terça-feira, 29 de junho de 2010

Graves divergências no governo: estudar ou não estudar?

Notícia bombástica do jornal Público: Mariano Gago, ministro da Ciência e Tecnologia e do Ensino Superior, afirmou que “é preciso estudar mais, é preciso voltar à escola, é preciso saber mais”.

Segundo a opinião unânime dos analistas políticos, trata-se de uma enorme gaffe política (sobretudo a primeira afirmação: “é preciso estudar mais”), pois contraria radicalmente a política educativa do actual governo, bem como do anterior (liderado – embora por vezes possa não parecer – pelo mesmo primeiro-ministro). Não é de excluir um conflito político entre  o ministro da Ciência e Tecnologia e do Ensino Superior e a ministra da Educação.

Que pensará o primeiro-ministro sobre o assunto, admitindo que pensa alguma coisa?

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A excisão genital feminina: o testemunho de Waris Dirie

Estreou, recentemente nos cinemas portugueses, um filme baseado na história da modelo somali Waris Dirie, chamado Flor do deserto.  Waris Dirie nasceu numa família nómada da Somália  e  foi submetida a uma prática imoral, mas vulgar no seu país e em vários outros, chamada mutilação genital feminina ou excisão. Mais tarde, quando se tornou conhecida internacionalmente, escreveu um livro e tornou-se uma activista contra essa tradição cultural.

Este testemunho mostra-nos como o respeito pela diversidade cultural de um povo não pode confundir-se, como é frequente, com a defesa do relativismo cultural. Assim, se admitíssemos um dos pressupostos fundamentais desta teoria: o que é moralmente certo ou errado depende dos padrões culturais aprovados pela maioria das pessoas pertencentes a uma determinada sociedade, ficaríamos impedidos de considerar que, do ponto de vista racional, esta é uma prática absurda que viola alguns dos direitos humanos fundamentais.

Portanto, nem todos os valores morais são relativos, nem todas as tradições culturais são respeitáveis. Ou não?

sábado, 26 de junho de 2010

A Net pode estupidificar o cérebro?

Cérebro do Homer Simpson

A minha colega Ana Costa – a quem agradeço - enviou-me um interessante artigo do Jornal de Negócios  Online, onde se analisam alguns dos efeitos que o uso da Internet produz no cérebro humano. Esta reflexão apoia-se em estudos científicos. Vale a pena ler e pensar no assunto. Afinal diz-nos respeito!

«A frase é forte, altamente contestada e é proferida por um adepto confesso das novas tecnologias e respeitado especialista em questões relacionadas com a vida na Web. O seu nome é Nicholas Carr, e o seu último livro, apoiado em inúmeras experiências científicas, afirma que “estamos a treinar os nossos cérebros para prestar atenção a tudo o que não interessa”. É que a explosão de tecnologia digital não só alterou a forma como vivemos e comunicamos, como também a nossa actividade cerebral.
No início de 2009, num estudo publicado pela revista Science, uma famosa psicóloga do desenvolvimento, Patrícia Greenfield, avaliou mais de 40 estudos sobre os efeitos dos vários tipos de media em correlação com a inteligência e a capacidade de aprendizagem. Uma das suas conclusões foi a de que “cada meio desenvolve algumas competências cognitivas em detrimento de outras”. A utilização crescente da internet e de outras tecnologias com base em ecrãs, escreve, levou a “um desenvolvimento generalizado e sofisticado das nossas competências espaciais e visuais”. Contudo, esses ganhos caminham de mãos dadas com um enfraquecimento da nossa capacidade de “processamento aprofundado” que sustenta a “aquisição cuidadosa de conhecimentos, análise indutiva, pensamento crítico, imaginação e reflexão”.
Se o leitor conseguiu ler este parágrafo sem ter a tentação de abrir o seu email, de responder a um tweet, de visitar o Facebook ou de ver algum vídeo no YouTube, parabéns, pois ainda não está totalmente rendido ao vício e à distracção crónica. Mas e voltando ao estudo acima citado, afinal não concordámos todos que a Internet abriu portas a todo o conhecimento do mundo, aumentou a nossa produtividade para níveis jamais vistos e contribuiu para todos nós sermos mais informados e conhecedores da realidade? De acordo com o autor de The Shallows: what the Internet is doing to our brains, a questão das multi-tarefas que é permitida e encorajada por todos os dispositivos digitais que temos ao nosso dispor serve, supostamente, para aumentar a nossa produtividade mas, muitas vezes, acaba por a diminuir.
Quando nos ligamos à Internet, entramos num ambiente que promove a leitura apressada, um tipo de pensamento ‘às pressas’ e distraído e a aprendizagem superficial”, escreve. Para o autor, a leitura é feita a partir de um padrão em “F”: depois de lermos as duas primeiras linhas de um texto, o mais comum é que os nossos olhos desçam até ao final da página. E isto explica-se pelo facto de estarmos a perder a capacidade de transferir o conhecimento da memória “em trabalho” de curto prazo para a memória de longo prazo, a qual é responsável por modelar as nossas perspectivas e visões de forma duradoura. Ou seja e de forma simples, o que ganhamos em quantidade de informação disponível, perdemos na forma como a deixámos de aprofundar.»

Leia o resto no artigo no Portal VER.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

De mal a pior

Nos últimos anos quase todas as medidas adoptadas pelos governos na área da Educação têm sido más. De vez em quando ouve-se alguém dizer “não se pode descer mais baixo” ou “pior não pode ficar”, mas pouco depois surge uma nova medida que consegue piorar ainda mais o que já estava mal.

Um exemplo recente: a intenção do governo de agrupar as escolas em “mega” agrupamentos, já transformada em decreto de lei, se for realmente implementada, instalará o caos nas escolas; no próximo ano, os professores e os alunos obrigados a ir a outra escola tratar de um assunto administrativo sentir-se-ão tentados a dizer “pior não pode ficar”. Mas infelizmente estarão enganados. Por incrível que possa parecer, as coisas poderão ainda pior mais.

Se algumas das ideias da Proposta de Revisão Curricular dos Ensinos Básico e Secundário, elaborada pelo Conselho de Escolas (órgão consultivo do Ministério da Educação) forem postas em prática, é provável que as coisas piorem ainda mais. Por exemplo: entre o 5º e o 8º anos a carga horária da História será decidida por cada escola, podendo a disciplina existir apenas em dois anos lectivos; por outro lado, uma nova disciplina chamada Educação Sexual e Cidadania deverá ser leccionada todos os anos. Veja aqui mais exemplos e pormenores desse desastre anunciado.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Amália: dois poemas sobre o amor

Fica a sugestão: oiçam a Voz e os poemas, esqueçam os vídeos (de um certo mau gosto).

Ambas as canções são tiradas do álbum original: “Segredo”, que além destas  tem outras canções inéditas gravadas no período entre 1965 e 1975, quando Amália se encontrava no auge da sua carreira. Estas gravações foram descobertas numa arca e só foram editadas em 1997. E são, na minha modesta opinião, algumas das melhores interpretações de Amália.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

No exame de Física e Química de amanhã: um raciocínio intrépido

Exame de Física e Química

Exame de Química

 

A eutanásia em debate: a opinião dos alunos (2)

Eis a argumentação, da aluna Victoria Zoriy, contra a eutanásia:

Eutanásia, palavra proveniente de uma expressão grega que significa “boa morte”, designa o acto de matar um doente terminal, cujo estado incurável e irreversível o conduzirá à morte dentro de pouco tempo, como forma de acabar com a sua dor e sofrimento.

Na maioria dos países do mundo tal prática é considerada crime, excepto na Holanda, onde se encontra legalizada e é exercida em certas circunstâncias cuidadosamente delineadas. No entanto, começam a surgir esforços com vista à sua legalização noutros países. A questão é: a eutanásia, em termos éticos, é uma opção razoável?

No meu ponto de vista, a eutanásia não é a resposta e aproveito para lembrar que todo o indivíduo tem direito à vida e que, sendo este um direito inalienável, ou seja, que não deve ser violado, a reivindicação da eutanásia médica é contraditória em relação a este direito.

É importante referir que uma lei que legitimasse a eutanásia poderia ter consequências negativas: a sua prática generalizada poderia levar a abusos e algumas pessoas poderiam ser mortas, mesmo que não se encontrassem em estados terminais irreversíveis.

Do meu ponto de vista, não tem sentido um médico recorrer à eutanásia como forma de apressar a morte de um paciente! A sua missão deveria ser a de tudo tentar para conservar a vida. É raro que não haja a possibilidade de melhorar o estado de saúde de um doente com um procedimento inédito ou uma associação de certos medicamentos. O pior que se pode infligir a um doente é: “Lamento, não há nada a fazer”, o que é indigno é tratá-lo como se já estivesse morto ou como se já não valesse nada. E, consequentemente, legalizando a prática da eutanásia, renunciar-se-ia a tratar activamente ou melhorar, através de novos processos, jovens com deficiências mentais e paraplégicos por acidente de viação e talvez até se renunciasse aos cuidados não específicos que se limitam a mantê-los com vida (ou seja, adopta-se a forma mais “simples” de terminar com o sofrimento). Como exemplo de abandono potencial e abusivo resultante da adopção da eutanásia, temos o caso de Dr. Kevorkian. Jack Kevorkian, “Dr. Morte”, assistiu nos suicídios de Marjorie Wantz e Sherry Miller, em que ambas não se encontravam em estado terminal (inflamação pélvica e esclerose múltipla, respectivamente), mas sim num estado tratável e curável. Como tal, Dr. Kevorkian foi acusado de crime pela morte destas duas mulheres.

Idosos fragilizados e incapacitados são, muitas vezes, pressionados a recorrer à eutanásia: fazem-no, por vontade própria, pelo facto de não quererem ser um “fardo” financeiro e emocional para a família, da qual dependem totalmente. Geralmente, o doente não é favorável a que o “executem”, em oposição à família e à sociedade que fazem contas aos custos. Chega-se mesmo a encorajar a eutanásia no sentido de racionalizar os serviços de cuidados em casas de saúde. O doente que, normalmente, aceitaria ficar diminuído desde que sobrevivesse, mesmo que sentisse que a doença o levará um dia, é abandonado no momento em que, provavelmente, tem mais necessidade de ser acompanhado. A legalização tornaria a eutanásia disponível a pedido de forma que alguns familiares ou herdeiros de doentes poderiam começar a recomendá-la. O direito a morrer tornar-se-ia um dever de morrer!

Apresentemos, então, uma objecção possível aos argumentos expostos anteriormente. Se se adoptar uma posição contra a prática da eutanásia, o que deverá ser feito aos doentes que enfrentam sofrimento intenso e incurável? Como no caso de Jack que tinha um melanoma na barriga, um tumor sólido que os médicos pensavam ser do tamanho de uma bola de baisebol: a uma certa hora era-lhe ministrada uma dose de analgésicos para aliviar as dores, mas quase não tinha efeito e Jack, passadas algumas horas, voltava a “gemer e uivar” de dor. Hoje em dia sabemos que os medicamentos para aliviar a dor, como muitos outros, podem ter efeitos secundários irreversíveis. Assim, será a atitude mais correcta ministrar ao doente medicamentos para aliviar a dor? Estes podem muito bem trazer outras doenças e problemas. Neste sentido, a prática da eutanásia não seria a melhor resposta ao sofrimento?

Como resposta à objecção anterior, diremos que se o Homo Sapiens sentiu a necessidade de enterrar os seus mortos, recusando-se, na expressão de Pascal, a considerá-los unicamente como um embrulho de carne e de ossos, não vêem que a legalização da eutanásia trará excessos inevitáveis? Independentemente da pressão que os doentes exercem sobre os médicos não nos devemos deixar habituar à ideia que a vida deles é menos digna e pode ser-lhes tirada “para seu bem”. A meu ver, a medicina só deve ser praticada se transmitir um respeito total pela vida humana, o que não se verificará com a legitimação da eutanásia. Não pretendo com isto persuadir os que tencionam institucionalizar a eutanásia, mas, actualmente, existe uma unidade de cuidados paliativos de extrema qualidade que dispõe de meios adequados para terminar ou, nalguns casos, aliviar o sofrimento do doente, sem o matar. Assim, numa perspectiva ética, a solução não é “suprimir o doente para suprimir a doença”, mas sim proporcionar-lhe todo o cuidado e conforto possíveis, de modo que viva os seus últimos dias com significado e dignidade.

Victoria Zoriy, 11ºG

A eutanásia em debate: a opinião dos alunos (1)

Fiz, no final deste ano lectivo, um debate sobre o problema da eutanásia. Com o objectivo de se preparem para a discussão, os meus alunos das turmas C e G do 11º ano elaboraram, previamente, textos argumentativos em que defendiam os seus pontos de vista (podem ser lidos aqui). Destaco, entre os melhores, os que foram realizados pelos alunos (da turma G do 11º ano) João Martins, a favor da eutanásia e Victoria Zoriy contra.

Eis a argumentação a favor:

A eutanásia é o processo através do qual se põe termo à vida de um indivíduo enfermo de maneira controlada e auxiliada por um especialista. A sua prática e legalização são abordadas como um assunto controverso e que levanta algumas questões morais. Mas esta é uma discussão que, muitas vezes, as pessoas não gostam de ter, pois implica depararem-se com um dos seus maiores medos: a morte.

A reflexão acerca do problema da eutanásia, apesar da controvérsia existente, é extremamente pertinente, pois parte de situações concretas da atualidade e diz respeito a todos os seres humanos. Assim, é incompreensível a maneira como as pessoas se escandalizam quando se aborda este tema, como se a eutanásia fosse ela própria uma doença que se pudesse propagar através da discussão da sua moralidade.

Sendo a eutanásia um conceito muito genérico, é necessário, desde logo, fazer a distinção entre dois tipos: a ativa e a passiva. A eutanásia ativa é quando se acionam meios que põem fim à vida, sendo estes pensados pelo doente e pela pessoa encarregue de concretizar o ato; na passiva, há a renúncia da tomada de medidas e meios para impedir a morte. Dentro destes dois tipos, existe ainda a voluntária, que é a pedido do paciente, a não voluntária, quando o paciente não exprime a sua vontade de ser alvo da prática da eutanásia, e a involuntária, quando o paciente exprime que não quererá ser alvo de tal prática.

Do meu ponto de vista, a eutanásia devia ser legalizada e vista como moralmente correta em certas situações. Nomeadamente situações terminais ou quando a dor já se torne infernal e com um pedido sério, inequívoco do indivíduo. Neste caso, o facto deste nunca vacilar durante o processo seria essencial e bastante importante para determinar a sua prática, tendo também em atenção que a sua decisão deveria ser acompanhada de, pelo menos, dois pareceres médicos juntamente com o paciente e/ou a sua família. Ou seja, com a legalização da eutanásia, deveriam ser estabelecidas numerosas práticas de proteção que visassem evitar abusos, através da sua interpretação errada, como sendo algo de espírito suicida e não como sendo algo pensado e ponderado pelas pessoas envolvidas no processo. Defendo ainda que deveria ser permitida unicamente a eutanásia ativa e todos os tipos já referidos associados a esta.

Ao ser legalizada, a eutanásia passaria a ser um direito e não uma obrigação como a generalidade da população acredita. Por isso, se o indivíduo que o quer utilizar estiver na plena posse das suas faculdades mentais e, tomando essa decisão, se for bem ponderada e com todas as condições que já mencionei, esta deve ser respeitada e livre de qualquer tipo de interferência. É claro que os médicos que acompanham o indivíduo poderiam, com todo o direito que o título lhes confere, informar o enfermo de outras opções que não a eutanásia, mas é a vontade do indivíduo que deve prevalecer sempre. Se a sua vontade for morrer digna e autonomamente, o respeito que se exige pela sua autonomia atual - desde que não interfira na dos outros - deverá levar a que seja consentido o direito à prática da eutanásia.

Também defendo a legalização da eutanásia porque sujeitar um ser humano - que está a sofrer com dores agudas permanentes - a que continue a viver e, por isso, a sofrer, é desumano (até porque a vida deixa de ser digna nesse estado). Deixá-lo viver assim, num estado em que o sofrimento é uma tortura e continuar a sujeitá-lo, contra a sua vontade, a tratamentos dolorosos e degradantes viola os direitos que estão consagrados ao ser humano desde o seu nascimento, em particular a sua liberdade de escolha.

Os médicos devem ter em mente que o que deve prevalecer na relação com o doente é que este deve ser respeitado, não só a sua mais profunda vontade mas também, com ela, a sua felicidade, que, no presente, pode ser melhorada ao lhe aliviarem a dor e a sua ansiedade em querer morrer para que toda aquela aflição cesse através da morte que, como se sabe, mais tarde ou mais cedo chegará para todos.

Na minha opinião, devia adotar-se a eutanásia ativa e não a passiva porque é mais misericordiosa e não difere moralmente em nada da passiva, visto que ambas têm como objetivo final a morte do indivíduo. Mas, enquanto que os médicos podiam apenas administrar ao paciente o medicamento que lhe provocasse a morte de imediato (eutanásia ativa), o uso da passiva sujeitaria o paciente, dependendo do seu estado e situação, a uma espera de agonia e sofrimento intenso e que apenas serviria para o seu mal estar nas suas horas finais.

Poderão argumentar que o facto de eu defender o argumento da autonomia a favor da prática da eutanásia e ao mesmo tempo a eutanásia não voluntária e involuntária não faz sentido e tratar-se-á de um discurso lógico mal concretizado. Porém, tal como referi, a vontade do indivíduo deve ser respeitada acima de tudo, mas apenas quando este se encontra em plena posse das suas capacidades mentais. Defendi também que a sua família, nomeadamente a que pertence ao grau de parentesco mais próximo, teria um papel fundamental junto dos médicos e do indivíduo, estando a sua vontade imediatamente a seguir à deste.

Se o estado do paciente se agravasse e este estivesse de tal forma incapacitado e sem consciência, então os médicos teriam de consultar a sua família e esta, ao tomar uma decisão, substituiria a do indivíduo. É, por isso, moralmente correta a eutanásia, para além da voluntária, a não voluntária e a involuntária pois, apesar de ter defendido que as decisões do indivíduo não deveriam ser alvo de qualquer tipo de coerção, no caso de este se encontrar num estado de saúde em que já não lhe seja possível compreender de alguma maneira todo o mal a que está a ser sujeito por parte do seu organismo, a família, os entes queridos mais próximos devem ter o direito de decidir o que é melhor para este e para o seu sossego interior, visto que no futuro apenas o espera uma existência com péssima qualidade.

Se a pessoa deseja pôr fim à sua vida que seja legalmente, sem ser de forma clandestina e vista como criminosa, pois se esta não julga aqueles que não querem assentir a esta prática, estes também não devem poder julgar nem a ela nem à pessoa que a ajuda a concretizar este ato.

Em suma, defendo que a prática da eutanásia é moralmente permissível e, por isso, deve ser legalizada. Para que quem tome a decisão de ter uma morte digna não seja visto como quem comete suicídio. Quem opta pela eutanásia quer acabar com a vida para pôr fim a um sofrimento físico e psicológico atroz: este é um direito que qualquer pessoa deve ter.

João Martins, 11ºG

sábado, 19 de junho de 2010

Lazer

eduardo-gageiro-cais-das-colunas

«(…) lazer é licença, liberdade - especificamente, é estar livre de trabalhos e de deveres, permitindo que se fique à vontade, que se contemple o prazer, que se deixe de lado obrigações e regras (…).

Esta concepção do lazer é agora dominante. Atribui-se-lhe um contraste directo com o trabalho - e a implicação indirecta é que se trata de algo muito mais desejável do que o trabalho (…).

E, contudo, o lazer só poderia ser melhor do que o trabalho (à parte do trabalho especialmente doloroso e excessivo) se também constituísse uma vida de actividade, pois a mera ociosidade, após algum tempo, torna-se opressiva. “A ausência de ocupação não é descanso: um espírito completamente desocupado é um espírito angustiado”, escreveu William Cowper, agitando o dedo mas dizendo a verdade. A excelente máxima de Aristóteles acerca do bom uso do lazer interpreta-o como uma oportunidade para desfrutar daquilo que nos faz prosperar: cultivar as artes, a reflexão, a promoção do conhecimento, o aprofundamento das amizades, a procura da excelência (…).

(…) Visto desta forma, o lazer não é o oposto do trabalho; é - como Mark Twain e Aristóteles sugeriram - algo melhor: a oportunidade de trabalhar para fins mais elevados.» 

  A. C. Grayling, O significado das coisas, Lisboa, 2002, Edições Gradiva, pp. 205-207.

Aqui fica a sugestão para ocupar o tempo de lazer, que já existe para alguns e para outros se aproxima.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Apologia dos exames

Aires Almeida (questões básicas e Crítica: blog de filosofia) escreveu, no jornal Público, um interessante artigo sobre os exames nacionais, onde refuta algumas das críticas que por vezes são feitas  a esses exames  e  em que mostra, pelo contrário, a utilidade da sua existência. Vale a pena ler e até divulgar. Clique aqui para ler o artigo.

Vale também a pena ler esta notícia do jornal Público: Noventa por cento de candidatos a advogados chumbados no exame de acesso ao estágio da Ordem dos Advogados, nomeadamente porque sugere que os exames nacionais, bem como outras medidas promotoras do rigor e da exigência no ensino, são não só úteis como indispensáveis.

Exames: 99% de estudo e 1% de sorte

Ainda assim, boa sorte para os exames que começam hoje! :)

Boa sorte para os exames

Cartoon

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Um falso dilema

A opinião dos alunos: a eutanásia é certa ou errada?

Numa aula do 3º período, os alunos das turmas B, D, E e F do 10º ano dispuseram de aproximadamente 60 minutos para redigirem um ensaio defendendo a sua opinião acerca da eutanásia. O melhor ensaio a favor da eutanásia foi da aluna Roxane Shahbazkia, do 10º D. O melhor ensaio contra a eutanásia foi do aluno Paulo Figueiredo, do 10º F. Ei-los.

I

A eutanásia pode ser activa ou passiva e cada um destes tipos pode subdividir-se em voluntária, não voluntária e involuntária. (Para perceber as diferenças clique aqui.)

Apenas irei defender a eutanásia activa voluntária e a eutanásia activa não voluntária.

Sou completamente contra a eutanásia involuntária. A eutanásia involuntária, seja ela passiva ou activa, não é realmente eutanásia, é assassínio. A eutanásia deve ter o consentimento do paciente ou de um familiar. Discordo também da eutanásia passiva, como explicarei depois.

Os agentes racionais têm o direito de tomar as suas próprias decisões de forma autónoma e nós devemos respeitá-las. Logo, se um paciente diz, repetidamente, desejar a eutanásia para acabar com o seu sofrimento devemos aceitar e respeitar o seu pedido. Por exemplo: um homem muito doente e com dores horríveis, luta durante meses contra a doença, mas dá-se conta que isso não lhe serve de nada e que mesmo que sobrevivesse teria de estar sempre de cama e não poderia voltar a ser feliz. Se esse homem pedisse a eutanásia ao seu médico, conhecendo o seu estado e sendo o que ele deseja, seria errado não respeitar essa decisão.

Este argumento é conhecido como o argumento da autonomia e permite defender a eutanásia voluntária.

O sofrimento intenso é imoral. Os médicos devem agir, em relação aos pacientes, tendo em mente que o tratamento tem de proporcionar mais bem-estar do que incómodo. Por isso, se o objectivo for aliviar a dor, os médicos devem aumentar a dose de narcóticos, analgésicos, etc., mesmo que isso resulte na morte do paciente. Por exemplo, como poderá um medico não aumentar as doses de analgésico de alguém que sofre atrozmente depois de queimaduras muito graves? Não fazê-lo seria incorrecto e seria considerar o paciente como um objecto, ignorando o seu sofrimento.

Este argumento permite defender a eutanásia voluntária e a eutanásia não voluntária.

A eutanásia não voluntária é por vezes considerada como errada mesmo por pessoas que defendem a eutanásia voluntária. Penso que essa opinião está errada. Há diversas doenças que afectam bebés e adultos e os impedem de dizer se querem continuar ou não a viver, mas algumas dessas pessoas sentem imensas dores e não aproveitam nada da vida. Logo, penso que alguém com responsabilidade legal por elas tem o direito de autorizar a eutanásia. Não o fazer seria apenas dar continuação a esse sofrimento e gastar dinheiro e energia sem nenhum resultado positivo.

Existem muitas pessoas que aprovam a eutanásia passiva, pois consideram que isso não é matar, mas apenas deixar morrer. Contudo, moralmente, fazer algo ou deixar que aconteça não terá o mesmo valor? Por exemplo: uma pessoa que não gosta do seu vizinho quer furar os pneus de seu carro; quando lá chega vê um grupo de jovens a fazê-lo e fica só a olhar, não os impedindo nem avisando o dono ou a polícia. Nem furar os pneus nem deixar que alguém os fure é correcto. Por isso, o comportamento dessa pessoa não é mais defensável que o comportamento dos jovens. Sendo assim, matar ou deixar morrer não será moralmente equivalente? Parece-me lógico que, se as pessoas aceitam a eutanásia passiva, devem aceitar a eutanásia activa.

Existe outro argumento que mostra que a eutanásia activa é melhor que a eutanásia passiva: ao deixarmos uma pessoa morrer ela vai quase sempre sofrer intensamente; por isso, ao provocarmos a sua morte poupamos-lhe um grande e inútil sofrimento. Por exemplo: um paciente que tem dificuldades respiratórias pede a eutanásia; se os médicos suspenderem o seu tratamento, desligando o ventilador, o paciente irá passar horas de agonia e sofrerá imenso, caso esteja consciente; mas se os médicos decidirem injectar-lhe uma dose de uma substância que abrande os batimentos cardíacos, o paciente morrerá a dormir, pacificamente, sem dor ou com muito pouca dor.

Os críticos da eutanásia, como o filósofo J. Gay-Williams, usam o argumento da natureza para defenderem o seu ponto de vista. Eles dizem que a eutanásia violenta o nosso objectivo primordial, que é a sobrevivência, e que isso é contrário à natureza. Logo - concluem -, a eutanásia é incorrecta.

No entanto, eu penso que nem todas as pessoas têm o mesmo instinto de sobrevivência e que este não é algo assim tão fundamental e natural. Isso é demonstrado nomeadamente pelos casos de suicídio. Existem pessoas com um instinto de sobrevivência mais “fraco” e com uma capacidade de resistência ao sofrimento menor e estas têm direito, caso a sua situação clínica o justifique, à eutanásia.

Outro argumento contra a eutanásia é o dos efeitos práticos, segundo o qual, se a eutanásia fosse legalizada, a possibilidade de recorrer a ela levaria a um decréscimo da qualidade dos serviços de saúde. Isto porque os médicos tenderiam a tratar apenas dos casos menos graves, deixando os outros serem mortos por eutanásia. Para reforçar esse argumento, os críticos também dizem que outras pessoas se achariam com o direito de prescreverem a eutanásia a certos pacientes mesmo sem o acordo destes e que pouco a pouco haveria uma derrapagem, com casos cada vez menos graves a serem objecto de eutanásia.

Discordo desse argumento, pois os médicos e enfermeiros, devido às regras profissionais a que obedecem e à vocação que geralmente têm, não costumam deixar alguém morrer sem terem feito tudo o que estava ao seu alcance. Acresce que a eutanásia só é praticável em casos terminais, graves e sem cura. Por isso, nunca haveria um decréscimo tão grande na qualidade dos serviços de saúde.

Se a eutanásia for legalizada terá de ter algumas regras. O paciente terá de pedir a eutanásia repetidamente, deverá haver acordo entre os médicos responsáveis e, se o paciente não estiver consciente, terá de haver o acordo dos familiares. Logo, não será possível, ou pelo menos não será fácil nem provável, haver alguém a pedir a eutanásia para outra pessoa sem boas razões e apenas por interesses egoístas.

A eutanásia é uma decisão difícil para os pacientes, familiares, amigos, médicos, mas tem por vezes de ser levada em conta, pois é moralmente correcta.

Roxane Shahbazkia

II

Na minha opinião, a eutanásia é errada em todas as suas formas. São diversas as razões que me levam a defender essa tese.

1. A eutanásia contraria a natureza e o instinto de sobrevivência que parecemos ter. Com efeito, os seres humanos quando estão numa situação de perigo tentam sempre ou fugir ou atacar a ameaça para se defender dela. Quando nos ferimos o nosso corpo também dá uma resposta favorável à sobrevivência: coagula o sangue e cicatriza a ferida. Estamos sempre prontos a sobreviver e a lutar para o conseguirmos. Logo, ao praticarmos a eutanásia estamos a agir contra a natureza.

2. Esta prática de tirar a vida deliberadamente poderá nalguns casos servir apenas os interesses egoístas dos familiares do doente. Imaginemos o caso de uma pessoa que está em coma há muito tempo. Os médicos perguntam aos familiares o que querem que se faça e estes pedem que se faça a eutanásia para ficarem com os bens do doente. Casos como esse seriam frequentes se a eutanásia fosse legalizada.

3. Uma pessoa que esteja tetraplégica ou que tenha outro problema de saúde grave e incurável, poderia - contra o seu próprio interesse - decidir morrer, pois não quer dar trabalho e despesa, nem empatar as vidas das pessoas que tomam conta dela (poderia também suceder que fossem os familiares a convencerem-na a querer morrer, por esta dar trabalho). Casos como esse seriam igualmente frequentes se a eutanásia fosse legalizada.

4. Por vezes, são feitos diagnósticos errados e uma pessoa até pode ter boas hipóteses de cura mas convencer-se que tem uma doença incurável. Se se recorrer à eutanásia perde-se a possibilidade de descobrir o erro clínico e de salvar a pessoa.

5. Se a eutanásia fosse uma prática corrente os médicos e as enfermeiras poderiam começar a executar o seu trabalho de modo menos profissional e dedicado. Por exemplo, se houvesse um doente com cancro num estado bastante avançado e com várias ramificações, com poucas hipóteses de sobreviver, o que poderia acontecer era que os profissionais de saúde tomassem aquele caso como um caso de eutanásia e não se esforçassem por tratar o doente, dando-o como “um caso perdido”. Este processo com o tempo poderia entrar em derrapagem: de cada vez que aparecesse alguém com uma doença mais grave os médicos já não se esforçariam tanto, pois havia a opção da eutanásia. Por fim, passariam apenas a ser tratados os casos menos graves e com elevadíssimas hipóteses de cura.

Os defensores da eutanásia sublinham que antes de se realizar a eutanásia haveria um conjunto de procedimentos que seria necessário efectuar: os médicos teriam que se certificar que a pessoa queria mesmo morrer e não estava apenas numa altura especialmente desesperada, o pedido teria que ser realizado várias vezes, a pessoa teria que ter consciência do seu estado clínico e este teria que ser irrecuperável. Consideram, por isso, que os riscos referidos são improváveis.

No entanto, esses riscos não são de modo nenhum improváveis, sobretudo se a eutanásia for legalizada em países com uma má organização do sistema de saúde. Num país como Portugal, por exemplo, em que o sistema é um pouco confuso e desorganizado, o resultado poderia ser desastroso.

Os defensores da eutanásia argumentam que o sofrimento muito intenso, em casos terminais e sem esperança de cura, é imoral e que a eutanásia alivia a dor da pessoa e mata-a sem que esta sofra. E consideram, portanto, que é moralmente certo praticar a eutanásia. Contudo, hoje em dia com cuidados paliativos um doente pode viver até aos últimos minutos da sua vida com poucas dores, através de analgésicos e outros tratamentos. A eutanásia não é a única opção no que diz respeito ao combate ao sofrimento. Por outro lado: o sofrimento não fará parte da vida?

Paulo Figueiredo

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Fado português

Que Portugal se espera em Portugal

Que gente ainda há-de erguer-se desta gente?

Pagam-se impérios como o bem e o mal

mas com que há-de pagar-se a quem só rouba a mente?

Jorge de Sena, Correspondência Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena, Editora Guerra e Paz.

O aborto em debate: a opinião dos alunos (2)

Pedi aos meus alunos do 10º (turmas A e C) e 11º (turma B), que lessem alguns artigos filosóficos (disponíveis aqui) com argumentos a favor e contra o aborto e elaborassem um pequeno ensaio defendendo o seu ponto de vista.

O melhor ensaio a favor o aborto foi escrito pela aluna Inês Pedro do 10º C que, embora assinale algumas restrições a esta prática, considera o acto de abortar como eticamente aceitável em certas circunstâncias.

Eis a argumentação apresentada:

Na discussão ética sobre o problema do aborto, o que está em causa é se este é moralmente correcto ou não. A minha posição perante este problema, comummente discutido, é a favor mas apenas em certas situações. Não considero que o aborto seja a solução mais correcta sempre que uma mulher engravida. Deve ser apenas permissível em situações extremas, como por exemplo, se uma mulher for violada e engravida, não deverá ser obrigada a ter o bebé uma vez que se trata dum acto involuntário. Ou no caso de uma mulher engravidar - nomeadamente se for rapariga menor - e a vinda do bebé só lhe trazer consequências más a nível físico ou psicológico, ela poderá ter a hipótese de abortar. Mas em ambos os casos, o aborto só deverá ser feito nas primeiras semanas de gestação.

Embora haja, hoje em dia, meios contraceptivos com uma eficácia muito elevada, ainda não existe um que seja 100% seguro, o que significa que há uma probabilidade, mesmo que seja baixa, de a mulher engravidar usando um meio contraceptivo. Nesse caso, ela não tem o dever de ter essa criança. Se a mulher que engravida não quiser a criança ou se não estiver mentalmente preparada ou não tiver condições financeiras para suportar uma criança, então esta nunca terá uma infância como qualquer criança deve ter. E isso leva a que a criança não possa ser feliz, uma vez que não se sente desejada e nem a própria mãe conseguirá ser feliz, visto que nunca quis ter aquela criança. Nestes casos, podemos verificar que a mulher não teve culpa de ter engravidado e, portanto, as mulheres deverão ter a possibilidade de abortar, visto que o nascimento da criança não trará felicidade nem para a mãe nem para o filho. Há pessoas que refutam esta ideia dizendo que a mulher sabe os riscos que corre ao ter relações sexuais mesmo utilizando o preservativo e terá que se responsabilizar pelo seu acto. Então as mulheres só deveriam ter sexo quando quisessem ter filhos? Não me parece a melhor solução, uma vez que sexo não é somente sinónimo de procriar, é também uma demonstração de amor. Logo, ter sexo não implica ter um filho e, por isso, as pessoas que estão preparadas para ter relações sexuais não têm necessariamente que estar aptas para ter uma criança.

Muitas mulheres sacrificam o seu futuro pelos seus filhos. Por exemplo, há mulheres que engravidam (sem esse propósito) enquanto ainda são estudantes ou quando iniciam a sua vida profissional. Ora, o assumir da maternidade requer muita disponibilidade da parte da mãe e, por esse motivo, ela poderá não se conseguir concentrar na sua carreira e ser forçada a optar pelo filho. Nestes casos, a prioridade devia ser a vida da mulher e não a do filho, dado que este não é ainda um ser humano, tal como alguns filósofos defendem. O problema, quando se debate o aborto do ponto de vista ético, é saber qual é, afinal, a definição de ser humano?

Uma pessoa que fosse contra o aborto podia refutar esta última ideia (o feto ainda não ser humano) dizendo que um ser humano é aquele que descende da espécie Homo sapiens, e como um feto já é considerado um ser da espécie Homo sapiens, então a vida dele vale tanto como a da mãe e, assim, esta não tem o direito de abortar, ou seja, de matá-lo. Mas se ser um ser humano é apenas isso, então o que é que torna a espécie humana diferente de todas as outras espécies do planeta?

É necessário procurar uma definição mais precisa que permita distinguir os seres da espécie humana das restantes. Respondendo à questão colocada é o facto de sermos racionais e conscientes que nos torna diferentes dos animais das outras espécies. Contudo, um feto ainda não tem estas características, logo não pode ser considerado um ser humano. Com isto podemos concluir que a mulher não está a matar um ser humano ao abortar, mas sim a proteger os seus próprios interesses e direitos.

Em relação àqueles que consideram o aborto tão grave como o infanticídio, pode-se argumentar que estes dois actos não são comparáveis. Em ambos os casos trata-se da morte dum ser, só que um feto com poucas semanas ainda não tem capacidade de sentir dor (não é senciente), dado que não possui, numa fase inicial, o sistema nervoso central constituído, tal como demonstram alguns estudos efectuados por vários neurofisiologistas. Isto significa que se a mulher abortar o feto, este não vai sofrer, pois ainda não tem a capacidade de sentir dor ou outras sensações, por exemplo auditivas. No caso de infanticídio, o bebé já desenvolveu estas capacidades, e ao matá-lo ele está a sofrer. Assim, aplicando os pressupostos da teoria utilitarista, o aborto não trará dor ou sofrimento ao feto, ao contrário do infanticídio, em que a criança em causa sofrerá. Deste modo, se avaliarmos as consequências negativas do aborto para o bem-estar da mulher e do feto, concluímos que, numa fase inicial da gravidez, estas são mais prejudiciais para a mulher, que já é uma pessoa e é senciente, do que para o feto que não é senciente nem é uma pessoa. Os direitos da mulher, em particular o da liberdade de escolha, devem prevalecer em relação aos do feto. E, portanto, o aborto não é moralmente errado, o que não se acontece numa fase mais avançada da gestação.

Como é óbvio, o aborto não deverá ser o recurso para qualquer gravidez indesejada, pois isso iria levar a graves consequências para as mulheres, uma vez que não se iriam preocupar em utilizar meios contraceptivos durante as relações sexuais porque podiam abortar caso engravidassem. Mas há que ter em conta que o aborto é um acto doloroso, contra a natureza e pode ter consequências extremamente negativas para a mulher, tanto a nível físico como psicológico. Logo, só deverá ser permissível em situações extremas em que esteja em causa a felicidade e a integridade da mulher, pois essas é que são as prioridades.

Inês Pedro, 10º C

terça-feira, 8 de junho de 2010

Cartoons filosóficos na Biblioteca

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Encontram-se expostos na Biblioteca da nossa escola vários cartoons, seleccionados pelos autores deste blogue, onde são referidos alguns dos problemas discutidos nas aulas de filosofia do 10º e 11º ano.

Os cartoons da exposição e outros encontram-se disponíveis neste blogue aqui.

sábado, 5 de junho de 2010

Programa do 8º Encontro de Professores de Filosofia

Este ano o 8º Encontro Nacional de Professores de Filosofia  vai ser em Portimão, nos dias 10 e 11 de Setembro. Organização da  Sociedade Portuguesa de Filosofia e da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes.

O Convidado Especial será Stephen Law.

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programa do 8º encontro de professores de filosofia em Portimão

INSCRIÇÕES:

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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Nelson Mandela: o exemplo vale mais do que mil palavras

Nelson Mandela, o longo camiinho para a liberdade Nelson Mandela, long-walk to freedom

Para saber mais sobre Mandela, ver aqui.

A política e a ética podem estar ou não dissociadas. Ler a biografia de Nelson Mandela permite-nos perceber como o reconhecimento - por parte da maioria dos cidadãos sul-africanos - da integridade moral de um governante pode condicionar positivamente o exercício do poder político.

Este líder da África do Sul acreditava, ao contrário do que o filósofo Hobbes defendeu, na bondade humana. Na sua opinião, qualquer homem é, embora possa não o demonstrar, decente do ponto de vista moral. A questão é descobrir um caminho para chegar a essa decência escondida, no caso de algumas pessoas. Esta crença optimista - filosoficamente discutível - justificou o facto de Mandela ao sair da prisão, onde permaneceu vinte e sete anos por contestar o regime, ter ido à procura dos seus maiores inimigos políticos para lhes dizer que os perdoava. Assim, quando o regime segregacionista do apartheid terminou, Mandela apelou à reconciliação nacional. Pediu as vítimas que perdoassem os seus agressores. E deu o exemplo.

Nestes tempos de crise em que vivemos não abundam políticos com a grandeza moral e política de Mandela. Porém, as actuais exigências financeiras que o Estado impõe aos cidadãos, devem levar-nos a tentar compreender não só as ideias que orientam e justificam a actuação política, como também a questionar se estas fazem sentido do ponto de vista moral. Assim, quando os governantes exigem esforços financeiros aos cidadãos, não terão eles próprios que dar o exemplo? Não será este mais eficaz que mil discursos?

Nota: Esta sugestão de leitura para férias dirige-se particularmente aos alunos que, após o visionamento do filme “Invictus” de Clint Eastwood, manifestaram curiosidade em saber mais sobre este líder sul-africano.

Existe uma tradução da biografia escrita pelo próprio Mandela que se encontra esgotada, mas creio que podem encontrar o livro em bibliotecas. Há também a alternativa: ler o livro em Inglês.

Boas leituras!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Quanto mal é necessário?

 criança com epidermólise bolhosa

Criança com epidermólise bolhosa

Se Deus existe e é bom e omnipotente, como explicar a existência de mal no mundo? De modo resumido, esta questão apresenta o chamado problema do mal (veja aqui uma formulação mais extensa e explícita).

Alguns filósofos religiosos, tentando solucionar esse problema, afirmam que caso não existisse mal não conseguíamos reconhecer e apreciar o bem, pois muitas vezes compreendemos e valorizamos as coisas boas comparando-as com as coisas más. Por exemplo: percebemos melhor o valor da democracia se soubermos o que é uma ditadura, damos valor à saúde se soubermos como é difícil estar doente, etc.

Afirmam também que, se o mal não existisse, não teríamos oportunidade de desenvolver o nosso carácter moral, pois se não existissem situações más e difíceis para enfrentarmos não existiriam também virtudes como a coragem, a perseverança ou a generosidade, uma vez que estas são reacções aos problemas e dificuldades que surgem. Dito por outras palavras: num mundo perfeito e sem mal, seriamos pessoas com menos valor.

Mas, mesmo que admitamos que essas afirmações são verdadeiras, isso não dissipa as dúvidas em relação a Deus e não resolve o problema do mal. A existência de algum mal pode ser de facto necessária para apreciarmos o bem e desenvolvermos o nosso carácter moral - mas seria necessário tanto mal para conseguir esses efeitos? Admitamos, por exemplo, que é necessário existirem males como as violações sexuais e as doenças. (Como é evidente, às violações e às doenças poderíamos acrescentar muitas outras coisas: fome, catástrofes naturais, roubos, guerras, etc.) Contudo, não bastaria que fossem violadas pessoas adultas? Um Deus realmente bom desejaria que os efeitos referidos fossem alcançados sem ser necessário que crianças pequenas fossem também violadas e caso fosse realmente omnipotente conseguiria que tal sucedesse.

mãos de criança com epidermólise bolhosa Informacao-Voce-conhece-EB-Os-meninos-borboletas Quanto às doenças, um Deus realmente bom e omnipotente conseguiria certamente dar as lições de vida necessárias sem recorrer a tantas e tão dolorosas enfermidades. Como escreveu James Rachels, “se, por exemplo, o número de pessoas que morrem de cancro por ano fosse reduzido para metade, isso seria ainda suficiente para nos fazer apreciar a saúde. E, com já temos de lidar com o cancro, não precisamos da SIDA, da distrofia muscular, da paralisia cerebral, da espinha bífida, da difteria, do Ébola, das doenças cardíacas, da doença de Alzheimer, da peste bubónica e da epidermólise bolhosa (uma doença de pele genética que provoca bolhas por todo o corpo, de tal forma que o bebé não pode ser agarrado ou mesmo ficar de costas sem sentir dor)” [adaptado, pp. 58 e 60].

A existência desse mal excessivo e desnecessário sugere, portanto, que ou Deus não existe ou existe mas não tem todas as características que lhe são habitualmente atribuídas, nomeadamente a bondade e a omnipotência. Ou não?

 

Bibliografia:

James Rachels, Problemas da Filosofia, Gradiva, Lisboa, 2009.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Dia da Criança: a vida vale a pena

puxar o barco

Os meus filhos não gostam especialmente de poesia, mas não consigo lembrar-me de palavras mais belas e valiosas (estou a evitar a palavra “verdadeiras”, pois a relação entre a arte e verdade encerra problemas que não sei explicar) para lhes oferecer no Dia da Criança que estas de Ferreira Gullar, ontem galardoado com o Prémio Camões. A fotografia, cujo autor desconheço, parece-me uma boa ilustração da ideia principal do poema. Vamos ver se consigo explicar-lhes a ideia, ainda que eles não queiram ler ou ouvir o poema.

DOIS E DOIS: QUATRO

Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena

- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.

Ferreira Gullar, Toda a Poesia, 7ª edição, José Olympio Editor, 1999.

Um presente no Dia da Criança

Para os meus filhos.