quinta-feira, 23 de abril de 2020

Deus criou o melhor mundo que era possível criar


Leibniz é o autor de referência indicado nas AE para o problema do mal. Leibniz pensava que este é o melhor mundo possível e não pode ser melhorado, pelo que criou uma teodiceia, isto é, uma tentativa de mostrar que o mal existente no mundo não é incompatível com a existência de um Deus omnipotente e bom. 

Eis uma das passagens em que esse filósofo defende que Deus criou o melhor mundo que era possível criar. 

«89. Pode-se ainda dizer que Deus como Arquiteto contenta em tudo a Deus como Legislador; e que assim os pecados devem arrastar o seu castigo com eles pela ordem da natureza, e em virtude mesmo da estrutura mecânica das coisas; e que da mesma maneira as belas ações atrairão as suas recompensas por vias maquinais em relação aos corpos; embora isso não possa e não deva acontecer sempre de imediato.
90. Finalmente, sob este governo perfeito, não haveria boa Ação sem recompensa nem má sem castigo: e tudo deve resultar para o bem dos bons, quer dizer, daqueles que não estão descontentes neste grande Estado, que se confiam à Providência depois de terem feito o seu dever, e que amam e imitam, como é devido, o Autor de todo o bem, comprazendo-se na consideração das suas perfeições segundo a natureza do puro amor verdadeiro, que leva a ter prazer na felicidade daquilo que se ama. É o que faz trabalhar as pessoas sábias e virtuosas para tudo o que se revela conforme à vontade divina presuntiva ou antecedente, e não obstante contentar-se com o que Deus faz acontecer efetivamente pela sua vontade secreta, consequente e decisiva; reconhecendo que, se pudéssemos entender bastante a ordem do universo, acharíamos que ela ultrapassa todos os desejos dos mais sábios, e que é impossível torna-la melhor do que é; não só para o todo em geral mas também para nós mesmos em particular, se estivermos ligados como é preciso ao Autor do todo, não só como ao Arquiteto e à causa eficiente do nosso ser mas também como ao nosso Senhor e à causa Final que deve todo o fim da nossa vontade, e é o único que pode fazer a nossa felicidade.»

Leibniz, Monadologia, Edições Colibri, Lisboa, 2016, pp. 63-64.

Pintura: Vincent van Gogh: Às portas da eternidade.

Sem comentários: