«Iluminismo é a saída do homem da
sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de
se servir do entendimento sem a orientação de outrem. Tal menoridade é por
culpa própria, se a sua causa não residir na carência de entendimento, mas na
falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo, sem a guia de outrem.
Sapere aude! Tem a coragem de te servires do teu próprio entendimento! Eis a
palavra de ordem do Iluminismo.
A preguiça e a cobardia são as
causas de os homens em tão grande parte, após a natureza os ter há muito
libertado do controlo alheio, continuarem, todavia, de bom grado menores
durante toda a vida; e também de a outros se tornar tão fácil assumir-se como
seus tutores. É tão cómodo ser menor. Se eu tiver um livro que tem entendimento
por mim, um diretor espiritual que em vez de mim tem consciência moral, um
médico que por mim decide da dieta, etc., então não preciso de eu próprio me
esforçar. Não me é forçoso pensar, quando posso simplesmente pagar; outros
empreenderão por mim essa tarefa aborrecida. Porque a imensa maioria dos homens
(…) considera a passagem à maioridade difícil e também muito perigosa é que os
tutores de bom grado tomaram a seu cargo a superintendência deles. Depois de
terem, primeiro, embrutecido os seus animais domésticos e evitado
cuidadosamente que estas criaturas pacíficas ousassem dar um passo para fora da
carroça em que as encerraram, mostram-lhes em seguida o perigo que as ameaça,
se tentarem andar sozinhas. Ora, este perigo não é assim tão grande, pois
acabariam por aprender muito bem a andar. Só que um tal exemplo intimida e, em
geral, gera pavor perante todas as tentativas ulteriores.
É, pois, difícil a cada homem
desprender-se da menoridade que para ele se tomou quase uma natureza. Até lhe
ganhou amor e é por agora realmente incapaz de se servir do seu próprio
entendimento, porque nunca se lhe permitiu fazer semelhante tentativa. (…)
Mas é perfeitamente possível que
um público a si mesmo se esclareça. Mais ainda, é quase inevitável, se para tal
lhe for concedida a liberdade.»
Immanuel Kant, Resposta à pergunta: “Que é o Iluminismo?”,
Lusosofia - http://www.lusosofia.net/textos/kant_o_iluminismo_1784.pdf
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