domingo, 26 de fevereiro de 2017

O pesadelo da igualdade

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Imagine uma sociedade que, em nome da igualdade, obrigasse os cidadãos mais rápidos a usar pesos que impediam que a sua velocidade superasse a dos outros. Imagine também que os cidadãos mais inteligentes eram obrigados a ouvir permanentemente um ruído perturbador que os impedia de ser mais perspicazes que os outros. Talvez não fosse uma sociedade boa para viver.

O escritor norte-americano Kurt Vonnegut descreveu uma sociedade desse género no conto Harrison Bergeron. Pode lê-lo, traduzido por Desidério Murcho, na revista Crítica: Harrison Bergeron. Começa assim:

“Era o ano 2081, e toda a gente era finalmente igual. Não apenas perante Deus e a lei. Igual em todos os aspectos. Ninguém era mais inteligente. Ninguém era mais bem parecido. Ninguém era mais forte ou rápido. Toda esta igualdade era devida às 211.ª, 212.ª e 213.ª emendas constitucionais, e à vigilância incessante dos agentes da Direcção-Geral Incapacitante dos Estados Unidos.”

Com base no conto foi feito um filme. O conto é muito melhor que o filme, mas mesmo assim não é tempo perdido vê-lo depois de ter lido o conto.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Argumentos contra Formação Cívica e Área de Projeto

roda crianças formação cívica

Todos os governos têm feito a mesma coisa na educação: identificam coisas que acham erradas e fazem mudanças avulsas e mal preparadas que geralmente pioram a situação. Trocam coisas boas por coisas piores e corrigem mal coisas más. O atual governo já fez algumas dessas mudanças desastrosas e prepara-se para fazer outras. Um exemplo notório das que já foram feitas é a extinção dos exames no 1º e 2º Ciclo. Relativamente às que aí vêm, a pior (pelo menos enquanto não tentarem abolir as reprovações) é o regresso de disciplinas como Área de Projeto e Formação Cívica (neste caso no secundário, pois já existe nos Ciclos anteriores). Felizmente nem tudo é mau e há pelo menos duas intenções boas: reduzir o tamanho dos programas e redistribuir as cargas horárias das disciplinas, dado que algumas têm muitos tempos letivos e outras poucos. Veremos se essas intenções se concretizam e, caso se concretizem, se a redução e a redistribuição são bem feitas.

Quase toda a gente reconhece que os alunos têm aulas a mais e passam demasiadas horas na escola. Isso repercute-se por exemplo no peso das mochilas, que – como tem sido denunciado – é excessivo e prejudicial à saúde. Mas se é assim, é absurdo criar novas disciplinas. Novas disciplinas implicam mais tempo na escola e mochilas ainda mais pesadas.

Contudo, há argumentos mais fortes contra a existência desse género de disciplinas. Um deles é que, como mostra a experiência passada, não são eficazes.

Os alunos não aprendem a fazer trabalhos de pesquisa nem desenvolvem a sua autonomia fazendo trabalhos sobre temas vagos e desligados dos temas curriculares, como é típico de uma coisa chamada Área de Projeto. A interdisciplinaridade assim conseguida geralmente é nominal e não real: é apenas algo que fica escrito nos papéis que os professores são obrigados a preencher, mas não acrescenta nem competências nem conhecimentos aos alunos. Um inquérito a alunos que há anos atrás tiveram Área de Projeto no 12º ano e a alunos que têm disciplinas afins (com nomes diversos) na Universidade mostraria que a maioria deles as veem como disciplinas menores e até desprezíveis. Para que os alunos desenvolvam competências de pesquisa nada melhor que pedir-lhes trabalhos nas disciplinas curriculares e acompanhá-los na sua realização, mas para isso é preciso reunir algumas condições, nomeadamente tempo (os programas não deverão ser tão extensos como atualmente) e um mínimo de articulação entre os programas das várias disciplinas, para que a interdisciplinaridade não seja uma miragem que nunca sai do papel.

Quanto à Formação Cívica: a autêntica educação para a cidadania não é a “catequese” politicamente correta que geralmente faz parte dos programas dessa disciplina, mas sim um bom ensino das outras disciplinas. Na Filosofia, nas línguas estrangeiras, no Português, na Biologia, na História, entre várias outras disciplinas, há muitos temas cuja lecionação pode promover eficazmente – se incluir informação rigorosa e imparcial, debate dos aspetos polémicos, etc. – os valores democráticos, os direitos humanos e o respeito pela natureza, entre outras atitudes estimáveis. Fornecer, numa aula de Biologia, informações rigorosas sobre a genética e as raças é muito mais eficaz no combate ao racismo do que pedir aos alunos, em Formação Cívica, trabalhos de grupo panfletários sobre a igualdade racial. Discutir o relativismo cultural numa aula de Filosofia (por exemplo: criticar a excisão e o casamento de crianças implica desrespeitar os povos que têm esses costumes?) faz mais pela compreensão da importância dos direitos humanos do que a sua apologia em tom de sermão numa aula de Formação Cívica.

Por isso, uma boa maneira de aliviar as tardes e as costas dos alunos seria não fazer regressar essas disciplinas. Quanto à Formação Cívica que atualmente existe devia mudar o nome para Assuntos da Direção de Turma, que é a sensata função que muitos diretores de turma atualmente lhe dão.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Condenado a ser livre

Jean Paul Sartre dizia que os seres humanos estão condenados a ser livres, pois não só podemos escolher, como temos sempre de escolher. Tendo ficado sem uma perna não podemos escolher, obviamente, voltar a ter a perna de volta. Também não podemos escolher não ter tido negativa num teste ou não ter feito uma asneira que já fizemos. Mas em todos esses casos podemos escolher a nossa reação perante esses problemas. Não reagir (ou seja, ficar apático e baixar os braços) é também uma reação. Não querer escolher é também uma escolha: daí que Sartre não diga apenas que somos livres, mas que estamos condenados a sê-lo. E havendo liberdade há responsabilidade.

A história deste vídeo ilustra essa ideia muito bem e pode ser o princípio de uma discussão sobre o livre-arbítrio. Além disso, a história é bonita e edificante, sem ser moralista nem lamechas. Vale a pena ver.

The Present from Jacob Frey on Vimeo.

Quais são os prazeres superiores?

Stuart Mill distinguiu entre prazeres superiores e prazeres inferiores. Vamos tentar testar essa distinção. Se tivesse de escolher entre uma pizza e esta música de Handel, o que escolheria? E entre a pizza e o poema de Yeats?

pizza

Handel: He Shall Feed His Flock

Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas;

Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;

Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.

W.B. Yeats, Uma antologia, tradução de José Agostinho Baptista, Lisboa, Assírio & Alvim.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Dúvidas sobre a escolha do curso superior? Há sítios a visitar

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No site da DGES podem pesquisar - na barra lateral - por área de estudos, por instituição, curso e distrito (obtêm informações das provas de acesso, das médias em anos anteriores). Eis o link:

Informação disponível relativa aos exames nacionais de 2017 é a seguinte:

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Inscrição nos exames nacionais 2017: informações e legislação





Antes de se inscreverem nos exames nacionais, os alunos deverão esclarecer as suas dúvidas nos documentos seguintes:

-Guia Geral de Exames 2017;

Como escolher os exames nacionais a realizar em 2017?

Imagem relacionada
O cartoon foi retirado deste sítio.
 
Dentro de pouco tempo os alunos do 11º ano (e do 12º) dos cursos de ciências, artes, humanidades e economia terão de escolher as disciplinas em que vão realizar exames nacionais obrigatórios (para conclusão de duas disciplinas - com o peso de 30% na classificação final) e que podem também utilizar como provas de acesso à universidade.
As provas de ingresso, na candidatura a cada curso, são fixadas por cada instituição de ensino superior. A informação disponível sobre os exames finais nacionais do ensino secundário que podem ser utilizados como provas de ingresso será divulgada no Guia Geral de Exames 2017 (que ainda não está disponível). Para cada um dos seus cursos, cada instituição de ensino superior fixa, no mínimo, uma prova de ingresso e no máximo, duas.
Uma boa escolha em 2017 terá de ter em conta a informação disponível em 2016, no site do governo, relacionada com os cursos existentes e as provas de ingresso, as vagas da 1ª e da 2ª Fase em cada instituição e as médias de acesso para cada curso:
 

A informação disponível relativa aos exames nacionais de 2017 é a seguinte:
Para os alunos que, em função dos seus interesses e preferências, ponderem fazer o exame nacional de Filosofia (esta faz parte de um leque de três disciplinas no 11º ano, podendo os alunos optar por duas, tanto nos cursos de ciências, artes, humanidades e economia), seguem-se informações que poderão levar a uma escolha mais racional e fundamentada:
Exame nacional de Filosofia 2017: informação IAVE

Matriz do 3º teste do 11º ano

Cerebro numa cuba 1      brain_in_a_vat_thought_bubble  cérebro numa cuba

Duração: 100 minutos.

Objetivos:

1. O que é a Epistemologia?

2. Em que consiste o saber-fazer?

3. Em que consiste o conhecimento de contacto?

4. Em que consiste o conhecimento proposicional?

5. Qual é a definição tradicional de conhecimento?

6. Porque é que a crença é uma condição necessária do conhecimento?

7. Porque é que a verdade é uma condição necessária do conhecimento?

8. Qual é a diferença entre palavras factivas e palavras não factivas?

9. Porque é que a justificação é uma condição necessária do conhecimento?

10. Porque é que cada uma dessas condições isoladas ou agrupadas duas a duas não constituem condições suficientes do conhecimento?

11. Em que consistem os contraexemplos à definição tradicional de conhecimento?

12. Porque é que nos casos descritos nesses contraexemplos não há conhecimento?

13. O que é o ceticismo? Qual é a diferença entre ceticismo moderado e ceticismo radical?

14. Qual é, segundo o ceticismo radical, o problema da justificação?

15. Será que o ceticismo radical se autorrefuta?

16. Em que consiste o argumento cético dos erros percetivos?

17. Em que consiste o argumento cético da regressão infinita da justificação?

18. Conhecer alguns cenários céticos: sermos um cérebro numa cuba, a vida ser um sonho, a situação descrita no filme Matrix, etc.

19. Em que medida o ceticismo lança um desafio a quem se afirma detentor conhecimento?

20. Como é que Descartes tentou responder ao desafio cético?

21. O que é a dúvida metódica?

22. Porque é que Descartes tinha como objetivo encontrar uma crença indubitável e básica?

23. Quais são as principais etapas do percurso da dúvida metódica?

24. Porque é que Descartes recorreu ao à hipótese do Génio Maligno?

25. Porque é que Descartes considera o Cogito como indubitável?

26. Como é que o argumento da marca tenta provar a existência de Deus?

27. Em que consiste a objeção que diz: “criar a ideia de perfeição é diferente de criar a própria perfeição”?

28. Em que consiste o critério das ideias claras e distintas?

29. Qual é a função de Deus no sistema cartesiano?

30. Em que consiste a objeção do círculo cartesiano?

31. O Cogito será realmente uma crença básica?

32. Como avalia a tentativa feita por Descartes para refutar o ceticismo e fundamentar o conhecimento?

Natureza das questões:

Escolha múltipla, questões de resposta curta e questões de resposta extensa.

Para estudar:

Blogue: Links sobre Epistemologia

PDF´s fornecidos aos alunos

Manual: da página 139 à página 167.