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«Porque é que não basta seguirmos os nossos sentimentos, ou “seguir o instinto”, quando pensamos no que deveríamos fazer ou como deveríamos viver?
Os sentimentos são essenciais, como é evidente. Uma vida sem amor, agitação e até mesmo dor não é vida. Nenhuma ética em consonância com a vida é capaz de o negar. Só que os sentimentos não são tudo. Podem ser o começo mas não são o fim. Também deve haver um certo tipo de pensamento.
Vejamos o caso do preconceito. Ser preconceituoso é ter um forte sentimento negativo em relação a alguém pertencente a uma diferente etnia, sexo idade, classe social, etc. Se a ética fosse apenas uma questão de sentimentos, nada haveria a fazer contra tais preconceitos. Seria perfeitamente moral discriminar pessoas das quais não gostássemos.
O instinto diz sim. A ética diz não. Em contrapartida, a ética pode desafiar esses mesmos sentimentos. “Preconceito” quer dizer literalmente “pré-conceito”: é uma forma de não prestar realmente atenção. Mas é preciso prestar atenção. É preciso perguntar-nos porque é que nos sentimos de uma determinada maneira, se as nossas convicções ou sentimentos são verdadeiros ou justos, como nos sentiríamos na pele de outra pessoa, e assim por diante. Em resumo, precisamos de nos perguntar se os nossos sentimentos se justificam e, quando não, que sentimentos alternativos os deviam substituir.
Assim, a ética pede para pensarmos cuidadosamente, até mesmo sobre sentimentos que podem ser muito fortes. A ética pede para vivermos atentamente: preocuparmo-nos com o modo com agimos e até mesmo como sentimos.»
Anthony Weston, Ética para o dia-a-dia, Esquilo Editora, 1ª Edição, Lisboa, 2002, págs. 15-16.
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