Mostrar mensagens com a etiqueta Liberdade. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Liberdade. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Em que pensa um homem livre?

pintura de rua de The Rebel Bear, em Glasgow, na Escócia

«O homem livre em nada pensa menos que na morte, e a sua sabedoria não é uma meditação da morte, mas da vida.

O homem livre, isto é, aquele que vive segundo o ditame da Razão, não é levado pelo medo da morte, mas deseja diretamente o bem, isto é, deseja agir, viver e conservar o seu ser segundo o princípio da utilidade própria; e, por conseguinte, em nada pensa menos que na morte, mas a sua sabedoria é meditação da vida.»

 Bento de Espinosa, Ética, IV (Proposição LXVII e respetiva Demonstração), Relógio d’ Água, Lisboa, 1992, pp. 423-424 (tradução de Joaquim de Carvalho).

Imagem: pintura de rua de The Rebel Bear, em Glasgow, na Escócia.  


domingo, 14 de agosto de 2016

Liberdade de expressão

banksy-gray-ghost-1

«”Desprezo o que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito a dizê-lo.”

Esta declaração, atribuída a Voltaire, condensa a ideia nuclear deste livro: a liberdade de expressão é algo que vale a pena defender vigorosamente, mesmo quando detestamos o que é expresso. Defender a livre expressão envolve proteger não só o discurso que queremos escutar, mas também aquele que não queremos escutar. (…)

A livre expressão é particularmente valiosa numa sociedade democrática. Numa democracia, os eleitores têm interesse em escutar e contestar uma grande diversidade de opiniões e ter acesso a factos e interpretações, bem como a perspetivas contrastantes, mesmo quando acreditam que as perspetivas expressas são política, moral ou pessoalmente ofensivas. Essas opiniões podem nem sempre ser diretamente comunicadas por meio dos jornais, da rádio e da televisão, mas são amiúde apresentadas em romances, poemas, filmes, desenhos e letras de canções. Podem também ser expressas simbolicamente por atos como queimar uma bandeira, ou, como fizeram muitos manifestantes contra a guerra do Vietname, queimando um cartão de recrutamento. Os membros de uma democracia têm também interesse em que um grande número de cidadãos participe ativamente no debate político, em vez de receber de forma passiva uma política transmitida a partir de cima.»

Nigel Warburton, Liberdade de Expressão: Uma breve introdução, Gradiva, Lisboa, 2015, pp. 9 e 11.

Imagem: Banksy.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O preço da liberdade

Este diálogo – entre dois “pássaros” ou de um “pássaro” consigo próprio – é frequente em Portugal. Ocorre em muitas instituições, nomeadamente em escolas e em empresas.  Pergunto-me se Odyr Berrnardi (genial cartoonista brasileiro) conhece o poema “Perfilados de Medo”, de Alexandre O'Neill.

 

liberdade e dependência cartoon de Odyr Berrnardi

Odyr Berrnardi

 

Perfilados de medo, agradecemos
o medo que nos salva da loucura.
Decisão e coragem valem menos
e a vida sem viver é mais segura.

Aventureiros já sem aventura,
perfilados de medo combatemos
irónicos fantasmas à procura
do que não fomos, do que não seremos.

Perfilados de medo, sem mais voz,
o coração nos dentes oprimido,
os loucos, os fantasmas somos nós.

Rebanho pelo medo perseguido,
já vivemos tão juntos e tão sós
que da vida perdemos o sentido...

Alexandre O'Neill

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Heróis

Não chega provavelmente para justificar a ideia de que há males que vêm por bem, mas já sucedeu muitas vezes acontecimentos horríveis inspirarem obras de arte maravilhosas: Guernica, de Picasso; Os fuzilamentos de três de Maio, de Goya; Coração das Trevas, de Joseph Conrad; Se isto é um homem, de Primo Levi; etc.

O atentado contra o jornal Charlie Hebdo, sendo este um jornal que publicava muitos cartoons, inspirou também inúmeros cartoons e outros desenhos belos e inteligentes. Até à data, este - um exemplar de uma arte considerada menor por muitas pessoas, incluído as que são sensíveis à beleza e gostam de arte – é o meu preferido.

I am Charlie Hebdo

Desenho de Molto. Encontrado aqui: moltonel72.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O que está em jogo na ética é a nossa vida

Pablo Picasso, "Mulher ao espelho".

“Liberdade é poder dizer «sim» ou «não»; faço-o ou não faço, digam o que disserem os meus chefes; isto convém-me e eu quero-o, aquilo não me convém e, portanto, não o quero. Liberdade é decidir (…).
E para não te deixares levar não tens outro remédio senão tentar pensar pelo menos duas vezes no que te dispões a fazer… Da primeira vez em que pensas no motivo da tua acção, a resposta à pergunta «porque faço isto?» (…) faço-o porque mo mandam fazer, porque é costume fazê-lo, porque me apetece. Mas se pensares uma segunda vez, a coisa já muda de figura. Faço isto porque mo mandam fazer, mas…porque obedeço eu ao que me mandam? Por medo do castigo? Por esperar uma recompensa?
E se me mandarem fazer coisas que não me parecem convenientes, como quando ordenaram ao comandante nazi que eliminasse os judeus no campo de concentração? Não poderá uma coisa ser «má» - quer dizer não me convir – por muito que me a mandem fazer, ou «boa» e conveniente mesmo que ninguém me mande que a faça?
(…) entre as ordens que nos são dadas, entre os costumes que nos rodeiam ou que nós criamos, entre os caprichos que nos assaltam, teremos aprender a escolher por nós próprios. Não podemos evitar, para sermos homens e não carneiros (peço desculpa aos carneiros), pensar duas vezes no que fazemos.”

Fernando Savater, Ética para um jovem, Ed. Presença, pág. 40-41.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Direitos ou conquistas?

"Só é digno da liberdade, como da vida, aquele que se empenha em conquistá-la."

Johann Goethe

O título do post envolverá um falso dilema?

uyCIiO0 

Simone Segouin (nome de guerra: Nicole Minet), resistente francesa de 18 anos, durante a libertação de Paris, no dia 19 de Agosto de 1944.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Em que consiste a liberdade?

Homem, se homem queres ser
E não uma sombra triste,
Olha para tudo o que existe
Com olhos de bem o ver.

Nada receies saber.
Ao que não amas, resiste.
Mesmo vencido, persiste
E acabarás por vencer.

Quer e poderás poder.
Vai por onde decidiste.
A liberdade consiste
No que a razão te impuser.

Armindo Rodrigues

Mulheres Correndo Pablo Picasso Pablo Picasso, Mulheres Correndo

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Gente independente

Como manter a liberdade nas condições de vida mais adversas que se possam pensar?

Para saber veja aqui.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Oportunidade única

"A vida humana acontece só uma vez e não poderemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão porque, em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos são dadas uma primeira, segunda, terceira ou quarta hipóteses para que possamos comparar decisões diferentes".

Milan Kundera

(Citação encontrada no facebook sem referência à obra.)

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O valor da liberdade

“Partisan” designa aqueles que durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) combateram contra a ocupação levada a cabo pela Alemanha nazi. Estes movimentos de resistência existiram em vários países ocupados pelos alemães, nomeadamente na Itália e na França.

Duas das canções mais conhecidas, que celebram os actos heróicos destes resistentes e o valor da liberdade contra a tirania, são “Bella Ciao” e “Partisan”. A primeira delas é uma canção popular italiana, interpretada aqui por Gómez Naharro. A segunda foi escrita e é cantada pelo cantor canadiano Leonard Cohen.

Quando nas aulas de Filosofia referimos os valores (como, por exemplo, a liberdade e a justiça) e o facto de estes orientarem as acções humanas, ao contrário do que possa parecer, não estamos a falar de algo vago sem qualquer relação com a realidade. Por exemplo, alguns destes homens e mulheres, durante a Segunda Guerra Mundial, morreram pela liberdade. Um ideal mais valioso para eles que outros - de certo mais fáceis de alcançar - como o poder.

Num regime democrático, como aquele em que vivemos, o respeito do Estado pelo valor da liberdade é um princípio fundamental. Vivemos, sem dúvida, num contexto histórico e num país em que a liberdade é bem mais fácil de alcançar do que o foi na época dos “Partisan”. Contudo, isso não faz com que seja um dado adquirido. Nem isenta os cidadãos de reflectirem sobre o seu significado e escrutinarem permanentemente as decisões dos políticos para garantir que esta é preservada.

A liberdade não deve ser apenas um valor abstracto referido nos manuais de Filosofia ou nos discursos políticos. Numa democracia, é para ser exercida na vida pública através da análise e da crítica.

Infelizmente isso nem sempre sucede em Portugal: muitas pessoas pensam duas vezes antes de criticarem alguém poderoso, receosas das consequências (nomeadamente profissionais), e muitos políticos quando são criticados em vez de discutirem ideias e de argumentarem a favor das suas posições preferem atacar pessoalmente os adversários e acusá-los de falta de patriotismo ou de qualquer outro ismo grandiloquente.

(Canção popular italiana, o autor é desconhecido. Foi criada  na Segunda Guerra Mundial, durante a ocupação alemã. Pode encontrar a letra da canção e uma tradução portuguesa – não sei avaliar se é boa ou má – aqui.)

(Pode encontrar a letra desta canção, escrita e cantada por Leonard Cohen, no original e em português, aqui.)

 

domingo, 25 de abril de 2010

Salgueiro Maia e Sócrates

salgueiro-maia 25 de Abril
Salgueiro Maia

Aquele que na hora da vitória
respeitou o vencido

Aquele que deu tudo e não pediu a paga

Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite

Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com a sua ignorância ou vício

Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
como antes dele mas também por ele
Pessoa disse

Sophia de Mello Breyner Andresen, Musa, 3ª edição, Editorial Caminho, Lisboa, 1994, pág. 17.

“Aquele que amou os outros e por isso / Não colaborou com a sua ignorância ou vício”… Estas palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen acerca de Salgueiro Maia, um dos protagonistas do 25 de Abril, aplicar-se-iam igualmente bem ao filósofo grego Sócrates e a qualquer outra pessoa interessada na verdade e no conhecimento – filósofos, cientistas, artistas, etc.

Dizê-lo não diminui a grandeza de Salgueiro Maia. Antes pelo contrário. Com efeito, se Salgueiro Maia é - em Portugal - um símbolo da conquista da democracia e da liberdade política, Sócrates é um símbolo universal do pensamento crítico e da liberdade de pensamento.  

Outra semelhança entre ambos, embora muito menos importante, é o facto de o reconhecimento do seu valor ter sido principalmente póstumo. Sócrates morreu vítima de uma acusação falsa e de um julgamento injusto. Salgueiro Maia morreu quase na miséria e sem as honras que os seus feitos justificavam.

A democracia é um regime político imperfeito e incapaz de impedir totalmente a ocorrência de injustiças. Por exemplo: quando Sócrates foi condenado à morte e executado existia um regime democrático em Atenas; Salgueiro  Maia contribuiu para a implementação da democracia em Portugal e essa mesma democracia ignorou-o e não reconheceu o seu valor. Mesmo assim, as injustiças numa democracia são muito menos frequentes do que noutros regimes políticos. Acresce que numa democracia existem mecanismos para corrigir as injustiças que não existem noutros regimes políticos. Por isso, vale a pena celebrar o 25 de Abril.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Sair da menoridade

DreamingofMagritte

A imagem foi tirada deste sítio.

O Iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por culpa própria se a sua causa não reside na falta de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo sem a orientação de outrem. Sapere aude! Tem a coragem de te servires do teu próprio entendimento! Eis a palavra de ordem do Iluminismo.

A preguiça e a cobardia são as causas por que os homens em tão grande parte, após a natureza os ter há muito libertado do controlo alheio continuem, no entanto, de boa vontade menores durante toda a vida; e também porque a outros se torna tão fácil assumirem-se como seus tutores. É tão cómodo ser menor. Se eu tiver um livro que tem entendimento por mim, um director espiritual que tem em minha vez consciência moral (…) então não preciso de eu próprio me esforçar. Não me é forçoso pensar, quando posso simplesmente pagar; outros empreenderão por mim essa tarefa aborrecida.”

Kant, “Resposta à pergunta: que é o Iluminismo?” em Paz perpétua e outros opúsculos, tradução de Artur Morão, Lisboa, 1992, Edições 70. pp 11-12.

Para ler outro interessante texto de Kant, clicar aqui.

sábado, 25 de abril de 2009

Liberdade: autorizado sem cortes, ou melhor, sem precisar de autorização

página censurada notícia sobre Olhão

Notícia de jornal analisada pela censura do Estado Novo: “autorizado com cortes”. Leia e tente perceber o motivo dos cortes: é difícil, não é? Os censores eram tão mesquinhos e culturalmente limitados! Porque achariam necessário censurar notícias acerca de doentes mentais? A dificuldade de perceber qual possa ser esse motivo dá-nos uma boa medida do que se ganhou com o 25 de Abril.

E agora? Fazemos o quê com a liberdade conquistada?


quinta-feira, 23 de abril de 2009

12 anos de escolaridade obrigatória: é um erro!

Segundo o Jornal Público, o Governo vai estender a escolaridade obrigatória para 12 anos. Os partidos da oposição dizem que se trata de oportunismo eleitoral, que é uma decisão tomada a pensar nas próximas eleições – mas não contestam a própria ideia, ou seja, também acham correcto a escolaridade obrigatória ser de 12 anos.

No entanto, trata-se de um erro. Há várias razões para isso. Vejamos uma delas.

Porque é que o Estado deve tomar decisões acerca do que as pessoas fazem com a sua vida? E se um jovem de 15 ou 16 anos quiser dedicar-se à jardinagem em vez de aprender gramática e equações? Porque é que o governo e os deputados se haveriam de intrometer nessa escolha, que só diz respeito a ele e à sua família?

De acordo com o filósofo inglês Stuart Mill, o Estado só pode interferir na vida de uma pessoa, limitando a sua liberdade, para prevenir possíveis danos sobre outras pessoas. O seu próprio bem (físico, psicológico, moral…) não constitui uma razão suficiente para justificar a interferência, pois isso implicaria considerar a pessoa incapaz de discernir o que é melhor para si, limitaria a sua liberdade e daria a outras pessoas (talvez tão falíveis e imperfeitas como ela) um poder arbitrário sobre ela. Essa ideia de Stuart Mill é conhecida como o "princípio do dano". (A esse respeito veja também este post.)

Stuart Mill não faz manifestamente parte das leituras nem do primeiro-ministro e da ministra da educação, nem dos políticos da oposição. Seria bom, para os portugueses e para a democracia portuguesa, que fizesse.

domingo, 19 de abril de 2009

Ser ou não ser digno de admiração

Aristides de Sousa Mendes José Castelo Branco

No âmbito do capítulo do programa de Filosofia do 10° “Problemas do mundo contemporâneo ”, propus aos meus alunos a realização de trabalhos de grupo sobre o tema dos direitos humanos (as indicações específicas que foram fornecidas encontram-se aqui).

Quando escolhi este tema, para além do seu interesse filosófico, a minha principal motivação residiu no facto de ter constatado que existe na maioria dos alunos, tal como na sociedade portuguesa em geral, uma preocupação com aspectos da vida ligados, sobretudo, ao prazer imediato, à aparência, ao que é rápido e não exige atenção ou esforço intelectual. Relacionado com este facto acontece um fenómeno curioso: a admiração de pessoas, que se tornam figuras públicas sem nunca terem feito nada que tivesse mérito ou merecesse, verdadeiramente, ser objecto de admiração. Para comprovar estas minhas afirmações basta consultar alguns dados relativos às vendas das numerosas revistas cor-de-rosa existentes em Portugal ou, então, analisar o conteúdo dos programas que passam no “horário nobre” das televisões portuguesas, particularmente os concursos e as novelas, onde as virtudes apregoados são bastante duvidosas ou inexistentes.

Não é o caso da lista de personalidades que sugeri aos alunos para realizarem os trabalhos: Aristides de Sousa Mendes (um ilustre português, desconhecido da maioria dos portugueses), Shirin Ebadi, Aung San Sun Ky, Gandhi, Luther King, entre outros homens e mulheres que se destacaram na luta pelos direitos humanos. Estas pessoas são, ou foram, capazes de prescindir do seu bem-estar, dos seus interesses, ou mesmo de arriscar a sua vida para defender elevados ideais da humanidade: a liberdade, a justiça, a igualdade, por exemplo.

Conhecer os actos que praticaram, perceber as razões e as consequências destes, permite-nos compreender, de forma efectiva, o significado desses valores e do que significa agir eticamente. As acções exemplares, penso eu, ensinam-nos algo sobre o que são as reais virtudes humanas.

Nas fotografias: Aristides de Sousa Mendes e José Castelo Branco.

domingo, 1 de março de 2009

Escolhas realmente difíceis

Dedicado aos professores que entregaram os objectivos individuais
Nos países onde existem ditaduras há sempre pessoas que são ameaçadas, ou até torturadas, para confessarem delitos ou denunciarem os delitos dos outros. Devia ter escrito a palavra entre aspas, pois normalmente não se trata realmente de delitos, mas apenas de opiniões ou actividades políticas mal vistas pelo poder. Muitas dessas pessoas não resistem, mas algumas resistem e não confessam nada nem denunciam ninguém.
Aconteceu em Portugal antes do 25 de Abril. Aconteceu na Alemanha nazi. Aconteceu na União Soviética e em muitos outros países comunistas. Aconteceu nas ditaduras sul americanas. Acontece na Coreia do Norte. Acontece no Zimbabwe. Acontece no Iraque. Aconteceu e acontece em muitos outros países, pois infelizmente nenhuma dessas duas listas é exaustiva.
Quero endereçar um voto sincero aos professores que, apesar de discordarem do modelo de avaliação que o governo tem tentado impor, ESCOLHERAM entregar os objectivos individuais, devido ao medo de serem penalizados financeira e profissionalmente.
Desejo que nunca precisem – por longa que seja a sua vida – de fazer uma escolha mais difícil do que essa. Por exemplo: espero que nunca precisem de escolher entre a sua integridade física e a denúncia de um vizinho ou de um colega à polícia política.
Se esses professores nunca precisarem de fazer uma escolha mais difícil do que essa, tal significará que em Portugal continuaremos a viver em democracia. Resta é saber se a sua “saúde” continuará tão frágil como agora – em que os governantes e outros representantes do Estado não torturam prisioneiros, mas apreendem livros supostamente pornográficos e tentam fazer reformas tão importantes como a avaliação dos professores através de ameaças e chantagens.


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O que está em jogo na Ética é a nossa vida

Pablo Picasso, "Mulher ao espelho".


“Liberdade é poder dizer «sim» ou «não»; faço-o ou não faço, digam o que disserem os meus chefes; isto convém-me e eu quero-o, aquilo não me convém e, portanto, não o quero. Liberdade é decidir (…).
E para não te deixares levar não tens outro remédio senão tentar pensar pelo menos duas vezes no que te dispões a fazer… Da primeira vez em que pensas no motivo da tua acção, a resposta à pergunta «porque faço isto?» (…) faço-o porque mo mandam fazer, porque é costume fazê-lo, porque me apetece. Mas se pensares uma segunda vez, a coisa já muda de figura. Faço isto porque mo mandam fazer, mas…porque obedeço eu ao que me mandam? Por medo do castigo? Por esperar uma recompensa?
E se me mandarem fazer coisas que não me parecem convenientes, como quando ordenaram ao comandante nazi que eliminasse os judeus no campo de concentração? Não poderá uma coisa ser «má» - quer dizer não me convir – por muito que me a mandem fazer, ou «boa» e conveniente mesmo que ninguém me mande que a faça?
(…) entre as ordens que nos são dadas, entre os costumes que nos rodeiam ou que nós criamos, entre os caprichos que nos assaltam, teremos aprender a escolher por nós próprios. Não podemos evitar, para sermos homens e não carneiros (peço desculpa aos carneiros), pensar duas vezes no que fazemos.”
Fernando Savater, Ética para um jovem, Ed. Presença, pág. 40-41.