terça-feira, 23 de agosto de 2011

Para avaliar os professores é preciso avaliar os alunos

A maioria das críticas ao modelo de avaliação dos professores apresentado pelo governo tem incidido na existência de quotas e na isenção de avaliação para os professores que se encontrem nos três últimos escalões da carreira (ver por exemplo aqui e aqui). São críticas relevantes, principalmente a segunda.

Não se tem, contudo, falado do pior defeito deste modelo - que é, na minha opinião, o facto de não explicitar claramente que a avaliação dos professores deve ter em conta a avaliação das aprendizagens dos alunos. Os melhores professores são os que melhor ensinam e para avaliar isso é preciso considerar aquilo que os alunos aprenderam. Avaliar os professores sem ter em conta as aprendizagens dos alunos seria como avaliar um fabricante de automóveis sem avaliar a qualidade dos automóveis.

Não estou a defender que se considerem apenas as classificações atribuídas por cada professor, pois isso levaria muitos professores a inflacioná-las, mas sim que se considere a relação entre essas classificações e as classificações obtidas nos exames nacionais (essa ideia é melhor desenvolvida nos posts Como deveriam os professores ser avaliados? e Como evitar a subjectividade na avaliação dos professores?).

Sem esse elemento de avaliação externa, a capacidade da avaliação dos professores melhorar o seu trabalho será diminuta e existirão sempre suspeitas de subjectividade e arbitrariedade, mesmo que se recorram a avaliadores de outras escolas para as aulas assistidas (como prevê o modelo agora apresentado).

Lembro-me de ouvir Nuno Crato, antes de ser ministro, relacionar a avaliação dos professores com a avaliação dos alunos. Porque estará a ideia ausente do modelo apresentado?

2 comentários:

F. Pinheiro disse...

Olá!

Um modelo de avaliação de professores que considerasse as notas obtidas pelos alunos nos exames dificilmente seria universal. Não consigo vislumbrar como seria possível aplicar este tipo de avaliação na disciplina de E. Física. Se calhar é possível. Depois, há alguns professores que por várias razões não leccionam durante um ano completo. Quando uma turma tem, durante um ano lectivo, dois ou três professores a quem devemos atribuir a responsabilidade pelos resultados dos alunos?
Penso que o ministro não mudou de ideias. Está só a ser prudente. Apesar de alguns inconvenientes, gostaria que o desempenho dos alunos contasse para a avaliação dos professores, mas não sei se isso algum dia acontecerá.

F. Pinheiro

Sérgio Lagoa disse...

A avaliação do sistema educativo não deve centrar-se nos exames. Tenh9o dúvidas que a realização de exames resolva algum problema, mas efectivamente pode ajudar: basta, por exemplo, que os exames sejam feitos a montante e a jusante. Isto é: o que sabiam os alunos antes de entrar para o ciclo de formação? O que sabem eles após a conclusão desse ciclo? Parece-me que esses resultados, ou essa variação, são mais significativos do que a comparação entre os exames nacionais e a classificação de frequência.