Coloquei um desafio (aqui) aos meus alunos do 10º ano: turmas C, D e F. Agradeço a todos os que se empenharam e se atreveram a expressar publicamente as suas opiniões.
Os melhores trabalhos sobre o vídeo 1, ainda que existam outros cuja leitura também vale a pena, foram realizados pelas alunas: Alina Dahmen (turma C) e Filipa Santos (turma D).
Ei-los:
O vídeo “Mito da Caverna – por Maurício de Souza” retrata uma realidade que pode identificar-se com o que acontece nos dias de hoje.
Os três velhos deste vídeo ocupavam a sua vida a observar a sombra das pessoas e dos animais que passavam à frente da parede da caverna, tal como os presos da Alegoria da Caverna viam as sombras projectadas dos objectos que passavam atrás das suas costas. Estes velhos (ou os prisioneiros da alegoria da caverna) assumiam como realidade todas as sombras que viam passar e não pensavam sequer que existisse qualquer coisa diferente para conhecerem.
A vida deles passava-lhes “à frente dos olhos”, sem que eles participassem activamente nela. Podem, portanto, ser considerados “espectadores da vida” (tal como Maurício de Souza refere). Por pensarem conhecer toda a realidade, ridicularizaram e perseguiram o seu “salvador” por este lhes querer mostrar a verdadeira vida e a realidade, ou seja, o exterior da caverna, os objectos e os seres vivos em três dimensões, aqueles que davam origem às sombras.
Era mais fácil para eles continuarem na ignorância do que fazer o esforço para alcançar o conhecimento e questionar as sombras, a ilusão vivida. Esses “prisioneiros das sombras”, semelhantes aos prisioneiros da caverna de Platão, representam todas as pessoas que dependem da televisão e que preferem aceitar os “conhecimentos” transmitidos por esta a pensarem por si próprios. Na maior parte das vezes, os espectadores nem se questionam se estes conhecimentos são ou não verdadeiros. A televisão tem, também, grande poder de influência. Se existem dois produtos alimentares de diferentes marcas, por exemplo um azeite, e uma das marcas tiver publicidade em vários canais televisivos, o outro produto - de uma marca menos conhecida mas com ingredientes de melhor qualidade - venderá menos. Se uma pessoa, diante os dois produtos, tiver de decidir qual deles comprar, provavelmente, escolherá o primeiro, pois este é “aconselhado” pela televisão. A publicidade é apenas um dos muitos exemplos do poder da televisão. Esta, além de informar, pode também manipular, se não adoptarmos um ponto de vista crítico.
Alina Dahmen (turma C)
Platão, filósofo grego, na Alegoria da Caverna, afirma que os prisioneiros são semelhantes a nós. Significa que, tal como os prisioneiros, também nós confundimos a aparência com a realidade e julgamos ser verdadeiro o conhecimento que é, na realidade, falso. A diferença reside no facto de nós não estarmos presos da mesma maneira que os prisioneiros descritos por Platão estão, visto que nos encontramos presos psicologicamente, e não fisicamente.
Na Alegoria da Caverna, Platão descreve um grupo de homens que se encontram acorrentados no interior de uma habitação subterrânea, onde tudo o que conseguem ver são sombras e, por isso mesmo, julgam que estas são a realidade, dado que esta é a única a que têm acesso. Esses prisioneiros representam os indivíduos que, na nossa sociedade, têm uma atitude acrítica e dogmática. As sombras, tidas ilusoriamente como a realidade, correspondem às crenças que a maior parte de nós possui e julga serem incontestáveis.
Um dos prisioneiros consegue libertar-se, caminhando em direcção à luz: o conhecimento. Tem, no início, muita dificuldade em olhar para a luz, mas tenta com muito esforço habituar-se a ela. Falando, filosoficamente, ele passou a ser capaz de pôr em causa as crenças, que antes possuía e aceitava acriticamente, e procurou uma justificação racional para estas.
Quando o prisioneiro liberto regressa à caverna, não é bem aceite pelos outros. Estes consideram-no um louco e poderiam até tentar matá-lo, diz Platão. Isto acontece porque eles estão convencidos que conhecem a realidade e possuem a verdade e, por isso, não se sentem à vontade quando alguém os tenta chamar à razão, como fez o prisioneiro já solto.
Este texto, escrito por Platão, faz-nos pensar que se optarmos por um ponto de vista filosófico, não seguiremos a opinião da maioria só porque é mais fácil e não requer qualquer esforço da nossa parte, mas sim pensaremos pela nossa cabeça justificando racionalmente as nossas ideias.
Depois de ter feito um pequeno resumo da Alegoria da Caverna e uma breve interpretação da mesma, posso então dizer que o tema que escolhi foi o do artista brasileiro Maurício de Souza que criou uma pequena banda desenhada ("As Sombras da Vida"). Ele compara os prisioneiros com as pessoas que se tornam dependentes da televisão e acabam por confundir as imagens televisivas com a sua vida. Neste caso, as pessoas aceitam como verdadeira uma ''realidade imaginária'', artificial e programada com o objectivo, muitas vezes, de manipular as suas ideias e emoções. Vivem a vida dos personagens em vez de viverem a sua própria vida.
Podemos estabelecer uma relação entre o modo como algumas pessoas usam as recentes descobertas tecnológicas, nomeadamente a televisão, e a situação dos prisioneiros. Tal como Platão refere, há dois caminhos possíveis: deixar-se levar pela fantasia e pela ilusão, aceitando, sem reflectir, o conhecimento que nos é transmitido ou, então, esforçar-nos por obter conhecimentos que nos permitam analisar criticamente a informação transmitida. Cabe a cada um de nós escolher.
Filipa Santos (turma D)