«A existência de Deus pode ser provada de cinco
maneiras:
(…) A segunda maneira parte da natureza da
causa eficiente. No mundo dos sentidos encontramos uma ordem de causas
eficientes. Não há qualquer caso conhecido (nem isso seria, de facto, possível)
em que uma coisa é causa eficiente de si própria. Para isto, teria de ser
anterior a si própria, o que é impossível. Ora, não é possível haver uma série
infinita de causas eficientes, porque nas causas que se seguem umas às outras
na série, a primeira é a causa da intermédia, e esta é a causa da última, sejam
várias ou apenas uma as causas intermédias. Ora, fazer desaparecer a causa é
fazer desaparecer o efeito. Logo, se não há uma primeira causa na série das
causas eficientes não haverá uma última nem qualquer causa intermédia. Mas se é
possível haver uma série infinita de causas eficientes, não há uma primeira
causa eficiente, nem um efeito último, nem quaisquer causas eficientes
intermédias; tudo isto é obviamente falso. Logo, é necessário admitir uma
primeira causa eficiente, a que todos dão o nome de Deus.»
Confrontar os alunos com o texto do próprio Tomás
de Aquino parece-me pedagogicamente acertado, mas convém apresentar uma
reconstituição do argumento de modo a facilitar a compreensão e a discussão.
Eis três possibilidades:
«Premissa 1: No mundo, todas as coisas têm uma
causa.
Premissa 2: Nada pode ser a causa de si próprio.
Premissa 3: As cadeias causais não podem
regredir infinitamente.
Logo, existe uma causa primeira que é Deus.»
Aires Almeida e
outros, A Arte de Pensar – volume 2, Didáctica Editora, Lisboa, 2007, pág. 133.
«1. Na natureza ocorrem acontecimentos.
2. Na natureza todo o acontecimento tem uma
causa e nenhum acontecimento é a causa de si mesmo.
3. Na natureza as causas precedem os efeitos.
4. Na natureza não há cadeias infinitas de
causa/efeito.
5. Logo, há uma entidade fora da natureza (um
ser sobrenatural) que causa o primeiro acontecimento que ocorre na natureza.
6. Logo, Deus existe.»
Artur Polónio e
outros, Criticamente, de Porto Editora, 2007, pág. 227.
«1. Existem coisas no mundo.
2. Se existem coisas no mundo, então tais
coisas foram causadas a existir por alguma outra coisa.
3. Se as coisas do mundo foram causadas a
existir por alguma outra coisa, então ou há uma cadeia causal que regride
infinitamente ou há apenas uma primeira causa que é a origem da cadeia causal.
4. Mas não há uma cadeia causal que regride
infinitamente.
5. Logo, há apenas uma maneira causa (a que
chamamos Deus) que é a origem da cadeia causal. (De 1 a 4)»
Domingos Faria e Luís
Veríssimo, Exame 11, Leya, Lisboa, 2020, pág. 258.
Imagem: Tomás de
Aquino, de Gentile da Fabriano (1370-1427)