Esta escultura representa o filósofo grego Sócrates (470-399 a.C). É da época romana e foi feita a partir de um original grego do séc. IV a.C (atribuída ao escultor Lisipo). Pode ser visitada no Museu do Vaticano, na sala dos filósofos, em Itália.
Ao iniciarem o 10º ano, há alunos que se confrontam com algumas perplexidades. Eis uma delas:
Para responder a um mesmo problema filosófico (por exemplo, o livre-arbítrio ou a existência de Deus) há teorias diferentes, e por vezes opostas. Sendo assim, alguns alunos perguntam-se: “qual é a matéria que temos de saber para responder às perguntas dos testes de Filosofia?”
Porque motivo, ao contrário do que passa nas diferentes ciências - em que se estudam as teorias aceites num dado momento - os filósofos não se entendem em relação à maioria das questões filosóficas e continuam a discordar entre si?
Embora, na actualidade, existam alguns tópicos filosóficos - por exemplo: os direitos cívicos das mulheres e a imoralidade da escravatura - onde há consenso a maioria das respostas a dar aos problemas filosóficos estão sujeitas à controvérsia.
Porque será assim?
O filósofo Nicholas D. Smith, no livro excelente de introdução à Filosofia Que diria Sócrates?, explica porquê.
“Muito do que acontece em filosofia (tanto nas áreas em que há progresso como naquelas em que o progresso parece ter estancado) acontece porque não temos acesso ao tipo de dados que confirmam ou refutam claramente as nossas teorias. O nosso processo é de longe menos simples e menos sequencial do que o da ciência – ainda seguimos as mesmas regras com que o antigo filósofo Sócrates operava. Isto é, um filósofo declara uma teoria, e os restantes, agindo como Sócrates tentam descobrir razões que levem a considerar essa teoria falsa, com falhas ou incompleta. Assim, em certo sentido, a maior honra e atenção que um filósofo pode conceder ao trabalho de outro (embora este nem sempre veja as coisas desta maneira, note-se!) é tentar refutar o trabalho do colega. Isto porque a maior parte da atenção filosófica concedida é a crítica – alguém que dedica tempo e recursos cognitivos a refutar o meu trabalho está deste modo a anunciar ao mundo que considera o meu trabalho suficientemente importante para merecer tal atenção, em vez de considerar que o mais que ele merece é ser mudamente votado ao esquecimento. Em filosofia, os melhores amigos do mundo são amiúde, no campo profissional, críticos um do outro (…).
Assim, uma das razões porque os filósofos dão a impressão de nunca estar de acordo é justamente o facto de não ser de supor que estejamos de acordo! O nosso trabalho é discordar, e discordar muito significativamente, dado que é assim que fazemos o nosso melhor para testar se as teorias que temos diante de nós são ou não verdadeiras. (…) ao estar de acordo, estamos de facto a reconhecer que não somos suficientemente inteligentes para ter detectado falhas que as teorias possam conter.
No entanto, isto não significa que não façamos progressos. Há seguramente teorias filosóficas que foram totalmente abandonadas (e por boas razões), e é por demais evidente que, graças à nossa forma crítica de “controlo da qualidade”, as nossas teorias são hoje em dia mais sofisticadas (e menos fáceis de refutar).”
As citações foram tiradas deste livro, págs. 71 e 72.
3 comentários:
"Porque motivo, ao contrário do que passa nas diferentes ciências - em que se estudam as teorias aceites num dado momento - os filósofos não se entendem em relação à maioria das questões filosóficas e continuam a discordar entre si?" Sara isto não me parece pacífico...não sei até que ponto é verdadeira a afirmação, que nas outras ciências se aceitam determinadas teorias. De qualquer modo, percebo o problema de se iniciar o estudo da Filosofia sugerindo que há discórdia nos filósofos. Parece-me que uma vez feita a afirmação, para alunos que talvez nunca tenham pensado adequadamente sobre determinadas questões, seja difícil sair dela. Talvez seja por esta razão que muitos alunos acabem o secundário com a ideia que Filosofia seja apenas um conjunto de opiniões e portanto todas são boas.
Sugiro a leitura desta entrada de um blog interessante, que penso que se adequa um pouco ao que está aqui a ser dito.
http://porumnovoensino.blogspot.pt/2014/09/sobre-o-ensino-da-filosofia.html
Ja li e achei interessante. leiam tambem
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