terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Podemos compreender um livro de Filosofia sem o ler até ao fim?

Foi Sócrates quem iniciou na filosofia a reflexão acerca da questão: Como é que devemos viver?

Este livro aborda com enorme clareza alguns dos problemas e das respostas dadas por teorias fundamentais da Filosofia moral a esta questão. É recomendado a todos aqueles que gostam de reflectir e argumentar acerca de problemas que dizem respeito não apenas aos filósofos, mas a todos os homens.

Destaco o interesse, em especial para os alunos do 10º ano, dos capítulos seguintes:

2. O desafio do relativismo cultural.

7. e 8. A abordagem utilitarista e o debate sobre o utilitarismo.

9. Haverá regras morais absolutas?

10. Kant e o respeito pelas pessoas.

11. A ideia de contrato social.

Como o próprio autor diz, no prefácio, acerca dos objectivos com que escreveu este livro:

“Fui guiado pelo seguinte pensamento: Imagine-se alguém que nada sabe a respeito do tema, mas deseja perder uma modesta porção de tempo a aprender. Quais são as primeiras coisas, e as mais importantes, que essa pessoa precisa de aprender? Este livro é a minha resposta a essa pergunta. Não tento abranger todos os temas desta área; nem mesmo tento dizer tudo quanto poderia ser dito sobre os temas tratados. Tento, isso sim, discutir as ideias mais importantes que um principiante deve enfrentar.” (pág. 9)

Os capítulos deste livro são autónomos, cada um deles pode ser lido independentemente dos outros, pois contém os dados necessários à compreensão do assunto em causa, sem que seja necessário ao leitor possuir o conhecimento dos capítulos anteriores.

Um desejo formulado, no prefácio, pelo autor é: “Se este livro for bem sucedido, o leitor ou a leitora aprenderá o suficiente para poder começar a avaliar, por si, para que lado pende a balança da razão”, isto porque “a filosofia, como a própria moralidade, é primeiro que tudo um exercício de racionalidade – as ideias que devem prevalecer são as que tiverem as melhores razões do seu lado.” (pág. 10)

A título de exemplo, cito uma passagem relativa à filosofia política, com uma questão final, colocada pelo autor, para os leitores reflectirem:

“Hobbes (um importante filósofo inglês do século XVII) começa por perguntar como seria se não houvesse regras sociais e nenhum mecanismo comummente aceite para as impor. Imaginemos, se quisermos, que não havia governos – nem leis, polícias ou tribunais. Nesta situação, cada um de nós seria livre de fazer o que quisesse. Hobbes chamou a isto estado de natureza. Como seria isto?

O resultado é, nas palavras de Hobbes, um «estado de guerra constante de um contra todos» (…).

Hobbes não pensava que fosse mera especulação. Sublinhou que isto é o que acontece de facto quando os governos caem, como durante uma insurreição civil. As pessoas começam desesperadamente a armazenar comida, a armar-se e a afastar-se dos vizinhos. O que faria o leitor se amanhã de manhã ao acordar descobrisse que por causa de uma catástrofe o governo tinha caído, não havendo leis, polícia ou tribunais em funcionamento?” (págs. 204 e 206)

Nota: As citações foram retiradas partir de James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Lisboa, 2004, Colecção Filosofia Aberta Edições Gradiva.

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