segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Viver e nada mais talvez seja pouco

“Quando chegámos a África [vindos do norte da Índia], ninguém saberia dizer-me. O que não admira, não éramos gente que se preocupasse com essas coisas. Limitávamo-nos a viver, viver e nada mais; fazíamos o que se esperava que fizéssemos, o que as gerações anteriores tinham feito. Nunca perguntávamos porquê; nunca escrevemos a nossa história. (…)

Na nossa casa nunca houve uma discussão política. Não eram tolos ou ingénuos os meus familiares. O meu pai e os irmãos dele eram comerciantes, negociantes; à sua maneira tinham de se adaptar às mudanças dos tempos. Eram capazes de avaliar situações; corriam riscos e por vezes mostravam-se mesmo audaciosos. Mas estavam tão profundamente envolvidos nas suas vidas que nunca seriam capazes de parar para examinar a natureza dessas vidas.”

V.S. Naipaul, A curva do rio, Quetzal, Lisboa, 2011, pp. 21-22 e 28.

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