Texto publicado na edição online da Revista Sábado, em 02-03-2015.
Elementos Básicos de Filosofia, de Nigel Warburton
Edição revista e aumentada
Tradução de Desidério Murcho e Aires Almeida
Revisão científica de António Franco Alexandre
Gradiva, Abril de 2007, 284 pp.
Há muitas introduções à filosofia, mas poucas são melhores que Elementos Básicos de Filosofia, de Nigel Warburton. A primeira edição portuguesa data de 1998 e a segunda (revista e aumentada) de 2007.
O livro contém sete capítulos, cada um com um tema diferente: Deus, Bem e mal, Política, O mundo exterior, Ciência, Mente e Arte. Em cada um dos capítulos existe uma breve apresentação dos problemas filosóficos associados ao tema geral e depois é feita a sua discussão: após a exposição de uma teoria ou argumento são sempre apresentadas críticas. No final de cada capítulo existe uma breve conclusão e uma pequena lista de leituras complementares. O livro inclui ainda uma introdução, um índice analítico e um glossário inglês-português.
Os capítulos são independentes uns dos outros, pelo que podem ser lidos pela ordem que a curiosidade ou a necessidade do leitor ditarem.
A lista de problemas filosóficos discutidos no livro é extensa e variada. No espaço de algumas dezenas de páginas o leitor é confrontado com questões tão diversas como estas: Devemos dizer sempre a verdade ou por vezes pode ser correto mentir? Qual é a justificação e a finalidade do castigo? Qual é realmente a relação entre a mente e o corpo? Será que um quadro original tem mais valor artístico que uma imitação perfeita?
Apesar disso, a lista não é exaustiva - nem poderia ser, dado o carácter introdutório do livro e a imensidão dos assuntos que interessam à filosofia. Um problema fundamental que não é discutido é o livre-arbítrio. A lógica também está ausente.
Na introdução, onde Nigel Warburton tenta caracterizar a natureza da filosofia, é dito que o "leitor ideal" de Elementos Básicos de Filosofia "será aquele que o ler criticamente, questionando constantemente os argumentos usados e concebendo contra-argumentos". O leitor de um livro de filosofia deve ter essa atitude porque a filosofia é "uma actividade: uma forma de pensar acerca de certas questões", pelo que recebê-la passivamente seria antifilosófico. Daí que Warburton também diga que o seu "objectivo é oferecer ao leitor instrumentos para pensar por si próprio".
Para alcançar esse objectivo o livro, além da estrutura argumentativa que já referi (cada teoria é sempre confrontada com várias objecções), conta com uma linguagem clara e acessível: "tentei evitar a gíria desnecessária e explicar os termos desconhecidos a par e passo". Em nenhum momento o texto pressupõe conhecimentos filosóficos prévios por parte do leitor.
O que se pode ganhar com a leitura deste livro e com o estudo da filosofia em geral? Nigel Warburton indica vários benefícios, mas vou referir apenas dois deles. As pessoas têm geralmente muitas crenças cuja veracidade nunca questionaram e que aceitam acriticamente. Ora, isso é "como conduzir um automóvel que nunca foi à revisão". Considere-se por exemplo a crença comum de que "não se deve matar. Mas por que razão não se deve matar? Que justificação existe para dizer que não se deve matar? Não se deve matar em nenhuma circunstância? E, afinal, que quer dizer a palavra ‘dever’?" Analisar e discutir esse género de ideias, como faz a filosofia, ajuda a clarificar e, eventualmente, a justificar melhor aquilo em que acreditamos. Permite também desenvolver a capacidade argumentativa, que pode depois ser aplicada em outras áreas.
Por todas essas razões, este é um livro ideal para figurar em bibliotecas escolares e para oferecer a adolescentes ou adultos curiosos relativamente a assuntos como a eutanásia, Deus, o sentido da vida ou – para dar um exemplo de actualidade óbvia – a liberdade de expressão. Mais que isso, é um bom livro para o caro leitor ler.
2 comentários:
Sabe dizer se tem o pdf dele? Gostaria muito...
Que eu saiba não existe pdf, mas pode comprá-lo. É barato: https://www.gradiva.pt/index.php?q=N/SEARCHBOOKS/92
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