sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Sombras minúsculas

Estas palavras sobre a efemeridade da vida humana são impressionantes. Mas o facto de a vida ser breve e incerta tirar-lhe-á o valor e o sentido?

«”O que é a vida? O brilho de um pirilampo na noite. O bafo de um búfalo no Inverno. A sombra minúscula que desliza na relva e se perde no crepúsculo.” – disse o chefe Pé de Corvo, dos índios Blackfoot.»

Truman Capote, A sangue frio, Dom Quixote, Março de 2006, Lisboa, pág. 179.

«Creio que a vida dos homens na Terra, quando comparada aos vastos espaços de tempo de que nada sabemos, se assemelha ao voo de um pássaro que entrou pela janela de uma grande sala onde arde ao centro uma lareira como aquela onde tomas as refeições com os teus conselheiros e vassalos, enquanto lá fora reina a invernia, com as suas chuvas e neves. O pássaro atravessa a sala num ápice e sai pelo lado oposto; vindo do Inverno, a ele regressa, perdendo-se aos teus olhos. Assim também a efémera vida dos homens de que não sabemos o que havia antes e o que vem depois.»

Segundo Marguerite Yourcenar (O Tempo esse grande escultor, Difel, Lisboa, pp. 10-11), estas palavras foram dirigidas por um nobre da Nortúmbria (um dos reinos da Grã Bretanha, no século VII d. C) ao seu rei. Este tinha pedido aos membros do conselho uma opinião acerca do pedido de um missionário cristão para evangelizar o território e esse nobre defendeu que o rei devia autorizar a pregação da nova religião, aparentemente com base no facto de os seres humanos saberem muito pouco.

ampulheta

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