Se o relativismo cultural fosse verdadeiro, não faria sentido falar de progresso moral.
Por exemplo: o facto de as mulheres há décadas atrás não poderem votar e hoje já poderem (em muitos países) é habitualmente visto como um mudança positiva, como um progresso. Ver essa mudança como um progresso parece ser algo muito plausível e sensato. Mas isso implica uma comparação entre os padrões culturais atuais e os padrões culturais de épocas anteriores (que eram aceites pela grande maioria das pessoas) e a afirmação de que, pelo menos nesse aspeto, as sociedades atuais são melhores que as sociedades do passado. Ora, segundo o relativismo cultural, esses juízos transculturais não são – supostamente - possíveis (pois quando tentamos fazê-los limitamo-nos a exprimir a nossa própria cultura) 1.
Há vários outros exemplos semelhantes: a escravatura, os direitos das crianças, etc.
Como esses exemplos mostram, temos boas razões para falar da existência de progresso moral. Por isso, o relativismo cultural muito provavelmente não é verdadeiro.
Harry Grant Dart, "Why Not Go the Limit?", na revista Puck, em 1908.
O cartoon é uma paródia do movimento sufragista, ou seja, das pessoas que defendiam o direito das mulheres votarem2. O desenho é bom, mas incorre claramente na falácia da derrapagem (também conhecida por bola de neve ou declive escorregadio).
1 James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, tradução de F. J. Azevedo Gonçalves, Lisboa, 2004, Colecção Filosofia Aberta, Edições Gradiva, pp.41-42.
2 The Appendix.
1 comentário:
Dificilmente estou de acordo: todos os comportamentos representados foram mais do que ultrapassados! Talvez a intenção fosse essa, mas o argumento acabou por se revelar correcto não podendo portanto ser considerado falácia. Faltou ainda ao artista a visão necessária para "saltar" para o inverosímil: o corte nas roupas!
Enviar um comentário