sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Um Ano Novo com lucidez ... e esperança!

“A esperança é uma arma poderosa mesmo quando nada mais resta.”

É habitual desejarmos nesta altura: Um Bom Ano Novo!

Contudo, o próximo ano dificilmente será bom. Em termos económicos e sociais, muito provavelmente será péssimo. Os motivos desta previsão realista são públicos: uma crise económica interna duradoira (Portugal é um país endividado, pouco produtivo, os dinheiros vindos de Bruxelas não foram investidos de forma a gerar riqueza para o país, há corrupção, não há investimento….) e a crise externa.

O meu principal desejo – utópico – para o próximo ano diz respeito a algo que  poderia ajudar, senão a acabar, pelo menos a diminuir a crise: que a indiferença, da maioria das pessoas perante as decisões dos políticos seja substituída por uma atitude atenta e crítica.

Eis alguns alvos possíveis dessa atenção:

- o modo como são aplicados os dinheiros públicos (pelo governo e pelas autarquias, por exemplo);

- o modo como estão a ser distribuídos os sacrifícios que se pedem, em nome da crise, aos portugueses;

- o modo como são responsabilizados, do ponto de vista jurídico, os políticos cujas decisões prejudicam os interesses do país;

- o modo como é aplicada a justiça e garantida a igualdade dos cidadãos perante a lei.

Deixo-vos uma sugestiva reflexão de Nelson Mandela sobre o exercício do poder político, após ter sido presidente da África do Sul. Ele não se refere a nenhum político português, mas…

“De facto, quando os regimes reaccionários foram por fim derrubados, os libertadores tentaram com todas as suas capacidades e com os recursos de que dispunham concretizar esses nobres objectivos e introduzir formas de governo transparentes, livres de todas as formas de corrupção. Os membros do grupo oprimido tinham a esperança de que os seus sonhos mais acalentados iriam por fim ser alcançados, e de que, chegado o momento, iriam recuperar a dignidade humana que lhes fora negada durante décadas ou mesmo séculos.

Mas a história não deixa de pregar partidas mesmo aos mais experientes e mundialmente famosos combatentes pela liberdade. Com alguma frequência, antigos revolucionários têm cedido à cupidez e a tendência para se apropriarem de recursos públicos para seu próprio enriquecimento acabou por dominá-los. Ao acumularem riqueza pessoal, e ao traírem os nobres objectivos que lhes granjearam fama, acabaram por abandonar as massas populares e por se juntar aos antigos opressores, eles próprios enriquecidos graças à espoliação impiedosa dos mais pobres entre os pobres.”

Nelson Mandela, “Arquivo íntimo” , Lisboa, 2010, Editora Objectiva, págs. 176 e 406.

7 comentários:

José Dias disse...

Utópico sem dúvida. Os portugueses querem lá saber da crise. Porque é que acha que Salazar se manteve no poder tantos anos?

José Dias disse...

Em Portugal há muita corrupção mas não há políticos tão corruptos como esses que o Mandela fala, Se calhar apenas por falta de ocasião.
Mas também não há nenhum Mandela!

Anónimo disse...

Completamente de acordo. As "dicas" propostas pelos autores do "blog" remetem para a necessidade urgente do exercício pleno da cidadania que não se esgota, sobretudo nos sistemas políticos democráticos, no acto de votar. É um erro crasso pensar-se o contrário, um erro alicerçado, possivelmente, na ingenuidade de quem acredita na absoluta "boa vontade" e altruísmo de quem orienta os destinos de um povo. Será importante ter em conta que a democracia não é uma conquista para todo o sempre mas um processo em contínuo desenvolvimento.

Carlos JC Silva

Bípede Falante disse...

bons desejos os seus, muito bons!

Sara Raposo disse...

José:
O panorama político português é desolador, mas o que havemos de fazer senão ser optimistas?
Um bom ano para si!

Sara Raposo disse...

Bípede:
Obrigada. Um bom ano para si!

Sara Raposo disse...

Carlos:
Penso que muitas pessoas em Portugal não valorizam suficientemente o facto de viverem em democracia e não utilizam a possibilidade de discutir algumas das ideias e práticas vigentes ou de intervir para defender os seus direitos cívicos. Se o fizessem, de certeza, teríamos melhores políticas e melhores políticos.
Cumprimentos.