quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sentimentalismos de uma rapariga loira (1)

Elliott Erwitt Marilyn Monroe

Marilyn Monroe numa fotografia de Elliott Erwitt, Nova Iorque, 1956.

Numa passagem do romance de Cormac McCarthy , Este país não é para velhos, o xerife Bell interroga Carla Jean, procurando obter informações sobre marido que se encontra metido em sarilhos com traficantes de droga. Para lhe explicar porque motivo nunca  o denunciaria, ela diz-lhe o seguinte:

“(…) vou contar-lhe uma coisa, se me quiser ouvir.
Quero sim.
Talvez ache que eu não regulo lá muito bem.
Talvez.
Ou talvez já ache isso.
Não acho, não.
Quando larguei o liceu tinha só dezasseis anos e arranjei trabalho no Wal-Mart. Pareceu-me que não havia outra alternativa. Precisávamos do dinheiro por pouco que fosse. Enfim, na véspera do meu primeiro dia de trabalho, à noite, tive um sonho. Ou pelo menos pareceu-me um sonho. Acho que ainda estava meio acordada. Mas veio-me à cabeça no tal sonho ou lá o que era que se eu fosse até lá ele ia encontrar-me. No Wal-Mart. Não sabia quem ele era nem como é que se chamava nem que cara tinha. Só sabia que o ia reconhecer quando o visse. Tinha um calendário e ia riscando os dias. Como alguém que está preso. Quer dizer, eu nunca estive na prisão, mas calculo que os presos façam assim. E no nonagésimo nono dia ele entrou e perguntou-me onde estavam os artigos desportivos e era ele. E eu indiquei-lhe onde é que estavam e ele olhou para mim e afastou-se. Mas voltou imediatamente para trás e leu o crachá que eu trazia ao peito e disse o meu nome em voz alta e olhou para mim e perguntou: A que horas é que sais? E pronto, o assunto ficou arrumado. Na minha cabeça não houve  dúvida nenhuma. Nem naquele momento, nem agora, nem nunca.”

2 comentários:

Joaquim disse...

Grande escritor

Sara Raposo disse...

Joaquim:
Também acho. Experimente, se ainda não o fez, ler o romance "A estrada".
Cumprimentos.