Imagem do Filme O apedrejamento de Soraya M.
Num teste realizado em Fevereiro perguntei aos alunos qual é a teoria mais plausível relativamente ao problema da objetividade dos juízos morais. Duas das melhores respostas foram dadas pelo Leonard Sá, que defendeu o Objetivismo Moral, e pelo Xavier Diaz, que defendeu o Subjetivismo Moral. Ei-las.
O problema da objetividade dos juízos morais pode formular-se assim: há juízos de valor morais objetivos ou todos os juízos de valor morais são ou subjetivos ou culturalmente relativos?
Nas aulas estudámos três teorias: o Subjetivismo Moral (SM), o Relativismo Cultural (RC) e o Objetivismo Moral (OM).
O SM defende que todos os juízos de valor são subjetivos, pois são reflexos dos gostos e preferências de cada pessoa. Como isso depende do individuo, não há, segundo esta teoria, pessoas que estejam erradas (a menos que não sejam sinceras), e nenhuma pessoa tem mais razão que as outras.
O RC afirma que todos os juízos de valor são culturalmente relativos, pois são relativos às sociedades e não existe nenhuma sociedade mais correta ou errada que outra. Alguém só pode estar errado se os juízos de valor em que acredita forem diferentes daqueles que são aceites pela sociedade a que pertence.
Por último, o OM diz que alguns, não todos, juízos de valor são objetivos. Ou seja, se um juízo de valor verdadeiro for x e alguém afirmar y, então, independentemente da sua sociedade e/ou gostos, está errada, e só está correta, se e só se afirmar x.
Das três teorias a que me parece mais plausível é o OM.
Não acho que o SM esteja correto devido a várias razões:
Os Subjetivistas afirmam que não existem meios objetivos de resolver conflitos de valores, ou seja, quando alguém diz que um juízo de valor está correto e outro individuo diz que esse mesmo juízo de valor está errado, não parece haver uma maneira objetiva de dizer quem tem razão, ao contrário do conflito de juízos de facto em que basta estudar cuidadosamente os factos. Logo, o SM está correto.
Uma objeção a este argumento, é que existem maneiras objetivas de resolver os conflitos de valores (isto não quer dizer que se pode resolver objetivamente todos os conflitos, só alguns). Imaginemos a seguinte situação: iria ser votada uma lei que beneficiava os homens e prejudicava as mulheres. Se cada pessoa pensasse apenas nos seus interesses, os homens iriam votar a favor e as mulheres iriam votar contra, por as prejudicar. Partindo do princípio que existia o mesmo número de homens e mulheres, chegar-se-ia a um impasse. Os Subjetivistas pensam que é inevitável que isto aconteça: não há maneira objetiva de resolver este conflito. Mas, se os votantes atuassem sob um véu de ignorância, ou seja, se não soubessem se a seguir à votação seriam homens ou mulheres, para não arriscarem a serem prejudicados (ou seja, não iriam pensar nos seus gostos e preferências), iriam todos votar contra. Parece então que existem maneiras objetivas de resolver conflitos de valores. Logo este argumento baseia-se numa premissa falsa.
Outro argumento que os Subjetivistas invocam é que os juízos de valor são subjetivos porque existem discordâncias em relação a estes.
Ora, isto é claramente uma mentira pois há juízos de valor consensuais. Além disso, vejamos os juízos de facto. Embora também exista discordâncias em relação a estes tipos de juízo, sabe-se que um está certo e outro errado, embora, às vezes, não se saiba qual é que está correto. Então porque é que não pode acontecer o mesmo com os juízos de valor? Mesmo com discordâncias, pode haver um que esteja certo e outro errado, independentemente dos gostos de cada pessoa.
Como tal, penso que o SM está errado.
Passemos ao RC. Não concordo com esta teoria por vários motivos:
Os Relativistas afirmam que se não aceitarmos os costumes da outra sociedade, não estamos a aceitar o relativismo dos valores, e como tal, estaremos a ser etnocêntricos (ou seja, achar que a nossa sociedade é melhor que as outras) e intolerantes. Como não devemos ser intolerantes, dizem os Relativistas, devemos aceitar o relativismo dos valores e consequentemente aceitar o RC.
Mas será que devemos aceitar todos os costumes e práticas, simplesmente por serem de outra sociedade? E será que caso não o façamos, estaremos a ser intolerantes? Eu penso que não é certo aceitar práticas que tragam dor e sofrimento a outras pessoas, pois apesar de pertencerem a outras sociedades, continuam a ser humanos. Existem sociedades que têm práticas intolerantes. Será que devemos aceitar essas práticas? Os Relativistas dizem que sim, ou então seremos intolerantes. Mas, então estaremos a tolerar a intolerância, o que é contraditório e vai contra o que o RC afirma. Finalmente, não acho que o facto de questionarmos um costume signifique que estamos a afirmar que a nossa sociedade é superior às outras e que estamos a ser intolerantes. A crítica e discussão de costumes e práticas, se feita de forma civilizada, pode levar à compreensão, e a compreensão pode levar à tolerância. Ou seja, aquilo a que os Relativistas chamam de intolerância (e que não o é, na verdade), pode levar, afinal de contas, à tolerância.
Outra objeção ao RC está relacionada com o facto de as sociedades não serem homogéneas. Se dentro de uma sociedade existem práticas, costumes, crenças, etc. diferentes, como podemos afirmar que segundo esta sociedade isto ou aquilo está certo/errado, quando só parte dela (mesmo que seja a maioria) é que a defende? Além disso, se uma pessoa for criada em contacto com duas ou mais sociedades, como é que vai saber segundo qual é que deve viver e qual é a melhor sociedade? Só poderá saber se existirem juízos de valor objetivos.
Sobra-me então o OM, que eu penso que é o mais plausível.
Vejamos a seguinte pergunta: Será que a crença que os juízos de valor são subjetivos/relativos é subjetiva/relativa? Se a resposta for sim, então ambas teorias podem estar corretas para uns e erradas para outros, dependendo dos gostos (no caso do SM) ou da sociedade (no caso do RC), e isso não faz sentido, pois uma teoria ou está certa para todos ou para ninguém. Se a resposta for não, então esse juízo de valor é objetivo.
Anteriormente, referi que os Relativistas afirmam que não devemos ser intolerantes. Se o juízo de valor “devemos ser tolerantes” fosse relativo apenas às sociedades, seria aceitável que outras sociedades fossem intolerantes. É óbvio que isto é mentira, e é assim, porque este juízo de valor é objetivo, todos devemos ser tolerantes, independentemente da sociedade a que pertencemos (mas isto não quer dizer que caso questionemos um costume sejamos intolerantes ou que devemos aceitar tudo, como já referi previamente).
Parece então que existem juízos de valor objetivos e que o OM está correto.
Leonard Sá, 10º B.
Das três teses relativas à objetividade ou subjetividade dos juízos de valor morais, eu defendo a do Subjetivismo Moral pois penso que os juízos de valor morais variam de acordo com o individuo.
O Objetivismo Moral dita que estes juízos de valor são objetivos, mas, se assim for, como é que podemos diferenciar um determinado juízo de valor que é certo de outro que é errado? O que se discute na Ética são ideias e essas mesmas ideias vão variar de pessoa para pessoa e não vai haver um fundamento teórico-científico quando se diz, por exemplo, “Matar é certo” para sabermos se, de facto, este juízo de valor está correto ou errado, contrariamente ao que sucede quando se afirma “A água é composta por H2O”. Com efeito, o facto de ser certo ou errado matar vai depender nas nossas próprias emoções e convicções e não de um facto ou de uma fórmula matemática qualquer, ou seja, não vai haver um “critério” que nos diga com certeza absoluta que determinado juízo de valor seja certo.
Outro argumento possível seria: Como se resolvem os conflitos de valor se estes são objetivos? Porque se fossem verdadeiramente objetivos não deveria haver tanta contrariedade ao solucioná-los. É verdade que certos conflitos podem ser resolvidos fazendo um simples exercício mental nas condições em estejamos num véu de ignorância e em que sejamos imparciais; no entanto, estes exercícios mentais geralmente resultam apenas em conflitos de valor razoavelmente simples e na maior parte dos casos as situações não são assim tão fáceis e lineares. Um bom exemplo disso é o problema do aborto: será este moralmente correto? Mesmo fazendo um exercício mental que nos faça estar sob um véu de ignorância e ser imparciais, como diz o Objetivismo Moral, ainda assim há discordâncias ao resolver este problema. Portanto, se os juízos de valor são mesmo objetivos, porque não sabemos que escolha estará certa neste caso?
Outro problema com o Objetivismo Moral é que este alega que os juízos de valores são objetivos na medida em que são imparciais. Daí os exercícios mentais como forma para resolver os conflitos de valores, visto que estes requerem que sejamos imparciais. Mas quão imparcial pode uma pessoa ser? Porque todas as pessoas são influenciadas por determinados fatores nos quais não possuem qualquer controlo, tal como por exemplo: fatores genéticos, psicológicos, sociais, entre muitos outros. E estes fatores influenciam como um individuo age, pensa e interage, tanto conscientemente como inconscientemente, e isso vai tornar esse mesmo individuo parcial. Ora, isso acontece com todos nós, ou seja, ninguém é verdadeiramente imparcial, ou pelo menos cem por cento imparcial. Um exemplo real poderiam ser os juízes que trabalham num tribunal, em vários casos diferentes mas do mesmo género (exemplo: abusos infantis): certos juízes dão uma sentença mais severa do que outros pois estes são afetados inconscientemente pelo caso, o que os vai levar a deliberar uma sentença mais severa ou mais benevolente. Se as pessoas que supostamente devem ser cem por cento imparciais para que haja justiça são incapazes de tal, então muito menos será um cidadão regular. Logo, se as pessoas não são capazes de serem totalmente imparciais, então como podem os seus juízos de valor serem objetivos?
Devido aos argumentos apresentados penso que o Objetivismo Moral é uma tese defeituosa e considero o Subjetivismo Moral a tese mais correta e mais apropriada à realidade.
Xavier Diaz, 10º B.
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