QUARENTENA
Na
pior hora da pior estação
do
pior ano de todo um povo
um
homem saiu do albergue com a mulher
e
caminhou- caminharam os dois - para norte.
Ela
estava doente com a febre da fome e não o conseguia acompanhar.
Ele
levantou-a e colocou-a às costas.
E
caminhou assim para oeste, para oeste e para norte,
até
ao anoitecer, sob as estrelas geladas.
De
manhã, os dois foram encontrados mortos.
De
frio. De fome. Das toxinas de toda uma história.
Mas
os pés dela apoiavam-se no esterno dele.
O
último calor da sua carne foi o último presente para ela.
Que
nenhum poema de amor jamais chegue a este limite.
Não
há aqui lugar aqui para o impreciso
louvor
da elegância e da sensualidade do corpo.
Apenas
tempo para este inventário impiedoso:
A
sua morte no inverno de 1847.
O
que sofreram. E como viveram.
E
o que existe entre um homem e uma mulher.
E
em que escuridão se pode ver melhor.
Eavan Boland e Dorothea Lange
Eavan Boland foi uma poeta irlandesa: 1944-2020.
A tradução é de Jorge de Sousa Braga.
Dorothea Lange foi uma fotógrafa
norte-americana, que na década de 30 do século XX fotografou camponeses e
outras pessoas pobres para documentar os efeitos da Grande Depressão. É autora
de uma das mais célebres fotografias da história: “Mãe Migrante”, de 1936.
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