Não contei os manuais escolares propostos para o 11º ano que me chegaram às mãos, mas foram muitos (mais de uma dúzia, julgo). Há de tudo: maus, sofríveis, razoáveis, bons e muito bons.
Não me vou dar aos trabalho de identificá-los a todos e de justificar os adjetivos usados. Quero apenas destacar os cinco que considero melhores.
Esses cinco manuais, embora de maneiras diferentes, fornecem instrumentos de trabalho bem concebidos e diversificados que ajudarão os alunos a estudar melhor e auxiliarão os professores a preparar as aulas, a fazer testes, fichas, guiões de filmes, etc. E todos, embora de maneiras diferentes, apostam nas novas tecnologias, em grafismos apelativos, na interação com os professores, etc.
Contudo, isso não é o mais importante. O mais importante é que, embora com estilos diferentes, apresentam corretamente a filosofia aos alunos: como uma discussão crítica de problemas, onde o próprio aluno é chamado a intervir e argumentar, e não como um discurso dogmático. Conseguem, além disso, um equilíbrio entre o rigor filosófico e a clareza e simplicidade, que é indispensável num livro destinado a adolescentes.
Nem todos os alunos que estudarem por esses manuais irão gostar de filosofia, mas dificilmente irão desprezá-la. Ora, é isso que sucede quando os alunos têm manuais que dizem asneiras (por exemplo: “o argumento dedutivo consiste em extrair uma conclusão particular e desconhecida de premissas gerais e conhecidas”) ou apresentam discursos vagos e pastosos (por exemplo: “Neste mundo enriquecido pela diversidade dos possíveis, as velhas dicotomias entre o certo e o errado, o belo e o feio, o verdadeiro e o falso, as razões e as paixões, não resolvem os problemas; fala-se mais de respeito pelo outro, de gosto situado, de verdades prováveis, de inteligência emocional. A rigidez da verdade deu lugar à plasticidade. A imaginação inteligente cria novas leituras.”).
Não há razão nenhuma para os professores escolherem manuais que reduzem a filosofia a uma caricatura. Os bons manuais, como é o caso destes cinco, são mais fáceis de usar que os outros. São mais fáceis para os alunos e para os próprios professores, mesmo que estes não estejam habituados à abordagem da filosofia proposta pelo manual. Se esses professores experimentarem verão que os resultados – melhores aulas, melhores aprendizagens – justificam largamente a mudança.
Pelos motivos indicados, acentuei algumas semelhanças entre estes cinco manuais, mas isso não significa que não sejam bastante diferentes em muitos aspetos. Os professores de filosofia portugueses têm, portanto, a sorte de poder escolher entre cinco projetos diferentes de grande qualidade.
Embora todos os cinco manuais sejam bons, julgo que há um que consegue ser ainda melhor que os outros. Depois de conversar com os meus colegas de grupo direi qual é.
Esses cinco manuais são:
50 Lições de Filosofia – 11º ano, de Aires Almeida e Desidério Murcho, Didáctica Editora.
Cogito -11º, de Paula Mateus, Pedro Galvão, Ricardo Santos e Teresa Cristóvão, Asa.
Como pensar tudo isto?, de Domingos Faria, Luís Veríssimo e Rolanda Almeida, Sebenta.
Desafios – 11º, de Faustino Vaz e Marta Brites, Santillana.
Filosofia – 11º ano, de Luís Rodrigues, Plátano Editora.
9 comentários:
Pela nossa parte, muito obrigado pelo vosso reconhecimento.focaram os pontos essenciais que foram a nossa linha de trabalho.
No que me diz respeito agradecido por estra em tão boa companhia.
Concordo com a seleção apresentada. Deixando somente 2, ficaria com o 50 Lições e Como pensar tudo isto? Bom,ambos ótimos manuais... e querendo ser politicamente correto escolheria os 2. Não obstante, escolherei o 50 Lições... sendo que irei haurir em Como pensar tudo isto? O oposto verificar-se-ia também. Parabéns ao 5 citados.
O 50 lições é claramente o que se destaca
Estes cinco manuais são realmente os melhores. Os dois melhores são, na minha opinião, o 50 Lições e o Como pensar tudo isto?
Desses dois escolho o 50 Lições pois é mais claro para os alunos.
Também devia haver um Top dos piores manuais.
A segunda citação feita é do Ousar saber – um manual horrível. A primeira citação não consegui localizar, mas candidatos não faltam.
Como é possível continuar a dizer que os raciocínios dedutivos vão do geral para o particular? Há raciocínios dedutivos que vão do particular para o particular e outros vão do geral para o geral.
Começo por estranhar que em matéria tão polémica se assista a tão grande unanimidade. Pela minha parte, escolhi o Clube das Ideias (Areal Editores). É um ótimo manual, pelo que estranho não o ver incluído na lista do Carlos Pires. Li-o com bastante atenção e não encontrei um único erro (não li a parte referente à Lógica Aristotélica). Apresenta bons textos e são bons os demais materiais sugeridos. Faz uma exploração do Programa adequada ao Ensino Secundário.
Gostaria de perguntar à Maria Lopes por que considera o Ousar Saber um manual horrível. Quanto a mim achei-o um pouco extenso e, em certos momentos, um pouco difícil de ler. No entanto, muito mais rico em textos e na oferta de fichas de pensamento crítico. Cumprimentos
Os manuais que citados são de facto bons, mas o manual Ousar Saber está longe de ser um manual horrível. Pelo contrário, será talvez um dos melhores e mais originais manuais que já se fizeram em Portugal. Saudações à dúvida metódica.
O que melhoraria o manual «50 Lições»:
1- a distinção entre argumentação e demonstração;
2- mais variedade no «Tema/Problema da cultura científico-tecnológica»;
3- «A filosofia na cidade» constar da «Unidade final».
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