sábado, 2 de outubro de 2010

Teste intermédio de Filosofia para o 10º ano

Parece que este ano haverá teste intermédio de Filosofia no 10º ano, presumivelmente tendo em vista a realização do exame nacional de Filosofia no 11º ano (como prova específica de ingresso na Universidade e, infelizmente, sem carácter obrigatório).

Trata-de de uma boa notícia, mas registo duas preocupações: os tópicos do programa sobre os quais incidirá o teste são muito vagos e os diversos manuais de Filosofia interpretam-nos de modos muito diversos; é suposto o teste intermédio ser realizado por todos os alunos ou apenas por aqueles que estão interessados em fazer o exame de Filosofia como prova específica?

Indicações acerca do teste intermédio de Filosofia do 10º

8 comentários:

Carlos Café disse...

Partilho das tuas preocupações, Sara. Quanto aos manuais, é preciso acrescentar que são apenas opções de abordagem possíveis. O professor pode perfeitamente não submeter as suas aulas às orientações do manual. É o meu caso, não obstante o manual adoptado na minha escola ser muito bom. Os manuais existem para os alunos, o programa para os professores. Reduzir o programa, seja ele qual for, aos manuais concebidos para o aplicar é um erro. Voltando ao teste intermédio: tenho sérias dúvidas de que, à data indicada, todos os conteúdos indicados estejam leccionados e consolidados. O que levanta um problema de opção pedagógica de fundo: respeitar os ritmos de aprendizagem dos alunos ou acelerar as coisas a pensar no teste intermédio? Pessoalmente, se vier a ser o caso, excluirei a segunda hipótese.
Saudações filosóficas

Sara Raposo disse...

Olá:
Quando me referi aos manuais não estava a pensar naquilo que referiste: o professor pode leccionar os conteúdo programáticos, independentemente do tipo de abordagem efectuada pelo manual adoptado na sua escola, que não é obrigado a seguir à letra. Ok, estamos de acordo.

O problema é outro: a vagueza do programa de Filosofia, a ambiguidade de alguns dos títulos programa que admitem múltiplas interpretações e uma diversidade de teorias a propósito dos mesmos tópicos. Veja-se o caso da estética no 10º ano, tal como um dos nossos colegas mostrou no 8º encontro dos professores de Filosofia.

Outro problema prende-se com alguns erros científicos presentes em vários manuais quando se aborda, por exemplo a Lógica.

A elaboração de um exame nacional, sem directrizes específicas que abarquem os diferentes tipos de abordagens e teorias dos vários manuais adoptados, coloca alguns problemas que é necessário considerar para que se possa garantir critérios de avaliação cientificamente rigorosos e uma aplicação destes que seja objectiva e justa para todos os alunos.

Quanto à dificuldade em gerir os conteúdos referidos como obrigatórios no tempo dado, implicará de certo fazer opções na gestão temporal. Mas mesmo assim não deixará de ser difícil leccionar; convenientemente, os conteúdos até Kant e Stuart Mill.
A questão é que para alguns alunos - no caso do exame de Filosofia vir a ser uma prova específica de acesso (o que não foi ainda dito pelo Ministério) para certos cursos (o que não sabemos) na universidade - fazer o teste intermédio pode ser uma forma importante de testarem as suas aprendizagens e se prepararem melhor para o exame no final do 11º ano, que poderá ter o peso de 50% para o acesso a determinados cursos superiores.

Apesar do que disse atrás, estou de facto satisfeita com esta alteração. Penso que a avaliação externa – com a existência de exames nacionais - do trabalho dos professores é uma forma efectiva de melhorar a qualidade do ensino e das aprendizagens dos alunos. Contudo, gostava que em relação à implementação deste exame não se cometessem os erros e as trapalhadas anteriores que levaram, inexplicavelmente (sem que tenha sido dada uma explicação do Ministério e das entidades responsáveis) à extinção do exame de Filosofia há alguns anos atrás. Julgo que todo esse processo contribuiu bastante para descredibilizar o ensino da Filosofia. Muitos professores de Filosofia - ao constarem aliviados a extinção do exame nacional - não perceberam que estavam a dar tiros nos seus próprios pés.

Bem, acho que já me alonguei demasiado.

Cumprimentos filosóficos.

Carlos Café disse...

Olá mais uma vez.
O meu comentário sobre as relações dos professores com os manuais visava o amplo auditório que visita o vosso excelente blogue, não os seus autores, naturalmente.
Também considero que a existência de exames nacionais e intermédios é bom e que a decisão de os abolir foi má, independentemente das explicações que vierem a ser dadas para esse facto.
Sobre os tiros nos pés, infelizmente é o que vai acontecendo. Mais ou menos alegremente, assobiando para o lado... Até quando?
Saudações filosóficas

F. Pinheiro disse...

Boa tarde

A introdução de exames nacionais na disciplina de Filosofia não pode deixar de ser uma boa medida. Nas disciplinas onde existem exames nacionais, o empenhamento dos alunos é claramente superior; por outro lado, a pressão sobre os professores para que atribuam boas notas não é tão elevada.
Além disso, em algumas escolas, as disciplinas onde não existe exame nacional são desvalorizadas, por exemplo, são obrigadas a ceder parte das suas aulas para abordar questões relacionadas com a educação sexual.
Partilho, também, de algumas preocupações já aqui referidas. Nesta medida, considero que o programa devia ser objecto de alguns acertos, caso contrário, corre-se o risco de uma boa medida poder vir a contribuir para o descrédito do ensino da Filosofia. Assim, seria vantajoso associar alguns conteúdos a determinados autores para garantir uma certa objectividade na leccionação da disciplina. Por outro lado, talvez não fosse má ideia introduzir no programa a leitura obrigatória de uma obra de um autor, ou então, um capítulo ou capítulos de alguma obra. Se não houver acertos no programa de Filosofia, então, corremos o risco de diferentes professores construirem currículos demasiado dispares o que, certamente, irá contribuir para o descrédito do ensino da Filosofia.

F. Pinheiro

Sara Raposo disse...

Olá Fernando:

Obrigada pelo teu contributo e pelas sugestões.

Entre aquilo que me causa espanto está a atitude dos próprios professores de Filosofia que, embora tenham, supostamente, um papel a desempenhar no desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos, é raro manifestarem os seus pontos de vista, mesmo quando está em causa algo crucial - como penso que é aqui o caso. É evidente que não estou a referir-me ao facto de não o fazerem neste blogue (aqui sou parte interessada), mas sim ao facto de verificar que a maioria não o faz também publicamente noutros blogues de Filosofia ou noutros locais.

Será que não percebem que, à semelhança de outras disciplinas é preciso tornar credível - com provas públicas - o ensino da disciplina que leccionam?

Atrevo-me a conjecturar que o facto de cada um viver auto-centrado ou à volta da sua capelinha pode trazer a longo (ou será curto?) consequências negativas para todos.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Estou quase a entrar na leccionação das teorias sobre determinismo e livre arbítrio. E agora pergunta-se dar ou não dar a teoria de J. Searl? Claro que não está explicitamente referido no Programa, porém, de acordo com o passado as célebres Orientações apontavam para aí.Isto é grave.

Sara Raposo disse...

Caro anónimo:

Na minha opinião as orientações de gestão do programa são melhores que o programa de Filosofia, sobretudo, pela clareza e rigor que introduzem em relação à leccionação de certos temas. Estes últimos são, como se pode ver em muitos manuais, interpretados de forma diferente e com vagueza, o que torna difícil a uniformidade e a objectividade pressupostos num exame a nível nacional.

Cumprimentos. Na próxima vez agradeço que se identifique. Obrigada.

Ana Cardoso disse...

Olá, boa tarde.
Sou uma aluna de 10ºano.
Enquanto estudava decidi ir á internet procurar alguns documentos de Fiosofia e encontrei este blog que achei bastante interessante, pois tem muitos post's que complementam o meu estudo.
Voltanto ao assunto que se está a tratar, que é o teste intermédio nacional de filosofia, tenho a dizer, que na minha opinião a filosofia não é uma ciência concreta em certos temas, e que nesses temas temos que pensar com o coração. Eu acho que no teste intermédio vai ser um pouco dificil de tal acontecer, pois irá ser um teste bastante concreto.
Eu acho que os grandes filosofos pensavam pelo coração,e neste teste, nós estaremos a fazer mais uma prova de conhecimentos sobre filosofia do que propriamente a filosofar. Pois tal como me foi ensinado todos os homens são filosofos, mas alguns sao conhecidos pelas suas ideias ou ideais.