sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Sombras minúsculas

Estas palavras sobre a efemeridade da vida humana são impressionantes. Mas o facto de a vida ser breve e incerta tirar-lhe-á o valor e o sentido?

«”O que é a vida? O brilho de um pirilampo na noite. O bafo de um búfalo no Inverno. A sombra minúscula que desliza na relva e se perde no crepúsculo.” – disse o chefe Pé de Corvo, dos índios Blackfoot.»

Truman Capote, A sangue frio, Dom Quixote, Março de 2006, Lisboa, pág. 179.

«Creio que a vida dos homens na Terra, quando comparada aos vastos espaços de tempo de que nada sabemos, se assemelha ao voo de um pássaro que entrou pela janela de uma grande sala onde arde ao centro uma lareira como aquela onde tomas as refeições com os teus conselheiros e vassalos, enquanto lá fora reina a invernia, com as suas chuvas e neves. O pássaro atravessa a sala num ápice e sai pelo lado oposto; vindo do Inverno, a ele regressa, perdendo-se aos teus olhos. Assim também a efémera vida dos homens de que não sabemos o que havia antes e o que vem depois.»

Segundo Marguerite Yourcenar (O Tempo esse grande escultor, Difel, Lisboa, pp. 10-11), estas palavras foram dirigidas por um nobre da Nortúmbria (um dos reinos da Grã Bretanha, no século VII d. C) ao seu rei. Este tinha pedido aos membros do conselho uma opinião acerca do pedido de um missionário cristão para evangelizar o território e esse nobre defendeu que o rei devia autorizar a pregação da nova religião, aparentemente com base no facto de os seres humanos saberem muito pouco.

ampulheta

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

A guerra: um olhar diferente

"Sem conter qualquer tipo de violência, o vídeo gravado, através de uma câmara presa ao soldado, pretende transmitir uma forte mensagem sobre a visão que os soldados têm da guerra e sobre os seus sentimentos."

Ler mais: AQUI.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Farei greve e não vigiarei a PACC

sala-de-aula-dcnat2

Amanhã é o dia em que os professores de algumas escolas foram convocados para vigiar a chamada Prova de Avaliação de Capacidades e Conhecimentos. Farei greve e não farei essa vigilância.

Depois de termos passado semanas afogados em trabalho, dando aulas e corrigindo testes, e quando ainda faltam realizar as reuniões de avaliação, a ideia do ministério impor agora este serviço aos professores é totalmente disparatada. Contudo, esse não é o principal problema.

Podem-se discutir razões para realizar uma prova deste género – não vou fazê-lo aqui –, mas o modo como o processo foi conduzido foi degradante para os professores, assim como o timing escolhido. A incapacidade de dialogar e os avanços e recuos do ministro Nuno Crato exemplificam bem o que um governo não deve fazer.

Em boa verdade os sindicatos não se portaram muito melhor e, como é costume, passaram ao lado do essencial. Mais uma vez deixaram a opinião pública a pensar que muitos professores não querem que exista nenhuma avaliação e não apenas avaliações injustas, como é o caso desta prova nos moldes em que vai decorrer.

Se tivermos em conta a degradação - crescente desde os governos de Sócrates até agora - das condições de trabalho dos professores (a multiplicação de níveis e de turmas, o aumento das tarefas burocráticas, o congelamento na carreira, a submissão a um sistema de avaliação cuja aplicação não teve qualquer consequência e cujo rigor e objetividade é muito duvidoso, a precarização e o perigo dos horários zero), agravadas com a criação dos agrupamentos de escolas (que tornaram as escolas muito difíceis de gerir e afastaram os diretores da vida diária de cada escola, com consequências negativas nomeadamente na indisciplina), o sentimento reinante é de descrédito e desalento total. Mesmo para aqueles que sacrificam a sua vida pessoal para fazer aquilo que o ministério não dá condições para fazer: ensinar os alunos da melhor maneira possível.

A humilhação e o medo também foram estratégias da ministra Maria de Lurdes Rodrigues. Julgava o ministro Nuno Crato mais bem preparado e digno do que ela. Enganei-me. A estratégia política de utilizar os ataques à imagem pública dos professores - colando a todos o rótulo de incompetentes - para distrair opinião pública da incompetência, da irresponsabilidade e da injustiça das políticas deste governo também foi utilizada pelo governo anterior. As incoerências, que outrora o ministro Nuno Crato lucidamente denunciava, estão de volta, tal como o autismo e a incapacidade de explicar publicamente as decisões erráticas que são tomadas e cujos critérios são duvidosos (ver um exemplo aqui).

Só que não é possível melhorar o ensino contra os professores. Humilhá-los e tirar-lhes as condições de trabalho piora os problemas. A prova de amanhã é apenas uma tentativa de desviar a atenção do essencial e não vai contribuir para resolver nenhum desses problemas.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Discutir e aprender política na ESPR com a deputada Rita Rato

Para mais informações sobre o projeto "Parlamento dos jovens", consultar o site da Assembleia da República: AQUI.

2013-14 Cartaz Do Debate de 6 de Janeiro Do Parlamento Dos Jovens. by dmetódica

Parlamento dos jovens: as listas dos alunos da ESPR




Datas a ter em conta:
- 6 de Janeiro (10.40, debate com a deputada Rita Rato, onde poderão colocar questões e esclarecer dúvidas);
- 13 e 14 de Janeiro, campanha eleitoral das listas;
- 16 de Janeiro, votação;
- 22 de Janeiro, às 14.30, sessão escolar: escolha do projeto de recomendação e dos deputados que irão representar a escola na sessão distrital.

Parlamento dos jovens: leituras sobre o tema em debate

 

PistasTemadebate_CriseDemograficaemigracaonatalidadeenvelhecimento by dmetódica

Outras sugestões (alguns vídeos da Fundação Francisco Manuel dos Santos são muito, muito interessantes e instrutivos) de leitura sobre o tema:

A evolução da natalidade em Portugal antes e depois da democracia
Portugal é um país envelhecido: dados estatísticos
Este país não é para jovens
Demografia em Portugal: o presente e o futuro
25 anos de Portugal europeu: prepare-se para o debate
Novas perspectivas sobre a pobreza (conferência TED legendada em português)

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Não foi no espelho

ao espelho

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?

Cecília Meireles

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Mandela: 1918-2013

Nelson Mandela Arquivo intimo

Para saber mais, clicar na imagem.

“Dediquei toda a minha vida à luta do povo africano. Tenho lutado contra o domínio dos brancos, tal como tenho lutado contra o domínio dos negros. Sempre defendi o ideal de uma sociedade democrática e livre, em que todas as pessoas possam viver juntas em harmonia e dispor das mesmas oportunidades. É por esse ideal que espero viver para um dia o concretizar. Mas se necessário for, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer.”

(Excerto do final do discurso que Nelson Mandela proferiu no banco dos réus no julgamento de Rivonia, a 20 de Abril de 1964)

É fácil ter, independentemente das convicções políticas de cada um, uma enorme admiração por Nelson Mandela – o primeiro presidente eleito democraticamente na África do Sul, que esteve preso mais de vinte e sete anos em nome da luta pelos direitos humanos. Se à partida o leitor já possui alguma consciência da grandeza deste homem, quando acabar de ler este livro, estou certa, esta ideia terá sido reforçada.

Os diferentes textos que fazem parte do “Arquivo íntimo” não foram escritos com o intuito de serem publicados em livro. São cartas, entrevistas, notas (em agendas e blocos de apontamentos) dispersos. Dizem respeito à vida pessoal e política do antigo presidente e foram, só agora, reunidos. Estes documentos encontravam-se arquivados, na sua maior parte, no Centro de Memória e diálogo Nelson Mandela e a sua organização foi coordenada por Verne Harris.

O livro está organizado em quatro partes: pastoral, drama, epopeia e tragicomédia. Em cada uma das partes há capítulos que versam, entre outros, sobre temas como “Comunidade” (capítulo 2) “Não há razão para matar” (capítulo 4); “As cadeias do corpo” (capítulo 6); “Homem inadaptado” (capítulo 7); “Táctica” (capítulo 10); “Tempo de calendário” (capítulo 11) e “Em viagem” (capítulo 13). O prefácio do livro é escrito por Barack Obama, o presidente dos Estados Unidos.

Através das palavras do mais conhecido prisioneiro de Robben Island testemunhamos acontecimentos da história recente da África do Sul. O mais impressionante é a sua capacidade de resistir, com coragem, serenidade, gentileza e lucidez, às mais terríveis adversidades,  físicas e psicológicas. Mandela nunca desistiu de dialogar, mesmo nas condições mais extremas. Perante guardas que tratavam os prisioneiros políticos como seres não humanos, submetendo-os a tortura e a humilhações sistemáticas, ele procura, através de argumentos racionais e de forma persistente, convencê-los a mudar o seu comportamento para com os presos.

Nas cartas e entrevistas transcritas encontram-se reflexões sobre a natureza humana, a política, o sentido da vida, a resistência  às injustiças sociais, o exercício do poder político, por exemplo. A simplicidade e a clareza com que são apresentadas as ideias e a coerência que Mandela tem mantido, ao longo da sua vida,  em relação aos ideais políticos da democracia, da igualdade e da justiça, fazem dele um homem admirável.

Com humildade, ele alerta-nos para a possibilidade de, por ter passado tanto tempo na prisão, ter projectado, involuntariamente, uma falsa imagem de si. E repete, diversas vezes ao longo desta obra, que nunca foi um santo, mas sim um ser humano falível e inseguro.

Como ele próprio explica: “Sempre me movimentei em círculos onde o senso comum e a experiência prática eram importantes, e onde elevadas qualificações académicas não eram necessariamente decisivas. Pouco do que me tinha sido ensinado na faculdade parecia directamente relevante no meu novo ambiente. Qualquer professor médio evitava temas como a opressão racial, a falta de oportunidades para os negros e as inúmeras indignidades a que estão sujeitos na vida do dia-a-dia. Nenhum professor me disse alguma vez como erradicar os malefícios dos preconceitos raciais, nem me indicou livros que eu poderia ler sobre este assunto, ou as organizações políticas a que me poderia associar se quisesse fazer parte de um movimento de libertação disciplinado. Tive de aprender todas estas coisas aleatoriamente e através de tentativas e erros.”                 

Nelson Mandela, “Arquivo íntimo” , Lisboa, 2010, Editora Objectiva, págs. 122 e 27.

O Conselheiro: argumento de Cormac Mccarthy

Vale a pena ver este filme, em exibição em muitas salas de cinema do país, do realizador Ridley Scott. O argumento é do grande escritor americano Cormac Mccarthy, autor de romances como "A estrada" e "Este país não é para velhos", ambos adaptados ao cinema.

O pano de fundo é o tráfico de droga na cidade mexicana de Juarez (uma das mais violentas do mundo). Alguns dos atores são muito conhecidos do grande público. Mas o filme vale sobretudo pelos diálogos, espantosos, acerca do livre-arbítrio, da moralidade, do sentido da vida e da morte - do mundo em que vivemos.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Maria Callas: a maior soprano de sempre

90º Aniversário de Maria Callas

Para quem não sabe, Maria Callas faria hoje 90 anos.

Ela foi uma cantora lírica americana de ascendência grega. É considerada a maior soprano de todos os tempos. Para perceber porquê basta ouvi-la, sem preconceitos - frequentes em alunos, pelo que observo - em relação a um certo tipo de música (ópera e música clássica) .

Atrevo-me a dizer que esta música é mesmo música e não ruído, o que é mais comum alguns adolescentes ouvirem hoje em dia. É claro que esta minha opinião é discutível, mas tenho dúvidas que alguém consiga provar-me o contrário. Podem tentar, eu agradeço! :)

sábado, 30 de novembro de 2013

Matriz do 2º teste do 10º ano: turmas B e C

bifurcacao

Duração: 90 minutos

Objetivos *:

1. Efetuar a negação de proposições apresentadas.

2. Distinguir condições suficientes e necessárias.

3. Explicar o que é uma definição explícita.

4. Distinguir definições implícitas de definições explícitas.

5. Distinguir boas e más definições explícitas.

6. Explicar o que é um raciocínio.

7. Distinguir raciocínios de não raciocínios.

8. Identificar as premissas e a conclusão de raciocínios.

9. Identificar as premissas ocultas de entimemas.

10. Colocar raciocínios na expressão canónica.

11. Relacionar raciocínios e argumentos.

12. Distinguir validade dedutiva de validade não dedutiva.

13. Explicar o que são generalizações e previsões.

14. Avaliar raciocínios dedutivos, distinguindo os válidos dos inválidos.

15. Distinguir a afirmação da antecedente e a negação da consequente de formas de raciocínio inválidas como a negação da antecedente e a afirmação da consequente.

16. Construir argumentos válidos a partir de frases dadas.

17. Explicar o que é um argumento sólido.

18. Explicar o que é uma ação.

19. Distinguir ações de não ações.

20. Distinguir ações que envolvem deliberação de ações que não envolvem deliberação.

21. Explicar a diferença entre deliberação racional e deliberação não racional.

22. Esclarecer o conceito de determinismo.

23. Esclarecer o conceito de livre-arbítrio.

24. Explicar qual é o problema do livre-arbítrio.

25. Explicar quais são as teses defendidas pelo Determinismo Radical.

26. Explicar os argumentos do Determinismo Radical.

27. Explicar as objeções ao Determinismo Radical estudadas.

28. Discutir: o que é mais plausível os argumentos do Determinismo Radical ou as objeções?

Links:

Os links indicados na Matriz do 2º mini teste.

Pêssegos e duelos: exemplos ilustrativos do problema do livre-arbítrio
O Determinismo
Se o determinismo radical for verdadeiro, salvar 155 pessoas não tem qualquer mérito

Posts úteis, embora não usados nas aulas:

Formulação do problema do livre-arbítrio (1)
Sobre o livre arbítrio
Terá o determinista radical razão?

* Tendo em conta que a turma B fará o teste alguns dias depois da turma C, serão ainda acrescentados alguns objetivos.

a suposta ilusão do Livre Arbitrio

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Eutanásia de crianças: certo ou errado?

Charlie Harris-Beard  menino de 2 anos com doença terminal foi padrinho no casamento dos pais

“Dois comités do Senado belga aprovaram a introdução do direito à eutanásia de crianças com doenças terminais. A proposta de lei tem que ser votada pelo Parlamento e, a ser aprovada, torna a Bélgica o primeiro país do mundo a retirar o limite de idade para a eutanásia. Os opositores da lei questionam se uma criança pode decidir sobre o fim da sua vida”.

Clique para ler mais:

Bélgica dá primeiro passo para legalizar a eutanásia de crianças.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Sobre o livre arbítrio

Outras entrevistas, efectuadas pelo professor Aires de Almeida no "Jardim da Filosofia", encontram-se AQUI.

Vale a pena ouvir.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O desprezo pelas humanidades e pela Filosofia

Nuno Crato com marioneta(1)

Algumas das decisões tomadas pelo ministro da educação e ciência quanto aos cursos de ciências e de humanidades, revelam um injustificável tratamento diferenciado destas duas áreas. Mais, evidenciam um certo desprezo pelos cursos de humanidades. Esta secundarização traduz-se no facto da formação destes alunos ser muito menos exigente que a dos alunos de ciências e o investimento financeiro do estado, nos testes intermédios por exemplo, ser muito menor. Esta política do atual ministério dá continuidade à dos governos anteriores.

A realização dos testes intermédios no ensino secundário é um projeto em que as escolas escolhem participar ou não. Um dos objetivos deste projeto é “familiarizar os intervenientes com os instrumentos de avaliação externa das disciplinas sujeitas a exame nacional”. Assim, além de ter um carácter formativo, “pretende regular as práticas tendo em conta padrões de desempenho a nível nacional” (ver AQUI o relatório do IAVE - instituto de avaliação educativa). Trata-se de objetivos corretos, pois a avaliação externa (quer dos testes intermédios quer dos exames nacionais) reflete-se de forma positiva no ensino, desde que os instrumentos nela utilizados sejam concebidos com correção científica e pedagógica.

O calendário deste ano letivo dos testes (ver o anexo, AQUI) informa que os alunos dos cursos de ciências poderão realizar - nas escolas aderentes - os seguintes testes intermédios:

- 11º ano: Biologia e Geologia; Física e Química A; Matemática A e Inglês (um total de quatro: em três disciplinas da formação específica e uma da formação geral);

- 12º ano: Matemática A (dois testes intermédios) e Português (um total de três: dois numa disciplina da formação específica e uma da formação geral).

Nos cursos de humanidades, os testes intermédios previstos são:

- 11º ano: Inglês (um, sendo esta disciplina da formação geral).

- 12º ano: Português (um, sendo esta disciplina da formação geral).

Como se pode constatar, pelo número de testes realizados, não é proporcional nem a aplicação dos dinheiros públicos nem a exigência a que os alunos de ciências e de humanidades se encontram sujeitos. Como se justifica um tratamento tão desigual por parte do ministério? Que efeitos tem essa desigualdade produzido, anos a fio, juntos dos alunos? Pelo menos um é notório: a ideia que “nas letras” reina um certo facilitismo e que quem quer aprender a sério vai para um curso de ciências – até porque é aí que, em geral, se encontram os melhores alunos e as melhores turmas.

E essa ideia é, na maioria dos casos, verdadeira. Trata-se, pois, de uma profecia que se autorealiza. Enquanto professora de Filosofia tenho verificado que (embora existam alunos e turmas que são, felizmente, exceções) muitos alunos de humanidades não adquirem hábitos de trabalho, têm mais dificuldades de aprendizagem que os de ciências e uma atitude de maior falta de empenho. No entanto, muitos deles - pasme-se - conseguem resultados melhores nos exames nacionais das disciplinas da formação específica, tais como Matemática Aplicada às Ciências Sociais, Espanhol (no 11º ano) e História (no 12º ano), do que os de ciências (compare-se as médias nacionais dos exames das disciplinas específicas dos cursos de humanidades e de ciências). E porquê? Porque o grau de exigência dos exames nacionais é menor nas humanidades. A facilidade começa nos programas dessas disciplinas e no trabalho e o esforço que é exigido aos alunos.

Que critérios levam o ministério a considerar que há disciplinas mais importantes que outras na preparação para o exame nacional e até na conceção destes? Que resultados, na formação dos alunos e nas classificações dos exames nacionais, têm sido produzidos por todo este investimento na realização dos testes intermédios na área das ciências? A avaliar pelas classificações dos exames nacionais, muito poucos.

No entanto, também há alunos inteligentes em humanidades que querem seguir Direito, Psicologia, Literatura, etc., e mereciam que o dinheiro dos contribuintes também fosse gasto de forma a proporcionar-lhes uma formação melhor e mais exigente, nomeadamente permitindo-lhe a realização de testes intermédios às disciplinas, cujo exame nacional podem utilizar como prova de ingresso (tal como acontece com os alunos de ciências).

No ano passado, o teste intermédio de Filosofia foi o único que os alunos de humanidades do 11º ano fizeram mas este ano não se realiza. Porquê? Nenhuma explicação foi dada aos professores nem às escolas que participaram neste projeto, como foi o caso da minha. No entanto, trata-se, sem dúvida, de uma decisão incongruente. Revela a falta de imparcialidade com que o ministério encara os diferentes cursos e disciplinas, visto que este exame nacional pode ser utilizado como prova de ingresso em mais de uma centena de cursos da área das humanidades e também em alguns de ciências (ver o guia das provas de ingresso no ensino superior AQUI).

Legalmente, tanto os alunos de ciências como os de humanidades têm a possibilidade de optar, no 11º ano, pela realização do exame nacional de duas disciplinas da formação específica ou então uma das disciplinas da formação específica e a disciplina de Filosofia. Contudo, uma das medidas do atual governo para “permitir a autonomia organizativa e pedagógica das escolas” foi dar-lhes a possibilidade de decidir a distribuição dos tempos letivos semanais para cada disciplina. Assim sendo, existem, nas diferentes escolas do país, alunos que têm apenas o mínimo exigido: 150 minutos semanais de Filosofia (sem que o programa da disciplina tenha sido reduzido) e outros que têm uma carga horária maior. Obviamente que os alunos que têm apenas 150 minutos semanais ficam prejudicados se optarem por fazer o exame nacional. Pergunto: não era suposto as escolas públicas garantirem condições de igualdade aos alunos - pelo menos em termos da carga horária - numa disciplina sujeita a exame nacional?

Nenhuma outra disciplina sujeita a exame nacional, além da Filosofia, esteve sujeita uma redução da carga horária, ainda que os resultados dos exames nacionais do ano letivo passado tenham sido melhores que outras disciplinas que viram reforçadas as suas cargas horárias, como foi o caso do Português no 12º ano.

Como se justifica a menorização - em termos de carga horária e da realização dos testes intermédios - de algumas disciplinas do currículo em relação a outras? Em que estudos e dados se baseia o ministro Nuno Crato para fazer estas escolhas? Que explicação apresentou? Nenhuma.

Porém, como muito bem sabe o ministro Nuno Crato, não são só os factos científicos que necessitam de ser explicados com rigor, as decisões políticas também o devem ser. Impor medidas sem esclarecer as razões, que supostamente justificam a sua implementação, revela uma utilização arbitrária do poder e desrespeito pelos cidadãos, neste caso pelos professores e pelos alunos.

Conclusão que devemos tirar: em Portugal, há cursos, alunos e disciplinas de primeira e de segunda categoria. Mas isso não é bom para país.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Matriz do 2º mini teste: turmas B e C do 10º ano

Modus ponens afirmação da antecedente

Duração: 40 minutos.

Objetivos:

1. Efetuar a negação de proposições apresentadas.

2. Distinguir condições suficientes e necessárias.

3. Distinguir definições implícitas de definições explícitas.

4. Distinguir boas e más definições explícitas.

5. Distinguir raciocínios de não raciocínios.

6. Identificar as premissas e a conclusão de raciocínios.

7. Identificar as premissas ocultas de entimemas.

8. Colocar raciocínios na expressão canónica.

9. Relacionar raciocínios e argumentos.

10. Distinguir validade dedutiva de validade não dedutiva.

11. Compreender o que são generalizações e previsões.

12. Avaliar raciocínios dedutivos, distinguindo os válidos dos inválidos.

13. Distinguir a afirmação da antecedente e a negação da consequente de formas de raciocínio inválidas como a negação da antecedente e a afirmação da consequente.

14. Construir raciocínios válidos a partir de frases dadas.

15. Compreender o que é um raciocínio sólido.

Para estudar: as páginas indicadas nas aulas do manual “50 Lições de Filosofia”, os PDF´s usados e as seguintes ligações.

Ligações:

Identificação, classificação e negação de proposições

A negação de proposições condicionais

Condições necessárias e suficientes: análise de um exemplo

O que é um argumento?

Onde está a conclusão?

Entimema: conceito e exemplos grecia turismo

A relação entre verdade e validade

Afirmação da antecedente e negação da consequente

Argumento dedutivo ou não dedutivo? (Exemplos A, B, C e D)

Diga-me o que pode deduzir?

Posts úteis, embora não usados nas aulas:

Validade dedutiva

Generalizações e previsões

domingo, 10 de novembro de 2013

O liceu Camões: um bom começo no ensino

CapaLiceuCamoes 

Imagens e um vídeo do saudoso liceu Camões, onde pela primeira vez dei aulas de Filosofia (e fiz estágio) há mais de vinte anos.

Continua igual, só mais degradado. É único, não há outro lugar assim. Espero que as obras não o venham descaracterizar como fizeram em todas as antigas escolas intervencionadas pela Parque Escolar. Para mim foi um excelente começo no ensino, no presente já não posso dizer o mesmo.

Vale a pena ouvir a conversa do vídeo entre um antigo aluno, Júlio Isidro, do tempo da ditadura e um aluno actual:

AQUI.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Cursos e provas de ingresso na universidade

dilema

A pedido de alguns dos alunos do 11º E, seguem-se os cursos de todas as universidades do país e as provas de ingresso exigidas em cada um deles. Não se esqueçam que as boas decisões em relação ao futuro são tomadas por quem procura a informação e decide com base nesta.

O primeiro é o guia de 2013 (o de 2014 vai ficar, depois, disponível na página da DGES), com todos os cursos e provas do ano transacto e uma informação das universidades e cursos que introduziram alterações para as  candidaturas nos anos letivos de 2014-2015,  2015-2016  e  2016-2017,  conforme  os  casos,  relativamente  ao  elenco  de  provas  de  ingresso fixados.

Devem consultar ambos e também os currículos, nos sites das universidades, dos cursos que pretendem.

Guia Das Provas de Ingresso 2013 by dmetódica

"Este  guia  destina-se  aos  estudantes  que  pretendem  candidatar-se  à  matrícula  e  inscrição  no  ensino 

superior nos anos letivos de 2014-2015, 2015-2016 e 2016-2017. 

A informação  divulgada  neste  guia  refere-se  aos  pares  instituição/curso  do  ensino  superior  público 

objeto  de  concurso  nacional  e  locais  e  aos  pares estabelecimento/curso  do  ensino  superior  privado 

objeto de concursos institucionais, que introduzem alterações para as candidaturas nos anos letivos de 

2014-2015,  2015-2016  e  2016-2017,  conforme  os  casos,  relativamente  ao  elenco  de  provas  de 

ingresso fixados. 

Na consulta deste guia deve ser considerado o processo de fixação anual de vagas pelas instituições de 

ensino  superior,  pelo  que  nem  todos  os  pares  instituição/curso  divulgados  poderão  ser  objeto  de 

fixação de vagas para as candidaturas indicadas." 

GuiaPI_Altera141516 by dmetódica

TPC das turmas D e E do 11º ano

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A ficha de trabalho, que devem realizar para a próxima aula, encontra-se no link seguinte:

Construção de argumentos

Bom trabalho a todos e bom fim de semana!

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

domingo, 3 de novembro de 2013

Exercícios de lógica dos exames nacionais para resolver

top

Caros alunos do 11º D e E,

Para comprovar o vosso domínio das noções de lógica, sugiro um bom exercício: resolver as questões dos exames nacionais.

A realização desta tarefa, além de aumentar a vossa autoconfiança, tem também a vantagem de vos permitir comprovar como esses exercícios são bastante mais fáceis do que os realizados nas aulas :)

Eis os links (seguidos dos critérios de correcção):

Exame de Filosofia 2013 (1ª Fase): enunciado e critérios de correcção
Teste intermédio de Filosofia 2013: enunciado e critérios de correcção
Exame nacional de Filosofia 2012 (2ª Fase): enunciado
Exame nacional de Filosofia 2012 (2ª Fase): critérios de correcção

Outros exames nacionais, podem ser consultados AQUI.

"Parlamento dos jovens": calendário e regulamento

cartaz 2014 secundário proposta 

Os alunos do secundário, do agrupamento das escolas Pinheiro e Rosa, irão participar na edição 2013/14 deste projecto.

Seguem-se algumas informações úteis a ter em conta.

Para mais informações contactar as professoras Conceição Santos e Sara Raposo.

CalendarioEtapasPrograma_Edicao2013_2014 by dmetódica

RegimentoSecundario2013_2014 by dmetódica

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Ensino profissional: conferência em Faro

Fundação Francisco Manuel dos Santosimage

13 Nov 14h30

Faro, Grande Auditório da Universidade do Algarve

Pode inscrever-se AQUI.

"Tem-se assistido, em Portugal, a uma crescente valorização do ensino profissional – a escola está mais vocacionada para o mercado de trabalho e para a aquisição de conhecimentos e capacidades que nele possam ser utilizadas. Contudo, esta valorização conduz a várias perguntas: o ensino profissional levado a cabo tem suficiente qualidade? Serve de facto para uma integração no mercado de trabalho ou funciona antes como uma alternativa para os alunos mais fracos? A partir de que idade deverão as crianças e jovens poder escolher esta via de ensino? Este tipo de ensino pode promover a segregação social? Porque se abandonou em Portugal o ensino profissional? O que aconteceu e acontece noutros países europeus que têm oferecido este tipo de ensino? Esta conferência procurará perceber o percurso do nosso país e as possibilidades futuras nesta área. Um especialista inglês sintetizará as respostas oferecidas por vários países europeus e o seu impacto educativo e índices de empregabilidade. Uma psicóloga portuguesa reflectirá sobre as respostas adoptadas no nosso país. Estaremos no caminho certo? O que podemos aprender com outros países?"

Oradores
Christopher Winch
Paula Paixão

Para mais informações, ver AQUI.

Três manifestações do sublime

Para as aulas de exercícios de Lógica (do 11º, turmas D e E).

A música de fundo produz, comprovadamente, maior concentração!

Aceito outras sugestões vossas.

sábado, 26 de outubro de 2013

Amigos improváveis: o filme e a banda sonora

O trailer do filme, legendado, pode ser visionado AQUI.

É um excelente filme para ver num fim de semana.

Uma sugestão para quem não é professor (ou é, mas não tem as condições de trabalho que eu tenho) e, por isso, não precisa de fazer e corrigir testes ao fim de semana.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Matriz do 1º teste do 10º ano (turma A) e links

pensamentos 

 

 

 

 

 

 

2013-14 10º Matriz do 1º teste versão final by dmetódica

Seguem-se links dos posts utilizados nas aulas e outros relacionados com os temas  (a sua consulta fica entregue à vossa autonomia e dependente das necessidades de cada aluno):

1 - O que é a Filosofia? - Uma resposta inicial

Para começar a estudar Filosofia

Problemas filosóficos e problemas não filosóficos

Estudo da religião: a parte da Sociologia e a parte da Filosofia

Descubra a questão mais básica

2 - Os instrumentos lógicos do pensamento

2.1. A proposição

Identificação, classificação e negação de proposições
Contra-exemplo: o que é e para que serve
Proposições contraditórias: análise de exemplos
A negação de proposições condicionais
Condições necessárias e suficientes: análise de um exemplo
Ambiguidades
Discutir ideias em vez de repetir frases

2.2. Os argumentos

Onde está a conclusão?
Entimema: conceito e exemplos
O que é um argumento?
Diga-me o que pode deduzir?
Argumento dedutivo ou não dedutivo?

Bom trabalho!    :)

Diga-me o que pode deduzir?

 

domingo, 20 de outubro de 2013

Os bobos da corte

FESTA ALEGÓRICA

O bobo do imperador Maximiliano
organizou uma festa alegórica
que o povo e a corte de soberano à frente
saborearam em grandes gargalhadas:
juntou na praça todo o cego pobre,
prendeu a um poste um porco muito gordo,
e anunciou ganhar o dito porco aquele
que à paulada o matasse. Os cegos todos
a varapau se esmocaram uns aos outros,
sem acertar no porco por serem cegos,
mas uns nos outros por humanos serem.
A festa acabou numa sangueira total:
porém havia muito tempo que o imperador
e a corte e o povo não se riam tanto.
O bobo, esse tinha por dever bem pago
o fabricar as piadas para fazer rir.

Jorge de Sena, 40 Anos de Servidão. 

O Bobo da Corte Sebastián de Morra de Velásquez

“O Bobo da Corte Sebastián de Morra”, de Velásquez.

sábado, 19 de outubro de 2013

O que nos prende à Terra

Não é excelente, mas é um filme que vale a pena ver.

Se estivesses no espaço terias alguém, cá em baixo na Terra, a olhar para cima?

O que é que te prende à vida?

Estas são duas das questões colocadas no filme.

Encontra-se em exibição em muitas salas de cinema do país.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Matriz do 1º Teste de Filosofia do 10º ano: turmas B e C

Duração: 75 minutos

Objetivos:

1. Conhecer pelo menos 8 exemplos de questões filosóficas.

2. Explicar porque é que as questões filosóficas são concetuais.

3. Explicar porque é que as questões filosóficas são básicas.

4. Saber que as respostas dadas às questões filosóficas raramente são consensuais.

5. Distinguir questões filosóficas de questões não filosóficas em exemplos dados.

6. Mostrar porque é que a filosofia requer pensamento crítico.

7. Indicar o objeto de estudo da Lógica.

8. Explicar o que são proposições.

9. Analisar exemplos, distinguindo frases que expressam proposições de frases que não expressam proposições.

10. Conhecer exemplos de frases diferentes que expressem uma única proposição e de frases que expressem, cada uma delas, várias proposições.

11. Distinguir ambiguidades sintáticas e ambiguidades semânticas.

12. Distinguir diferentes tipos de proposições: afirmativas e negativas; universais, particulares e singulares; e condicionais.

13. Analisar exemplos, identificando neles os diferentes tipos de proposições.

14. Reescrever frases de modo a que as proposições sejam expressas de forma canónica.

15. Explicar as condições de verdade das proposições condicionais.

16. Explicar o que é a negação.

17. Efetuar a negação de proposições apresentadas.

18. Distinguir condições suficientes e necessárias.

19. Distinguir definições implícitas de definições explícitas.

20. Distinguir boas e más definições explícitas.

Leituras:

No Manual 50 Lições de Filosofia: da página 8 à 16 (na página 14 só importa, por agora, a Revisão, ou seja, a ficha de trabalho) e a página 25. O texto da página 26 não foi analisado na aula mas pode ser útil.

No blogue Dúvida Metódica:

Problemas filosóficos e problemas não filosóficos

Estudo da religião: a parte da Sociologia e a parte da Filosofia

Descubra a questão mais básica

Discutir ideias em vez de repetir frases

Ambiguidades

Ambiguidade

Identificação, classificação e negação de proposições

A negação de proposições condicionais

Condições necessárias e suficientes: análise de um exemplo

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Ludovico Einaudi - Divenire

Uma sugestão musical do meu aluno Bruno Ponte do 11º D, a quem agradeço.

Espero que esta seja uma companhia inspiradora para todos os alunos (do 11º D e E) estudarem lógica proposicional!

:)

sábado, 5 de outubro de 2013

Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?

GreteStern os sonhos sobre cansaço 1949

Poema dum funcionário cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só
António Ramos Rosa


Fotografia: Os sonhos sobre cansaço, de Grete Stern, 1949.

sábado, 28 de setembro de 2013

Ambiguidades

Diz-se que uma frase é ambígua quando exprime mais do que uma proposição. A ambiguidade é semântica se resulta do facto da frase conter palavras com mais do que um significado. Por exemplo: “A Maria Francisca Botão mostrou-me as notas” tanto pode referir-se a classificações escolares como a dinheiro. (Outro exemplo aqui.) Mas a ambiguidade é sintática se resultar – como sucede no cartoon com a frase “João viu o homem com o telescópio” –  do modo como as palavras estão ligadas. 

10-23-09

Cartoon de Ben Rosen.