Este texto aponta bem, apesar de certas imprecisões, alguns danos que os maus manuais podem provocar na aprendizagem das crianças. O efeito pode ser semelhante no caso dos adolescentes, principalmente se o professor não conseguir distinguir aquilo que ensina dos erros do manual e não os souber corrigir.
«Os adultos, pelo menos aqueles que tiveram uma formação científica, sabem que o saber é questionável e que devem estar sempre preparados para reformular as suas ideias. Mas a relativização do saber é uma operação conceptual complexa à qual só se chega convenientemente se se começar por construir um laço de confiança com o saber (o que implica um laço de confiança com as instituições, com as pessoas e com os instrumentos ligados à aprendizagem). Isto porque é justamente a partir do saber e com saber que se pode pôr em causa o saber.
A escrita de um manual é por isso um ato complexo e de grande responsabilidade – está em causa a criação desse laço de confiança – que tem de resultar de um conhecimento razoavelmente vasto das temáticas abordadas. Estas têm de ser trabalhadas de forma a poderem ser apresentadas numa linguagem e numa lógica formal compatível com a idade dos estudantes, mas sem que isso as afaste da justeza do conhecimento que esteve na base desse processo. Se uma criança conclui que o seu livro está errado, fica com uma grande margem de manobra para nos dizer: “Não estudo, porque esse livro é uma porcaria. Só diz parvoíces.” E é exatamente isso que por vezes acontece.»
Filomena Silvano, Livros de escola, crianças e a necessária confiança no saber, Público, 09-07-2014.
Ao contrário do que diz Filomena Silvano, reformular ideias e questionar o saber não significa uma “relativização do saber”: a falibilidade não implica falta de objetividade. Além disso, não é apenas a “formação científica” que confere capacidade de reformular ideias e pensar criticamente, uma vez que a filosofia também pode contribuir para isso. Tal como a literatura e as outras artes.
Tirando isso, concordo com o texto. E é com tristeza que constato que vários manuais de Filosofia, devido às suas incorreções e linguagem vaga e obscura, podem levar os alunos a dizer “Não estudo, porque esse livro é uma porcaria: só diz parvoíces.”
Os alunos poderiam até acrescentar: se estudar por este manual terei respostas erradas no exame nacional de Filosofia.
Felizmente não é o caso dos livros de Filosofia que escolhemos na Pinheiro e Rosa: o 50 Lições de Filosofia -10º ano e o 50 Lições de Filosofia -11º ano, de Aires Almeida e Desidério Murcho.
Estes livros são simultaneamente rigorosos, claros e estimulantes para os alunos, conforme podemos verificar ao longo deste ano.
Esta opinião pode ser testada através de uma experiência simples. Caso o leitor conheça algum jovem que afirma não conseguir perceber o que é dito no seu manual de Filosofia, leve-o a uma livraria e peça-lhe para ler duas ou três páginas do 50 Lições de Filosofia e duas ou três páginas do capítulo equivalente do outro manual. Certifique-se que a leitura é atenta e verá que o veredito do jovem coincide com a minha opinião.
Devido à sua importância para a construção das aulas e para o estudo dos alunos, a qualidade dos manuais adotados é um fator que deve ser ponderado na hora de escolher a escola que se vai frequentar.
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