Realizei nas aulas do 11º ano (turmas A e C) algumas actividades (ver aqui, aqui e aqui) inseridas no âmbito do projecto de Educação Sexual. Uma delas foi o visionamento do filme "Os juncos silvestres" de André Téchiné. Solicitei ao alunos que fizessem, individualmente, uma apreciação crítica do filme.
Os melhores trabalhos foram realizados pelas alunas: Anastasia Borozan, Jocemira Ribeiro, Catarina Gil (do 11º A), Daniela Romba, Inês Pedro e Ana Marta Nunes (do 11º C).
Ei-los:
O retrato da adolescência no filme “Os juncos silvestres”.
A adolescência é a fase de introspecção, do verdadeiro desabrochar, da transformação de uma criança numa pessoa adulta, com uma outra visão acerca do mundo! Nesta fase tudo muda: as características físicas, psicológicas… o que torna os adolescentes, por vezes, criaturas confusas e desorientadas.
O filme “Os juncos silvestres”, realizado em 1994 por André Téchiné, aborda assuntos relativos à adolescência, tais como o auto-conhecimento, a descoberta de amizades, a orientação sexual, as novas experiências dos adolescentes e a relação entre pais e filhos, neste estádio de transformação. A acção do filme decorre durante a independência da Argélia, uma colónia do norte de África , daí a referência às ideias políticas, mas também à literatura, uma das personagens (secundárias) do filme é uma professora.
De todos os assuntos que o filme trata, vou focar-me na sexualidade, visto que, pode-se tornar bastante complicado e problemático para um adolescente perceber que é diferente dos outros quanto à sua orientação sexual, o que acontece com um dos personagens principais do filme, François, ao descobrir a sua atracção por um colega.
A homossexualidade pode definir-se como a atracção física e/ou amorosa entre dois indivíduos do mesmo sexo. Admite-se hoje que a homossexualidade resulta de um processo de escolha afectiva, tal como entre heterossexuais, não sendo sinónimo de nenhuma patologia ou desequilíbrio genético, como durante muitos séculos se acreditou. Por se afastar do padrão normativo sexual da sociedade (heterossexual), a homossexualidade é ainda muitas vezes encarada como um comportamento não adequado socialmente, sofrendo discriminação. [definição retirada do site: http://www.infopedia.pt/$homossexualidade]
Actualmente, ainda existe um certo preconceito (uma opinião formada antecipadamente, sem fundamento sério ou análise crítica) em relação à homossexualidade. Pensa-se que esta é imoral e, por isso, apesar de ter sido legalizado nalguns países, o casamento e a adopção por parte de casais homossexuais, ainda é alvo de bastante reprovação social. Segundo os médicos o homossexualismo já não é sustentado enquanto diagnóstico médico. Isto porque alguns dos transtornos dos homossexuais decorrem, muitas vezes, mais da sua discriminação e repressão social - derivados do preconceito e do desvio ao que é considerado norma em termos morais e sociais - do que um problema de natureza biológica ou psicológica. Desde 1991, a Amnistia Internacional considera violação aos direitos humanos a proibição da homossexualidade.
A Igreja Católica Romana considera o comportamento sexual humano quase sacramental por natureza, no entanto os actos sexuais são unicamente para procriar, por isso a homossexualidade é considerado um ato pecaminoso pela doutrina: "Nenhuma ideologia pode cancelar do espírito humano a certeza de que só existe matrimónio entre duas pessoas de sexo diferente, que através da recíproca doação pessoal, que lhes é própria e exclusiva, tendem à comunhão das suas pessoas. Assim se aperfeiçoam mutuamente para colaborar com Deus na geração e educação de novas vidas".
A personagem que no filme se assume como homossexual (François), interpretada pelo actor francês Gaël Morel, sentia-se atraído por rapazes e, isso deixou-o muito assustado. Ele tinha consciência que não era comum haver essa atracção por pessoas do mesmo sexo e de na sociedade tal facto não ser bem aceite. Assim, ele próprio era preconceituoso em relação a sua homossexualidade e ao descobrir a sua orientação sexual ficou apavorado, sentindo, muitas vezes, desprezo por ele próprio. Numa das cenas do filme, François olha-se ao espelho e repete para si desesperado: “Sou paneleiro, sou paneleiro?!”.
Na história contada no filme, François tem uma experiência sexual com Serge, o seu amigo. Este, por sua vez, não se assume como homossexual e diz que isso não passou de uma experiência. Enquanto, para Serge essa relação entre os amigos foi somente uma vivência diferente, para François, essa experiência, fê-lo perceber qual era verdadeiramente a sua identidade sexual. Desorientado, ele tenta encontrar ajuda e conselhos junto de um senhor de idade, que já se tinha assumido como homossexual. Contudo, este recusa-se a falar com François acerca deste assunto. Este repúdio aparece como uma advertência: assumir-se como homossexual iria ser um caminho extremamente difícil para o jovem, pois a sociedade ainda não estava preparada para aceitar pessoas com uma orientação sexual diferente da heterossexual.
O filme retrata de forma fidedigna a vida dos adolescentes nesta fase bastante complicada. Os jovens deparam-se com vários obstáculos, mas têm de os ultrapassar para poderem seguir em frente e, talvez, por isso o filme acaba com os quatro personagens juntos caminhando numa estrada (talvez a da vida)… numa “estrada abarrotada de dificuldades”.
Anastasia Borozan, 11º A
Nas aulas de Filosofia vimos o filme “ Les roseaux sauvages”, em português, “ Os juncos silvestres” (tem este nome devido a uma fábula, escrita por La Fontaine, com um junco e um carvalho. Esta fábula é na verdade uma metáfora para a vida de um adolescente). Este filme retrata a vida de quatro adolescentes: Maité, François, Serge e Henri. Aborda vários temas fundamentais da adolescência, nomeadamente a questão da identidade sexual.
A história gira principalmente em torno de François. Ele descobre que se sente atraído por jovens do mesmo sexo e sente dificuldade em assumir a sua homossexualidade. Esta é encarada com bastante preconceito pela sociedade, pois as pessoas maioritariamente aceitam ideias como "os homens têm de casar com mulheres e ter filhos". Este preconceito também é adquirido por influência da religião que vê a homossexualidade como “anti-natural”. No filme são bastante explícitas as reacções de desprezo, por parte de vários personagens, em relação às pessoas homossexuais, o uso insultos, como “paneleiro” e “maricas”, dá-nos conta desse facto. Até Maité, apesar de aceitar a orientação sexual do amigo, usa este calão (cuja conotação é negativa e traduz ideias feitas), o que a torna, por vezes, contraditória. O próprio François não é excepção, também ele, inicialmente, se vê a si próprio como uma aberração: alguém a quem aconteceu algo errado.
François tem experiências homossexuais com Serge, que é heterossexual. Isto mostra-nos que ter este tipo de experiências na adolescência não é sinónimo de ser homossexual. A experimentação de novas situações e de diferentes papéis sociais é que ajuda a decidir a personalidade futura do adolescente. No fim do filme, verifica-se que o único que parece vir a ser, de facto, homossexual é François. Até Maité, que no início desprezava rapazes e recusava qualquer tipo de relação amorosa, acaba por se apaixonar por Henri.
No geral gostei do filme, pois fala, de modo realista, de temas como a masturbação, o estar apaixonado, a orientação sexual, a primeira relação sexual e a amizade. Gostei também do facto de abordar um assunto como a homossexualidade, que ainda é alvo de preconceitos, como pude constatar mesmo dentro da própria turma.
Todavia, é preciso não esquecer que o preconceito resulta de uma generalização infundada do ponto de vista racional, um juízo preconcebido que leva a uma atitude discriminatória. A meu ver, esta só mostra insegurança e ignorância por parte de quem o adopta. É o que acontece em relação à homossexualidade. Julgo que este filme pode ajudar a quebrar alguns estereótipos porque mostra aspectos reais da vida dos adolescentes. Este período não é tão fácil como parece e pode torna-se ainda mais difícil, se nos demitirmos de analisar criticamente certos preconceitos.
Jocemira Ribeiro, 11ºA