Imagine que a única maneira de salvar dois milhões de pessoas de uma morte certa era cozer um bebé vivo.
Porquê? Porque um terrorista psicopata ameaçava explodir uma bomba muito potente numa grande cidade, a menos que fizéssemos tal ato em público no prazo máximo de duas horas. Imagine também que, segundo as informações da polícia, esse terrorista costumava sempre cumprir a sua palavra e que era tão hábil que não existia qualquer esperança de o capturar. Imagine, portanto, que não há uma terceira alternativa.
O que seria correto fazer nessas circunstâncias: deixar que dois milhões de pessoas morressem ou cozer vivo um bebé? Porquê?
[A situação aqui descrita inspira-se numa ideia da filósofa Elizabeth Anscombe (in James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Gradiva, Lisboa, 2004, pág. 174).]
7 comentários:
Engraçado. Esta foi a pergunta que me fizeram na minha primeira aula de filosofia do ensino secundário, no 10º. Quando entrei para a faculdade, em Filosofia, na cadeira de ética, a minha (extraordinária) professora leccionou Kant e eu lembrei-me da mesma pergunta que tinha sido feita há uns três anos atrás. Logo de seguida, Stuart Mill foi mencionado (embora menos, já que a professora não é utilitarista e por isso, "puxou a brasa à sua sardinha") voltei a lembrar-me do mesmo. Muito bom, quando professores de secundário nos marcam de uma forma tão profunda, que os conseguimos trazer até às nossas aulas de faculdade com o mesmo espírito e vontade com que estávamos na aulas de secundário.
Voltando à questão: os dilemas éticos dão cabo da minha cabeça e neste específico, ainda não me consegui decidir. (e ainda bem!)
Eu responderia que não. Os fins nunca justificam os meios. Nunca. Jamais. Por mais horrível que o fim seja nada justifica cometer um outro acto eticamente errado ... diria eu. O engraçado é que toda a politica externa dos Estados Unidos e creio a doutrina ensinada nas escolas politicas é fundada no exacto principio inverso ... Para evitar um mal maior vale tudo depois logo se verá ...
Não... o terrorista fez "xeque- mate" vendo bem, ganhou, resta a esperança de que ele não exploda a bomba. De outra forma seria o que ele quer, alguém mataria por ele. Mesmo que ele mate, só ele o faz, mais ninguém pode ou deve colocar-se no lugar dele. ninguém pode matar em nome de outrém. Ele quis o poder, a responsabilidade é dele, ele que a assuma. Já ganhou, ele saberá depois o quê, ou melhor, ganha se ninguém o fizer por ele, é este o jogo. Ele que jogue sósinho.
Queria dizer "ganha, se alguém o fizer por ele" e não o contrário, como escrevi.
(Resumidamente, foram estas as ideias que surgiram nas aulas em que a situação foi analisada e discutida.)
Problemas filosóficos subjacentes à situação apresentada:
- É sempre errado matar pessoas inocentes?
- Como se podem distinguir as ações moralmente corretas das ações moralmente incorrectas?
Teses:
É moralmente correto cozer um bebé vivo para salvar 2 milhões de pessoas, porque:
As consequências de fazer isso são claramente melhores para a maior parte dos envolvidos do que as consequências de não fazer. O sofrimento provocado por essa ação é muito menor do que o sofrimento provocado pela morte de 2 milhões de pessoas.
Matar o bebé é um mal, mas é um mal necessário – e é o mal menor. De qualquer modo, o bebé iria morrer quando a bomba rebentasse.
É moralmente incorreto cozer um bebé vivo para salvar 2 milhões de pessoas, porque:
O bebé é inocente e tem direito à vida. Matar um inocente é errado. Não devemos fazer ações erradas sejam quais forem as consequências.
Se matarmos o bebé para tentar salvar os 2 milhões de pessoas estaremos a usar o bebé como se fosse uma coisa – um meio, um instrumento. Ora, as pessoas não são instrumentos. Os fins não justificam os meios.
Se estivéssemos no lugar do bebé não gostaríamos que nos cozessem vivos. Ora, não devemos fazer aos outros o que não queremos que nos façam a nós.
Não é completamente certo que a morte do bebé permitisse salvar os 2 milhões de pessoas da morte. As consequências futuras das ações são difíceis de prever e é sempre possível as consequências serem, afinal, más.
Quem tem, afinal, razão?
Nossa, que máximo, adorei o texto, e refletirei muito sobre isso! Brevemente volto para dizer em qual conclusão eu cheguei, se é que vou chegar a uma.
Nossa, que máximo, adorei o texto, e refletirei muito sobre isso! Brevemente volto para dizer em qual conclusão eu cheguei, se é que vou chegar a uma.
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