"Um líder de uma tribo protegida da Amazónia foi encontrado morto, o que constitui a quinta morte violenta nos últimos seis meses numa região assolada por conflitos entre madeireiros ilegais e as tribos da zona."
Leia a notícia inteira no jornal Público.
Esta notícia triste fez-me
lembrar um caso mais antigo, mas que na cabeça de algumas pessoas parece não
estar ainda resolvido:
«Quando Espanha estava a
colonizar o Novo Mundo no tempo de Filipe II (1527-1598) surgiu uma
discordância amarga entre os conquistadores sedentos de lucro e os frades pios
que, às ordens do rei, acompanhavam sempre as suas explorações. O objeto da
discordância era o estatuto dos nativos locais, os povos indígenas das
Américas. Eram eles - como os frades sustentavam - seres humanos com almas para
salvar e vidas para serem integradas na comunidade da Igreja? Ou eram eles -
como os conquistadores preferiam pensar - como alguns dos maiores hominídeos de
África, mamíferos sofisticados disponíveis para trabalhar nas minas de ouro e
prata, análogos aos camelos e bois que serviam de bestas de carga? Eram
realmente seres humanos ou eram simplesmente de encarar como uma espécie de
símios algo mais desenvolvidos?
Quando os frades que
resistiam à exploração dos povos indígenas insistiram em defender a sua
posição, Filipe II reenviou a questão para alguns dos melhores especialistas
disponíveis daquele tempo - os melhores dos melhores entre os teólogos e
estudiosos de Espanha. Reuniram-se em 1550-1551 para resolver a questão num
debate escolástico na Universidade de Valladolid (...).
O frade dominicano
Bartolomeu de las Casas (...) defendeu a posição dos frades com tal eloquência
e cogência que os sábios reunidos, para seu crédito eterno, puseram-se do lado
da humanidade. (Não que isto tenha feito assim tanta diferença para os homens
sem escrúpulos que exerciam cargos de chefia nas Américas.)»
Nicholas Rescher, Uma viagem pela filosofia em 101 episódios,
Gradiva, Lisboa, 2018, pp. 129-130.
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