Um argumento bom ou cogente é um argumento que – além de ser válido e ter premissas verdadeiras – tem premissas mais plausíveis que a conclusão. A importância desta última característica prende-se com a necessidade de persuadir alguém: se as premissas não forem mais aceitáveis que a conclusão as pessoas que discordam desta não encontrarão no argumento razões para mudar de posição.
Vamos supor que não conhecemos razões que sejam simultaneamente verdadeiras e aceitáveis para um auditório X de modo a convencê-lo acerca de uma tese Y. Contudo, somos capazes de apresentar razões falsas mas plausíveis e aceitáveis para X. Vamos supor também que Y é uma ideia verdadeira – por exemplo, que a escravatura é errada e deve ser abolida.
Será correto persuadir X acerca de Y recorrendo a falsidades? Persuadir através de falsidades é uma forma de persuasão irracional ou manipulação. Será correto, portanto, manipular uma pessoa para a convencer de uma verdade (caso ela seja incapaz de se deixar convencer através das verdadeiras razões)?
O filme Lincoln, de Steven Spielberg, leva o espetador a pensar nessa questão, na medida em que apresenta alguns defensores da abolição da escravatura perante o dilema de assumir publicamente todas as suas ideias e assustar eventuais apoiantes ou apresentar apenas algumas dessas ideias e suavizá-las (deturpando-as um pouco) para tentar conquistar mais apoiantes para a sua causa.
Essa questão é uma especificação de uma questão ética mais geral que atravessa o filme do princípio ao fim: será que os fins justificam os meios? Por exemplo: será correto alcançar um fim moralmente bom (como a proibição da escravatura) através de meios moralmente reprováveis (como a corrupção)?
As personagens não citam Kant nem Stuart Mill, mas decerto o argumentista do filme pensou neles e no debate entre a deontologia e o consequencialismo ao escrever a história.
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