pois quero ter boa nota… Mas, olha, ler não é assim tão mau como tu pintas…
- Ah, já me esquecia, tu gostas de ler…
- Bom, eu gosto de ler outros livros… Recentemente li Os Jogos da Fome e gostei muito. Queres que te empreste? São três volumes mas lêem-se num instante!
- Naaa! Eu depois vejo o filme… E se fôssemos jogar um jogo no computador?
2 comentários:
Este é apenas um exemplo,entre muitos, que os nossos alunos,honestos, sinceros e inteligentes,nas suas conversas informais e intimas, expressam o seu sentir face às barbáries de que são alvo,não só pelos programas, mas também pela incompetência científica e pedagógica de muitos docentes.
Ler José Saramago e "Memorial do convento", sem hábitos de leitura e motivação para tal, é impossível. Mas pior que isso, penso eu, é um professor sugerir a leitura de resumos; inqualificável: o próprio professor facultar aos alunos esses resumos.
Então como proceder para que os alunos leiam uma obra que tem caráter obrigatório no 12º ano?
O diálogo isento de imposição, simples, verdadeiro. Este é o meu procedimento.Tentar enganar os alunos é um erro. Eu aprecio muito José Saramago e a obra "Memorial do convento", mas admito perante os meus alunos que não é fácil ler e comprender este autor. Preocupo-me, sim, em encontrar estratégias que lhes permitam comprender a importância da leitura, em geral, e deste autor em particular. Seria uma enorme hipocrisia, gabar-me que a maioria dos meus alunos lê, na íntegra, a referida obra... O facto de conseguir motivar alguns alunos,muito resistentes, já me regozija.
Ler não é chato. É preciso aprender a ler como deve de ser pois, a partir do momento em que se descobre a leitura, não há limites...
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