Leibniz é o autor de referência indicado
nas AE para o problema do mal. Leibniz pensava que este é o melhor mundo
possível e não pode ser melhorado, pelo que criou uma teodiceia, isto é, uma
tentativa de mostrar que o mal existente no mundo não é incompatível com a
existência de um Deus omnipotente e bom.
Eis uma das passagens em que esse filósofo defende que Deus criou o melhor mundo que era possível criar.
«89. Pode-se ainda dizer que
Deus como Arquiteto contenta em tudo a Deus como Legislador; e que assim os
pecados devem arrastar o seu castigo com eles pela ordem da natureza, e em
virtude mesmo da estrutura mecânica das coisas; e que da mesma maneira as belas
ações atrairão as suas recompensas por vias maquinais em relação aos corpos;
embora isso não possa e não deva acontecer sempre de imediato.
90. Finalmente, sob este governo
perfeito, não haveria boa Ação sem recompensa nem má sem castigo: e tudo deve
resultar para o bem dos bons, quer dizer, daqueles que não estão descontentes
neste grande Estado, que se confiam à Providência depois de terem feito o seu
dever, e que amam e imitam, como é devido, o Autor de todo o bem,
comprazendo-se na consideração das suas perfeições segundo a natureza do puro
amor verdadeiro, que leva a ter prazer na felicidade daquilo que se ama. É o
que faz trabalhar as pessoas sábias e virtuosas para tudo o que se revela
conforme à vontade divina presuntiva ou antecedente, e não obstante
contentar-se com o que Deus faz acontecer efetivamente pela sua vontade
secreta, consequente e decisiva; reconhecendo que, se pudéssemos entender
bastante a ordem do universo, acharíamos que ela ultrapassa todos os desejos
dos mais sábios, e que é impossível torna-la melhor do que é; não só para o
todo em geral mas também para nós mesmos em particular, se estivermos ligados
como é preciso ao Autor do todo, não só como ao Arquiteto e à causa eficiente
do nosso ser mas também como ao nosso Senhor e à causa Final que deve todo o
fim da nossa vontade, e é o único que pode fazer a nossa felicidade.»
Leibniz, Monadologia, Edições
Colibri, Lisboa, 2016, pp. 63-64.
Pintura: Vincent van Gogh: Às
portas da eternidade.
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