segunda-feira, 22 de abril de 2013

Um passeio literário pela Lisboa de Pessoa

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Na visita de estudo de 26 de fevereiro, fizemos um percurso  a pé por alguns locais significativos na vida e obra do poeta Fernando Pessoa. Este passeio foi organizado e guiado pela professora de Português, Dina Ferreira. A selecção e as explicações  ficaram a cargo da professora, a leitura dos poemas coube aos alunos. A fotografias que acompanham os poemas lidos, à excepção das duas primeiras, são da autoria do alunos Rafael Fonseca do 11º D.

ESTAÇÃO DO ROSSIO

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!
Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa, 20-9-1933

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IGREJA DOS MÁRTIRES

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto,
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

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ESTÁTUA EM FRENTE DO CAFÉ BRASILEIRA

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CASA ONDE NASCEU FERNANDO PESSOA

Aniversário
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
(…)
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira! ...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro de Campos, Aniversário

À minha querida mamã
Eis-me aqui em Portugal
Nas terras onde nasci.
Por muito que goste delas
Ainda gosto mais de ti.

Fernando Pessoa, 26-07-1895 (1º poema escrito e conhecido com 7 anos)

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TEATRO S. CARLOS

(…)
Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão verde tornando-se jockey amarelo...
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...)
(…)
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro

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ESTÁTUA EM FRENTE DA CASA ONDE NASCEU FERNANDO PESSOA

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LARGO DO CARMO, outra morada de Pessoa

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
(…)
Álvaro de Campos, Passagem das Horas

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CAFÉ MARTINHO DA ARCADA

Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as cousas sem sentimentalidade nenhuma.

Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as cousas são reais e todas diferentes umas das outras;

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"

E por último, o ponto de vista de alguns dos alunos do 11º D e 12º E:

Já pensaram se fôssemos todos memoráveis? Se o mundo pudesse conhecer a nossa vida através da nossa cidade, dos locais por onde passámos?

Tal como explicou a nossa professora de português:

“As cidades não serão mais do que o resultado das pessoas que nelas viveram, vivem e viverão. Então Lisboa poderá ser também Pessoa: onde nasceu, viveu e morreu. Ainda habitará, hoje, o poeta nas ruas desta cidade? A resposta poderá ser encontrada no percurso que iremos realizar na tentativa de solucionar o dilema: PESSOA EM LISBOA OU A LISBOA DE PESSOA?”

Na expectativa de conhecer mais sobre o memorável poeta, Fernando Pessoa, realizámos um passeio literário pedestre, onde pudemos conhecer mais sobre a vida  e obra deste escritor.

Passámos por vários lugares ligados à obra do poeta e lemos poemas relacionados com esses locais, por exemplo, junto à Igreja dos Mártires, no Chiado, onde Pessoa foi batizado (lemos o poema “Ó sino da minha aldeia”) e a casa onde nasceu o poeta, cujo edifício pertence agora à Caixa Geral de Depósitos. Em cada sítio, descobrimos mais sobre Pessoa e a sua vida: onde nasceu, viveu e com quem conviveu, onde trabalhou e até sobre o seu  romance platónico com Ofélia Queirós.

Podemos assim solucionar o dilema que inicialmente nos foi colocado. É A LISBOA DE PESSOA, pois apesar de passarem por esta cidade muitas pessoas, mais nenhuma conseguiu o que este ilustre poeta alcançou: tornar inesquecíveis certos locais através de alguns dos seus poemas.

Catarina Bárbara 12ºE

Realizámos o percurso pessoano. Passámos por vários locais importantes da vida de Fernando Pessoa em Lisboa, como por exemplo a casa onde o poeta nasceu nasceu, a casa da sua amada Ofélia Queirós, a estação do Rossio em que via partir alguns dos seus amigos, etc. As paragens nos locais eram sempre acompanhadas por uma descrição da professora de Português do local e da sua importância na vida do autor e pela leitura de um poema de Pessoa realizada pelos alunos. Esta parte da visita foi bastante enriquecedora. Os alunos puderam aprender mais sobre a vida de Fernando Pessoa e andar pela mesma calçada que o autor português pisou!

Rafael Fonseca, Fábio Gonçalves, Marco Fidalgo, Patrícia Pacheco e Joana Viegas, 11º D

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