AMANHÃ, VOU SER OPERADA
A morte veio e ficou ao meu lado.
Eu disse: estou pronta.
Estou deitada numa cama da Clínica Cirúrgica de Cracóvia.
Amanhã
vou ser operada.
Há muita força em mim. Posso viver,
posso correr, dançar e cantar.
Tudo isso está em mim, mas se for necessário,
partirei.
Hoje
faço contas à minha vida.
Eu era uma pecadora,
batia com a cabeça contra a terra,
implorava à terra e ao céu
que me perdoassem.
Eu era bonita e feia,
sábia e estúpida,
muito feliz e muito infeliz,
frequentemente tinha asas
e flutuava no ar.
Percorri mil caminhos ao sol e na neve,
dancei com o meu amigo sob as estrelas.
Eu vi amor
em muitos olhos humanos.
Comi com prazer
a minha fatia de felicidade.
Agora estou deitada numa cama da Clínica Cirúrgica de Cracóvia.
Ela está comigo.
Amanhã
vão-me operar.
Pela janela as árvores de maio, lindas como a vida,
e em mim, humildade, medo e paz.
Poema de Anna Swir, traduzido por Jorge Sousa Braga.
Anna Swir nasceu em 1909 na cidade de Varsóvia e morreu em 1984, em Cracóvia.
O poema foi escrito enquanto estava no leito da morte.
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