“As nossas crenças mais justificadas não têm qualquer outra garantia sobre a qual assentar, senão um convite permanente ao mundo inteiro para provar que carecem de fundamento.” John Stuart Mill
sábado, 5 de setembro de 2020
Contas à vida
domingo, 10 de dezembro de 2017
Life Smartphone
Para os meus alunos do 11º E, com confiança no futuro, e votos de um estudo!
Será um futuro, talvez, sombrio demais? Exagero e caricatura nalguns casos, noutros não será já uma fiel descrição do comportamento (e da vida) de muitas pessoas?O esforço árduo de muitos homens e mulheres na procura do conhecimento foi para chegar a...isto?
quinta-feira, 12 de janeiro de 2017
Beleza colateral e Lion: dois filmes a ver
Nestes dois filmes, estreados recentemente no cinema, é abordado o problema filosófico do sentido da vida, um dos temas que iremos abordar no final do 11º ano.
Esta é uma questão metafísica, refletir acerca dela – como podemos perceber no caso dos dois personagens principais de “Lion” e “Beleza colateral” - tem consequências na vida quotidiana e pode mudar o ponto de vista que se tem sobre o mundo.
Aconselho, vivamente, ambos os filmes!
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
A opinião dos alunos: qual é o sentido da vida?
No DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA, lançámos aos alunos da escola e aos leitores deste blogue um desafio, ver AQUI:
A Filosofia está em todo o lado…dizem os alunos. Muitos explicaram como é que podemos responder aos problemas filosóficos propostos. Obrigada a todos!
Eis algumas das melhores opiniões:Um dos maiores questionamentos do homem é o sentido da vida. O desconhecido é algo que sempre amedrontou a humanidade, afinal não temos nenhuma resposta que nos situe numa perspetiva indiscutível. Resta-nos refletir.
Na minha opinião, viver sabendo que a qualquer momento pode ser o meu último é, no mínimo, angustiante. E várias vezes me pergunto se o nosso destino final é o caixão porque damos tanto valor a preocupações menores como, por exemplo, uma simples nota negativa em provas escolares?
Bem, durante centenas de anos, o homem tentou explicar o sentido da vida. Vários filósofos tentaram e tentam dar explicações a essa pergunta. Na religião, um exemplo é o cristianismo que defende ser o sentido da vida a comunhão com Deus, tanto na vida como após a morte. Nas doutrinas que defendem a reencarnação da alma, o sentido da vida é evoluir e tornarmos-nos pessoas melhores a cada passagem pela Terra. No judaísmo, o sentido da vida é, de forma simplificada, a reverência perante a Deus e a sua vontade.
Não sou apegada a nenhuma religião e muito menos pretendo me apresentar como filósofa, porém penso que o sentido da vida é uma escolha e varia para cada um de nós. Ora, como vamos definir o sentido da vida para ser aplicado a todos, se a personalidade e os contextos, tanto social quanto económico das pessoas, são diferentes?
Mas deve-se ressaltar que na sociedade também somos levados a padronizar o nosso modo de viver, bem como a nos enquadrarmos dentro de uma determinada moral. Podemos mesmo lembrar exemplos extremos de conformismo aos modelos socialmente aceites, como o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália.
De qualquer maneira, desde pequenos, somos ensinados que a única variável certa da vida é a morte. Todavia, não sabemos em que momento ela vai chegar.
“Se afinal vamos morrer, que sentido faz viver? ”
Ora, só porque sabemos o destino final, a viagem e o modo como ela é feita não é importante?
O sentido da vida, acredito eu, pode estar mais nas pequenas coisas, como ver as primeiras folhas espalharem-se pelo chão anunciando o começo do outono ou, simplesmente, ver o sol nascer.
Considero que temos de dar valor às lições que recebemos ao longo da vida - pode ser um conselho sábio de um idoso ou o estudo da filosofia – e construirmos e legarmos algo que auxilie as gerações futuras.
Por fim, penso que a busca pelo sentido de viver é algo que criamos para aceitar e suportar a verdade iniludível: vamos todos morrer um dia.
Bem, esta resposta depende de cada pessoa, dos seus objetivos e respetivos sonhos. Cabe a cada um escolher o sentido que quer dar à vida, fazer com que esta valha a pena e com que nos sintamos bem connosco próprios.
Estamos constantemente a ser postos à prova pela vida, por exemplo, ao longo desta vamos conhecendo pessoas, umas tornam-se amigas para uma vida inteira, outras passam por ela simplesmente para nos ensinar um qualquer tipo de lição.
Na minha opinião, não devemos nem podemos, em altura nenhuma, desperdiçar a vida com detalhes e pormenores desinteressantes (como por exemplo: dar demasiada importância às pessoas de quem não gostamos ou às que nos irritam diariamente).
Talvez tenhamos nascido com um propósito: o de vivermos felizes; de aproveitarmos a vida concretizando os nossos sonhos; de aprendermos e ensinarmos igualmente; de proporcionar a maior felicidade, tanto para nós como para os outros e, por fim, de praticarmos o bem, tanto para a sociedade como para os que nos são próximos.
Outras opiniões dos alunos sobre problemas filosóficos:
Como deve ser uma sociedade justa?
As tradições serão todas respeitáveis?
sábado, 21 de maio de 2016
Matriz do teste: objetividade da ciência e sentido da vida
Duração: 90 + 10 (tolerância)
Objetivos:
1. Recordar a conceção falsificacionista da ciência.
2. Explicar a perspetiva de Popper sobre a objetividade e progresso da ciência.
3. Explicar e exemplificar o conceito de paradigma, segundo Kuhn.
4. Explicar e exemplificar os conceitos de ciência normal, anomalia, crise, ciência extraordinária e revolução científica.
5. Explicar a perspetiva de Kuhn sobre a objetividade e progresso da ciência.
6. Explicar as objeções a Kuhn estudadas.
7. Comparar as perspetivas de Popper e Kuhn acerca da objetividade e progresso da ciência.
8. Mostrar em que condições dizemos que uma atividade tem sentido.
9. Apresentar o problema do sentido da vida.
10. Explicar a perspetiva pessimista acerca do sentido da vida.
11. Explicar as objeções à perspetiva pessimista acerca do sentido da vida.
12. Explicar a perspetiva religiosa acerca do sentido da vida.
13. Explicar as objeções à perspetiva religiosa acerca do sentido da vida.
14. Explicar a perspetiva não religiosa de Peter Singer acerca do sentido da vida.
15. Explicar as objeções à perspetiva de Peter Singer.
16. Explicar outra perspetiva não religiosa acerca do sentido da vida.
17. Explicar as objeções a essa perspetiva.
18. Comparar e discutir as perspetivas acerca do sentido da vida estudadas.
19. Defender uma tese acerca do problema do problema do sentido da vida.
Natureza das questões:
Escolha múltipla, questões de resposta curta e questões de resposta extensa.
Para estudar:
No manual: da página 215 à página 228; da página 238 à página 242.
PDF’s.
No blogue Dúvida Metódica:
A evolução da ciência: Popper e Kuhn
sexta-feira, 13 de maio de 2016
Links sobre o sentido da vida
Antes de responder é preciso entender a pergunta
Qual é o sentido da vida?
Não, não estamos no centro do Universo!
Sombras minúsculas
Será a vida uma brincadeira estúpida?
Viver uma vida ética
'A vida que podemos salvar': o dever de ajudar as pessoas muito pobres
“Sair para o mundo e fazer algo que mereça a pena”
Uma resposta não religiosa à questão do sentido da vida
O que farias hoje se o mundo acabasse amanhã?
Opcional
A pergunta acerca do sentido da Vida
Para que servem os dias?
A injustiça da morte: uma história de M. S. Lourenço
A transitoriedade da vida retira-lhe o sentido? (1)
A transitoriedade da vida retira-lhe o sentido? (2)
Aproveitar ou desperdiçar a vida - uma escolha aparentemente fácil
O dinheiro não traz a felicidade!
O paradoxo do hedonismo e o Dia dos Namorados
domingo, 13 de março de 2016
domingo, 3 de janeiro de 2016
Um ensaio argumentativo acerca do sentido da vida
O meu aluno Mateus Roque Mendes, de um curso EFA (ensino noturno para maiores de dezoito anos), escreveu um texto sobre o problema filosófico do sentido da vida que vale a pena ler.
Além disso, ilustrou (e muito bem) as suas ideias com o desenho que acompanha este post.
Provavelmente esta é uma das perguntas com mais profundidade de que me posso lembrar, é um tema que pode ser tão sombrio quanto iluminador, pois trata da finalidade de cada homem no planeta e de como faz a sua passagem nesta vida.
A quantidade exuberante de respostas aflige qualquer um que pense neste assunto e pode confundir ou até levar à desistência.
A minha argumentação não tem como objetivo provar a veracidade de uma só teoria mas sim mostrar um ponto de vista: o meu ponto de vista.
Começo por contar uma história de um catecismo holandês, que fala sobre uns frades que evangelizavam a população e falavam sobre Jesus de Nazaré.
Então, o rei dessa terra quis saber quem eram esses homens, e sobre o que falavam, pois sentia curiosidade.
Assim que se reuniu com os frades perguntou-lhes qual era o sentido da vida. De súbito, entra um pequeno pássaro pela janela fugindo da tempestade e começa a esvoaçar pela sala dando cinco voltas ao rei e perdendo-se novamente na tempestade.
E aí o frade responde ao rei: - “Majestade o homem é o pássaro e a sala aquecida a tempestade. Viemos da tempestade, da obscuridade sem saber de onde viemos nem para onde vamos. Não sabemos nem de onde viemos nem para onde vamos.”
E assim começa o catecismo holandês e começo eu a defesa dos meus argumentos, tentando explicar que o cristianismo é uma resposta ao propósito do homem no mundo.
O cristianismo não é uma religião, no sentido das religiões comuns, também não é uma filosofia, não é uma doutrina em que se explique de forma racional o grande porquê da vida.
O homem vive aterrado pela realidade, tenta ser, tenta viver o real, o verdadeiro, o que não perece, o que não muda, o autêntico. Por isso, é que na Bíblia o mar simboliza a morte, porque é móvel e sinuoso, o contrário do que o homem quer. O tempo leva a morte e é isso que o homem não consegue suportar.
Mas porque vive o ser humano nesta escravidão de uma busca inalcançável de sentido e felicidade?
Porque é que o homem não se satisfaz com o tipo de felicidade estipulada pela sociedade: o trabalho, festas, carro, mulher e filhos?
Os avanços da ciência não respondem a esta pergunta. Quanto mais o homem sabe mais perplexo fica e pergunta-se: Quem sou eu? Há sempre um momento em que precisa de se interrogar, e pensar, se desaparece na morte, a sua vida não terá sentido, tudo será um absurdo. Consequência disto é que se vive uma vida de conveniência numa sociedade de consumo de valores quase nulos ou supérfluos.
Afinal qual é a verdade? A verdade é que morres! O homem está escravizado porque não quer morrer, porque teme o fim da sua existência.
Por isso, a resposta do Cristianismo é uma boa notícia: Um Homem rompe o cerco da morte, vence-a e deixa um sinal visível ao mundo, que é a garantia da ressurreição, o amor na dimensão da cruz, a salvação para o homem acontece quando as barreiras do seu coração são destruídas.
Esta perspetiva permite viver em plenitude, sabendo que o que vive aqui já é eternidade.
No entanto, o ser humano tem este problema: procurar viver sob o princípio de prazer e esse tem de ser imediato. O tempo é escasso, não conseguimos esperar pela chegada da eternidade, a toda a hora surgem problemas e dificuldades, mas também sonhos e aspirações que queremos alcançar a todo o custo, pois a resposta para a derradeira pergunta aparenta estar sempre no final de cada nova concretização.
Posto isto, a vida avança, mas em cada um de nós continua a existir este vazio, a desesperança de que a nossa vida acaba e não atingimos o sentido nem a felicidade.
Ainda para mais a humanidade vive em constante angústia desacreditada da veracidade desta premissa que lhe é apresentada pelo cristianismo. Pois como se pode pedir a um homem que salte num abismo do qual não conhece o fundo?
Acreditamos naquilo que vemos, confiamos naquilo que é palpável.
A partir deste testemunho dos cristãos, existiram milhões de pessoas que escutaram esta notícia e mudaram as suas vidas encarando-as escatologicamente. Deixaram de viver a mesquinhez dos seus problemas quotidianos para elevarem a razão do seu viver a um nível que vai para além da própria vida, tornando-se mártires, missionários itinerantes por todo o mundo, porque entregando a sua vida dão sentido à vida dos outros – e à sua.
Mateus Roque Mendes
quinta-feira, 11 de junho de 2015
A pergunta acerca do sentido da Vida
“A questão de saber se a vida tem algum sentido é difícil de interpretar, e quanto mais concentramos nela a nossa capacidade crítica mais parece escapar-nos ou evaporar-se como questão inteligível. Queremos afastá-la por ser uma fonte de embaraço, por ser algo que, se não podemos abolir, devemos pelo menos esconder por pudor. E, contudo, penso que qualquer pessoa dada à reflexão reconhece que a questão se levanta é importante e devia ter uma resposta significativa.”
Richard Taylor, “O sentido da Vida”, in Viver para quê? – Ensaios sobre o sentido da vida, organização e tradução de Desidério Murcho, Dinalivro, Lisboa, 2009, pág. 33.
sexta-feira, 8 de maio de 2015
quinta-feira, 23 de abril de 2015
A máquina das experiências
«Suponhamos que havia uma máquina de experiências que proporcionaria ao leitor a experiência que desejasse. Neuropsicólogos superfixes podiam estimular o seu cérebro de maneira a pensar e sentir que escrevia um grande romance, fazia uma amigo, ou lia um livro interessante. Durante todo o tempo, estaria a flutuar numa cuba, com eléctrodos ligados ao cérebro. Dever-se-ia ligar esta máquina durante toda a vida, pré-programando as suas experiências de vida? Se está preocupado com a perda de experiências desejáveis, podemos supor que as empresas investigaram exaustivamente a vida de muitos outros. O leitor pode escolher a partir da sua imensa biblioteca ou bufete dessas experiências, seleccionando as suas experiências de vida para, digamos, os dois anos seguintes. Após dois anos, poderia passar dez minutos ou dez horas fora da cuba, para seleccionar as experiências dos seus dois anos seguintes. Evidentemente, enquanto está na cuba não saberá que ali está; pensará que tudo aquilo acontece efectivamente. Os outros podem também ligar-se e ter as experiências que quiserem, pelo que não há necessidade de estar desligado para os servir. (Ignore problemas como o de saber quem cuidará das máquinas se todos se ligarem.) Ligar-se-ia? O que mais pode ter importância para nós, além do modo como são as nossas vidas a partir de dentro? Tão-pouco se devia abster por causa dos escassos momentos de angústia entre o momento em que decide e aquele em que já está ligado. O que são alguns momentos de angústia comparados com uma vida inteira de felicidade (se é isso que o leitor escolhe), e porque sentir angústia se a sua decisão é a melhor?
O que tem para nós importância, além das nossas experiências?»
Robert Nozick, Anarquia, Estado e Utopia, trad. Vítor Guerreiro, Lisboa, Edições 70, Novembro de 2009, pp. 74-75.
"What makes our life go best? Is being happy all that matters? Is a life of blissful ignorance a good life? Or is there more to a good life than this? Richard Rowland (University of Oxford) discusses whether we should take the blue pill in 'hedonism and the experience machine’."
Fonte do texto e do vídeo anterior, ver AQUI.
terça-feira, 7 de abril de 2015
Um vento maravilhoso
Não faço ideia quais são os critérios que presidem ao modo como são distribuídos os filmes nas salas de cinema portuguesas. Todavia, quem vive no sul e quisesse ver o filme As Asas do Vento (Kaze Tachinu no Japão e Vidas ao Vento no Brasil) - nas palavras do próprio realizador Hayao Miyazaki o seu último filme - só o poderia fazer em Lisboa. É pena que assim seja, pois trata-se de um filme maravilhoso (o argumento, os diálogos e algumas das imagens são sublimes) para um adulto e para uma criança simultaneamente.
Os leitores mais preconceituosos, que consideram a animação um género menor no cinema, estão enganados. Este filme, tal como por exemplo A viagem de Chihiro também da autoria de Miyazaki , é imperdível.
O personagem principal do filme As asas do vento é o engenheiro Jiro Horikoshi, desenhador de um dos aviões de guerra usados pelo Japão durante a Segunda Guerra Mundial.
"Para criar a personagem central do filme, Jiro, um aspirante a engenheiro aeronáutico, Miyazaki baseou-se ainda num romance do autor Tatsuo Hori, que foi contemporâneo de Jiro Horikoshi.
Na nota de intenções, Miyazaki explica que quis retratar alguém persistente que persegue um sonho durante a juventude e idade adulta, num tempo em que o Japão viveu o grande terramoto de 1923, a Grande Depressão, a epidemia de tuberculose e a entrada na guerra." (informação retirada daqui).
Uma das ideias repetidas em diferentes momentos do filme: muitos acontecimentos adversos, que não dependem de nós, avançam e condicionam para sempre as nossas vidas, mas é preciso continuar a viver. É verdade.
domingo, 22 de fevereiro de 2015
A minha vida
O neurologista e escritor Oliver Sacks, ao descobrir que provavelmente lhe restam apenas alguns meses de vida, escreveu este texto, intitulado "A minha vida". O título deve-se a David Hume que também escreveu um texto autobiográfico quando percebeu que estava próximo da morte. Existem vários livros de Oliver Sacks publicados em Portugal, como por exemplo Despertares, Um Antropólogo em Marte e O Homem que Confundiu a Mulher com um Chapéu. Vale a pena lê-los, tal como este pequeno texto, por várias razões, sendo uma delas o facto de terem muitas vezes interesse filosófico.
«Há um mês sentia-me de boa saúde, de perfeita saúde mesmo. Aos 81 anos ainda nado mais de mil e quinhentos metros por dia. Mas a minha sorte acabou - há poucas semanas fiquei a saber que tenho múltiplas metástases no fígado. Há nove anos descobriu-se que eu tinha um tumor raro no olho, um melanoma ocular. Apesar de a radiação e o tratamento com laser terem acabado por me deixar cego desse olho, só em casos muito raros é que esses tumores metastizam. Eu estou entre os pouco afortunados 2%.
Sinto-me grato por me terem sido concedidos nove anos de boa saúde e produtividade desde o diagnóstico original, mas agora estou cara a cara com a morte. O cancro ocupa um terço do meu fígado e, apesar de o seu avanço poder ser retardado, este tipo específico de cancro não pode ser detido.
Agora está na minha mão escolher como viver os meses que me restam. Tenho de viver da forma mais rica, mais profunda, mais produtiva que conseguir. A este respeito sinto-me encorajado pelas palavras de um dos meus filósofos favoritos, David Hume, que, ao saber que estava mortalmente doente aos 65 anos, escreveu uma autobiografia curta num único dia de abril de 1776. Deu--lhe o título de A Minha Vida.
"Antecipo agora um fim rápido", escreveu. "Padeci muito poucas dores com a minha doença; e o que é mais estranho, não obstante o grande declínio da minha pessoa, nunca sofri um momento de abatimento do meu espírito. Possuo o mesmo ardor de sempre no estudo e a mesma alegria na companhia dos outros."
Tive a sorte suficiente para viver para lá dos 80 e os 15 anos que me foram concedidos para além das seis dezenas e meia de Hume foram igualmente ricos em trabalho e em amor. Durante esse tempo publiquei cinco livros e terminei uma autobiografia (um pouco mais longa do que as poucas páginas de Hume) para ser publicada nesta primavera; tenho vários outros livros quase acabados.
Hume disse ainda: "Sou... um homem de disposição suave, de temperamento controlado, de um humor alegre, aberto e social, capaz de criar laços, mas pouco suscetível a inimizades e de grande moderação em todas as minhas paixões."
Aqui afasto-me de Hume. Apesar de ter vivido relacionamentos amorosos e amizades e não ter verdadeiras inimizades, não posso dizer (nem o dirá qualquer pessoa que me conheça) que sou um homem de disposição suave. Pelo contrário, sou um homem de disposição veemente, com violentos entusiasmos e extrema imoderação em todas as minhas paixões.
E, no entanto, uma linha do ensaio de Hume atinge-me como particularmente verdadeira: "É difícil ser-se mais desligado da vida do que eu sou neste momento", escreveu ele.
Durante os últimos dias fui capaz de ver a minha vida a partir de uma grande altitude, como uma espécie de paisagem, e com um sentido profundo da ligação de todas as suas partes. Isto não significa que a vida tenha acabado para mim.
Pelo contrário, sinto-me intensamente vivo e quero e espero que no tempo que me resta possa aprofundar as minhas amizades, dizer adeus àqueles que amo, escrever mais, viajar se tiver força para tal, atingir novos níveis de compreensão e discernimento.
Isso envolverá audácia, clareza e sinceridade; tentar acertar as minhas contas com o mundo. Mas haverá tempo, também, para me divertir (e até mesmo para algum disparate ainda).
Sinto, de repente, uma perspetiva e um objetivo claros. Não há tempo para nada que não o essencial. Tenho de me concentrar em mim, no meu trabalho e nos meus amigos. Já não verei o noticiário todas as noites. Já não prestarei qualquer atenção à política ou a debates sobre o aquecimento global.
Isto não é indiferença, mas antes desprendimento - ainda me preocupo profundamente com o Médio Oriente, o aquecimento global, a desigualdade crescente, mas estas coisas já não me dizem respeito; pertencem ao futuro. Alegro-me quando encontro jovens talentosos - até mesmo o que fez a biópsia e diagnosticou as minhas metástases. Sinto que o futuro está em boas mãos.
Nos últimos dez anos tornei-me cada vez mais consciente das mortes entre os meus contemporâneos. A minha geração está de saída e senti cada morte como um descolamento, um arrancar de uma parte de mim. Não haverá ninguém como nós quando desaparecermos, mas também não há ninguém igual a ninguém, nunca. Quando as pessoas morrem, elas não podem ser substituídas. Deixam buracos que não podem ser preenchidos, pois é o destino - o destino genético e neural - de cada ser humano ser um indivíduo único, para encontrar o seu próprio caminho, viver a sua própria vida, morrer a sua própria morte.
Não posso fingir que não tenho medo. Mas o meu sentimento predominante é o de gratidão. Eu amei e fui amado; foi-me dado muito e dei algo em troca; li e viajei e pensei e escrevi. Eu tive uma relação com o mundo, a relação especial entre escritores e leitores.
Acima de tudo, eu tenho sido um ser senciente, um animal pensante neste belo planeta e isso, por si só, tem sido um enorme privilégio e uma enorme aventura.»
Oliver Sacks, “A minha vida” - The New York Times / Diário de Notícias (21-02-2015).
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
O Farol: um retrato do que a vida tem de melhor
Este é um maravilhoso filme de animação - simples e muito, muito belo - a propósito do problema do sentido da vida. Apresenta uma resposta possível, há outras. Mas vale a pena conhecer esta.
domingo, 20 de julho de 2014
NEBRASKA: ao ar livre em Faro
Nebraska não é um filme para mostrar nas aulas de Filosofia a alunos do 10º ou do 11º ano, embora aborde questões filosóficas: Será moralmente correto mentir a uma pessoa para que ela se sinta feliz? O que faz com que a vida de alguém tenha sentido? Quais são as consequências de viver de uma forma acrítica e sem ter quaisquer interesses de natureza intelectual?
É filme tocante, com momentos hilariantes, um argumento excelente e uma fotografia fabulosa.
Acredito que seja entediante para alguns adolescentes (a maioria, admito) que vivem prisioneiros dos telemóveis, submetidos permanentemente a uma grande quantidade de imagens e informação e para quem, para além do imediato e do seu "eu", nada mais interessa.
Mas quem quiser pensar sobre questões essenciais, faça um favor a si próprio: veja este grande filme.
Mais cinema ao ar livre, em Faro...
sexta-feira, 7 de março de 2014
Ainda a felicidade
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Filomena: um filme imperdível
Até o cinema, em tempos de crise, pode parecer um luxo (pelo menos para algumas pessoas). Por isso, é necessário escolher, criteriosamente, os filmes (sem olhar muito para as estrelas atribuídas pelos críticos de cinema nos jornais portugueses, consultando antes o IMDb, que é sem dúvida mais fiável).
"Filomena", do realizador inglês Stephen Frears, é um filme maravilhoso por vários motivos: pelo excelente argumento, pelo desempenho dos atores, pela abordagem nada simplista dos temas da perda, da religião e do sentido da vida. São noventa minutos de diálogos inteligentes, de humor e drama, tendo como pano de fundo algumas das magnificas paisagens da Irlanda. A não perder, apesar da crise!
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
Sombras minúsculas
Estas palavras sobre a efemeridade da vida humana são impressionantes. Mas o facto de a vida ser breve e incerta tirar-lhe-á o valor e o sentido?
«”O que é a vida? O brilho de um pirilampo na noite. O bafo de um búfalo no Inverno. A sombra minúscula que desliza na relva e se perde no crepúsculo.” – disse o chefe Pé de Corvo, dos índios Blackfoot.»
Truman Capote, A sangue frio, Dom Quixote, Março de 2006, Lisboa, pág. 179.
«Creio que a vida dos homens na Terra, quando comparada aos vastos espaços de tempo de que nada sabemos, se assemelha ao voo de um pássaro que entrou pela janela de uma grande sala onde arde ao centro uma lareira como aquela onde tomas as refeições com os teus conselheiros e vassalos, enquanto lá fora reina a invernia, com as suas chuvas e neves. O pássaro atravessa a sala num ápice e sai pelo lado oposto; vindo do Inverno, a ele regressa, perdendo-se aos teus olhos. Assim também a efémera vida dos homens de que não sabemos o que havia antes e o que vem depois.»
Segundo Marguerite Yourcenar (O Tempo esse grande escultor, Difel, Lisboa, pp. 10-11), estas palavras foram dirigidas por um nobre da Nortúmbria (um dos reinos da Grã Bretanha, no século VII d. C) ao seu rei. Este tinha pedido aos membros do conselho uma opinião acerca do pedido de um missionário cristão para evangelizar o território e esse nobre defendeu que o rei devia autorizar a pregação da nova religião, aparentemente com base no facto de os seres humanos saberem muito pouco.
sábado, 19 de outubro de 2013
O que nos prende à Terra
Não é excelente, mas é um filme que vale a pena ver.
Se estivesses no espaço terias alguém, cá em baixo na Terra, a olhar para cima?
O que é que te prende à vida?
Estas são duas das questões colocadas no filme.
Encontra-se em exibição em muitas salas de cinema do país.