segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O mar e a vida num poema

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A fotografia foi tirada daqui.

 Canção

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles

5 comentários:

Bípede Falante disse...

Grande Cecília!
Belíssimo poema.

ana disse...

O poema de Cecília Meireles é muito bonito!

Joaquim disse...

O poema é belíssimo, mas a interpretação da Amália não lhe fica atrás.

Sara Raposo disse...

Olá a todos:

Agradeço os vossos comentários. É bom ter feedback quando partilhamos aquilo de que gostamos.

Joaquim, eu concordo consigo. Sou uma grande admiradora da Amália (como se pode verificar na etiqueta "música" deste blogue). Penso aliás que alguns poemas cantados pela voz dela ganham ainda mais beleza. Um poeta português, se não estou em erro chamado Davis Mourão Ferreira, disse uma vez que quando a Amália interpretava os poemas dele, era como se estes ganhassem uma nova vida.
Algumas pessoas, que eu conheço, ditas de esquerda associam a Amália ao Salazarismo e por isso depreciam a sua música. Acho que estão profundamente erradas, pois até agora poucas pessoas souberam cantar como ela o fazia.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Lindo.